domingo, 22 de junho de 2014

MAIS UMA CRÓNICA DE OPINIÃO AO SÁBADO NO SEMANÁRIO «NOTÍCIAS DE ESPOSENDE»


A SAÚDE [A NORTE] ESTÁ… DOENTE
O DESINVESTIMENTO NESTA ÁREA TEM SIDO TÃO GRANDE QUE COMEÇA A PÔR EM CAUSA A QUALIDADE DE ATENDIMENTO DOS DOENTES!
A imprensa escrita de hoje, dá-nos a conhecer em pormenor as razões apresentadas pelos responsáveis do Hospital de S. João para a sua demissão em bloco. Desde a administração às direções e às chefias, num total superior a sessenta dirigentes, apresentaram a demissão, por, segundo os próprios discordarem frontalmente das políticas da saúde, do desinvestimento e da descriminação a que esta unidade de saúde do norte tem sido tratada. De entre as muitas queixas conhecidas, salientem-se a incompreensível perda de valências, classificadas como excelentes, a proibição de contratar pessoal para áreas onde o mesmo se mostra essencial, a não renovação de materiais e equipamentos e ainda a descriminação nos pagamentos comparativamente com hospitais equivalentes de Lisboa.
Esta notícia é muito preocupante para todos os portugueses, mas em especial para todo o norte do país, pois como sabemos trata-se de um dos principais Hospitais do norte que serve a população desta vasta área, de Bragança a Valença e até ao centro do país.
Que fique claro que sou de opinião que os custos com a saúde, como aliás todos os outros nas mais diversas áreas, devem ser controlados que as despesas tem que ser devidamente priorizadas, que as unidades de saúde devem ser eficientes e que a tutela deve exigir rigor na gestão e na direção das unidades do Serviço Nacional de Saúde.
Há um trabalho de reconhecido mérito nesta área que tem sido desenvolvido pelo governo, como é caso disso a própria política dos medicamentos genéricos, com significativos ganhos para os doentes e poupança para o Estado. Os profissionais de saúde são pessoas que tem demonstrado uma enorme coragem e uma grande resistência às adversidades e que o seu trabalho tem sido heróico na defesa dos doentes e dos utentes.
Tenho que deixar aqui uma mensagem de louvor a todos, ou pelo menos à sua grande maioria, dos profissionais de saúde, desde o pessoal médico, de enfermagem, dirigentes, auxiliares e demais colaboradores, pela forma tão profissional, empenhada e humana como nos atendem diariamente e como tratam as milhares de pessoas que ai se deslocam ou que ai se encontram em tratamento e convalescença.
O doente é logo à partida, pela sua frágil condição uma pessoa que necessita de especial atenção e cuidados e que espera ser atendido e tratado com humanismo por alguém que lhe dê esperança e alegria de viver.
Acontece é que se não lhes forem dadas as condições indispensáveis, como parece ser o caso em apreço, estes profissionais, por muito que se esforcem sentem que podem ficar aquém daquilo que desejam, para prestar um serviço de qualidade.
É importante que o governo não olhe para o dinheiro aplicado no funcionamento do Serviço Nacional de Saúde como um custo, mas sim como um investimento; Investimento na prevenção, tão desejável e importante, no tratamento e na cura dos doentes, potenciando poupanças noutras áreas, como as baixas médicas, os fármacos e a própria improdutividade e ineficiência nas empresas, nas instituições e por consequência no país.
Um Serviço Nacional de Saúde devidamente organizado e bem equipado, que conta com excelentes especialistas e profissionais, com provas dadas à escala nacional e mundial, contribui e muito para o sucesso do país: Pessoas saudáveis são pessoas felizes, que contribuem para um país em constante desenvolvimento e que proporciona aos seus cidadãos qualidade de vida.
Ainda ontem, sexta-feira, dia 20, vivi uma experiência caricata, precisamente numa grande unidade de saúde pública do norte, onde me dirigi a acompanhar uma pessoa para a realização de um exame na especialidade de medicina nuclear. Chegamos a horas, ou seja, meia hora antes da hora marcada para o exame, como acho que deve ser, pois o utente é quem tem a obrigação de esperar pelo médico e nunca o contrário e aconteceu o inesperado. À hora da consulta/exame, fomos informados pela administrativa, que azar dos azares a máquina acabara de avariar.
Explicou-nos, muito solícita, que iam tentar proceder à reparação da máquina. Mais fez questão de explicar que a dita máquina ia ser reparada à distância, ou seja por via informática, por um técnico que se encontrava em… Lisboa!
Bom, logo começamos a desconfiar se não iria ser uma manhã perdida. Todos nos interrogamos se no norte, por perto não existiria nenhum técnico qualificado para ali se deslocar e proceder à reparação do referido «maquinão». Estou certo que no Porto não faltam técnicos capazes, estou é convencido que estas situações se prendem com… burocracias, definidas a partir de… gabinetes.
Não nos restou outra alternativa que não fosse esperar, com toda a calma, que o tal técnico de Lisboa tivesse sucesso na sua intervenção, para que os utentes que aguardavam a realização dos exames os viessem a fazer, evitando nova deslocação e todos os constrangimentos que dai advém, em especial a rapidez, porque como sabemos em saúde um dos principais fatores que pode jogar a favor do paciente e do sucesso do profissional é precisamente a rapidez, seja na identificação, despiste, deteção ou tratamento de uma doença.
Entretanto fomos assistindo a uma série de telefonemas realizados pela administrativa da secção a ligar para os utentes que tinham exames marcados para horas subsequentes para a mesma máquina, agora «doente», para que não viessem uma vez que a máquina estava avariada e o exame não era possível. Muito bem, evitando deslocações, gastos desnecessários e perdas de tempo.
Com tudo isto, na sala reinava a calma mas também o desejo e a esperança de que a qualquer momento chegasse a notícia do “ok” da máquina.
Passadas mais de 2 horas, sem que ninguém tivesse sido chamado, lá veio a simpática senhora pedir desculpas e informar que a «maleita» afinal carecia de tratamento mais prolongado e que por isso deveríamos ir embora e aguardar por nova marcação. Tudo bem, não fosse a senhora, já na despedida ter soltada a seguinte frase “da última vez que avariou, estivemos sem máquina mais de um mês”. Isto sim deixou-nos a todos muito apreensivos. Acredito e espero que em breve todos sejam chamados e a máquina lá fará o seu trabalho, para descanso dos que dela precisam.
Embora tivesse pensado versar sobre um outro tema da atualidade, o facto de ver as notícias das demissões no S. João e encontrando-me eu num outro Hospital da invicta também com nome de Santo, levou-me a mudar o teor desta crónica e a deixar aqui as minhas preocupações e o meu próprio testemunho de hoje, na expectativa de que a saúde dos portugueses seja olhada como uma prioridade nacional, que o norte não seja descriminado e que o SNS seja uma mais valia para um país que se quer moderno e com índices que se equiparem aos dos países mais desenvolvidos.
Um palavra de especial apreço para todos os profissionais de saúde, porque sente-se clara e inequivocamente que apesar das adversidades e constrangimentos vários, como os apontados pelos responsáveis do S. João e pelo que eu próprio testemunhei, dão o seu melhor em prol dos seus utentes, doentes e pacientes!
E porque acabei por dedicar esta minha crónica à SAÚDE, amanhã ninguém «pode» faltar à Caminhada Solidária a favor do Núcleo Norte da Liga Portuguesa Contra o Cancro. Os doentes merecem!
Mário Fernandes
21-06-2014

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