terça-feira, 31 de março de 2015

CRÓNICA SEMANAL NO «JORNAL NOTÍCIAS DE ESPOSENDE» COM UMA CONVERSA COM O COMANDANTE JUVENAL CAMPOS


JUVENAL CAMPOS HÁ 20 ANOS A COMANDAR COM MESTRIA E DISTINÇÃO OS BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DE ESPOSENDE

VOLUNTÁRIOS ESPOSENDENSES CELEBRARAM O 124º ANIVERSÁRIO

Os Bombeiros Voluntários de Esposende são uma instituição esposendense, de utilidade pública, superiormente presidida pelo Dr. Agostinho Pinto Teixeira e comandada pelo prof. Juvenal Campos.
Esta semana decidi-me pela visita a esta nobre instituição, precisamente no momento em que celebram os 124 anos da sua fundação, para uma conversa, informal, com o meu caro amigo, comandante Juvenal Campos. Estou certo que desta crónica resultam várias histórias, todas muito interessantes, contadas na primeira pessoa.

Longínquo vai o dia 6 de janeiro do ano de 1891, aquando da reunião de instalação da ASSOCIAÇÃO HUMANITÁRIA ESPOZENDENSE”. Este foi o seu primeiro nome, tal como consta da ata lavrada no referido dia. Isto significa que a celebração dos 125 da instituição deverá realizar-se mesmo no dia 06/01/2016.

Mas tal como afirmei no inicio a conversa de hoje teve como objetivo fazer história, descobrindo história dos últimos 41 anos dos Bombeiros de Esposende.

Juvenal Campos, 58 anos, casado, professor em Esposende, está ao comando dos Bombeiros Voluntários de Esposende, há perto de 20 anos (que se completam em setembro), onde é bombeiro há 41 anos. Como se vê estamos a falar de um homem da casa, que como ninguém, melhor conhece os cantos ao… quartel. Nesta minha visita acabei por confirmar aquilo que já conhecia e já sabia existir, que é uma grande camaradagem e uma grande admiração e respeito de toda a equipa pelo seu comandante. Gostei de ver a forma amiga como se tratam e relacionam e estou certo residir aqui um dos principais contributos para o sucesso desta corporação. Juvenal Campos é exímio no comando, tanto no comando das suas equipas, como da própria instituição.

Voltemos às comemorações deste ano para referir que estas se revestiram de grande solenidade e incluíram um programa de atividades que se desenvolveu durante um fim-de-semana e que contou de entre outros com uma formatura geral e hasteamento de bandeiras, uma missa e a tradicional romagem ao cemitério; o desfile apeado em algumas artérias da cidade e os cumprimentos nos paços do município; as condecorações, a sessão no salão nobre e um jantar convívio num hotel da cidade. Das condecorações atribuídas é de destacar a atribuição do Crachá de ouro da Liga dos Bombeiros Portugueses - a mais alta condecoração da LBP a atribuir a bombeiros, ao 2º comandante Carlos Alberto Miranda Alves.

ZONA DE ATUAÇÃO DOS BV ESPOSENDE
A atual zona de atuação natural inclui 9 freguesias, todas a norte do rio Cávado, mas não a totalidade das freguesias que estão a norte. Esposende, Antas, Belinho, Curvos, Forjães, Mar, Marinhas, Palmeira e Vila Chã, pertencentes ao concelho de Esposende, cumprindo os limites da anterior divisão administrativa do País, deixa de fora as freguesias de Gandra e de Gemeses, bem como as 4 que se situam a sul do Cávado e que são servidas pela Corporação dos Bombeiros Voluntários de Fão.

É natural que sempre que solicitados, os Bombeiros de Esposende, e por uma questão de proximidade, também prestem serviço às populações em freguesias limítrofes dos concelhos de Esposende, Viana do Castelo, Póvoa de Varzim e Barcelos. Há ainda solicitações do CDOS de Braga, que solicita a prestação de serviços em todo o país, em missões de proteção civil.

O comandante está convencido que a nova divisão administrativa do país, com a junção da freguesia de Gandra à de Esposende e Marinhas, deve, num futuro próximo passar a ser servida pela corporação que comanda, até porque, segundo diz, as freguesias, à luz da lei são indivisíveis. Estas são questões que não o preocupam até porque deverão ter resolução natural.

Claro que perante esta divisão, fui obrigado a questionar Juvenal Campos, sobre o porquê de as freguesias de Gandra e Gemeses “pertencerem” às Bombeiros de Fão. Na resposta, mais uma curiosidade que desconhecia. Segundo o comandante, no ano de 1980 terá sido realizada uma reunião para decidir a área de atuação das 2 corporações, mas como o responsável de Esposende terá estado ausente, a decisão foi unilateral, tendo assim ficado decidido e ainda hoje a vigorar.

Neste ponto Juvenal Campos fez questão de deixar bem claro que as relações com os Bombeiros Voluntários de Fão, com os seus responsáveis, comando e corpo de bombeiros é uma relação salutar de grande respeito e complementaridade.

MISSÃO DOS BOMBEIROS
Os bombeiros tem uma missão bastante diversificada e abrangente, na ajuda, apoio, defesa e proteção de pessoas, de bens e das próprias comunidades. De salientar a prevenção e o combate a incêndios; O socorro às populações, em caso de incêndios, inundações, desabamentos e, de um modo geral, em todos os acidentes; O socorro e transporte de acidentados e doentes, incluindo a urgência pré-hospitalar, no âmbito do sistema integrado de emergência médica; A emissão, de pareceres técnicos; A participação em outras atividades de proteção civil, no âmbito do exercício das funções específicas que lhes forem cometidas, protocolizada com a Câmara Municipal; O exercício de atividades de formação e sensibilização e a participação em outras ações e o exercício de outras atividades.

De referir que em pouco tempo, talvez graças à crise e ao facto de muitos dos serviços terem deixado de ser comparticipados pelo Estado, a totalidade dos serviços mensais passou de cerca de 1.000 para 300, o que só por si levou a uma acentuada descida nas receitas.

FROTA
A frota da instituição ronda um total de 30 viaturas. A última, recentemente benzida apenas aguarda uma última vistoria para ir para a estrada. Estivemos a vê-la, com equipamento do mais moderno que há, por isso uma mais-valia para a instituição e para todos aqueles que vierem a precisar de ser socorridos. Para além da vistoria aguardam ainda a ajuda há dias prometida pelo senhor presidente da Câmara, Ar.º Benjamim Pereira, para custear, esperam, uma boa parte dos cerca de 60 mil euros que custou. A manutenção das viaturas está a cargo da instituição e não tem necessidade de mais viaturas. Apenas serão adquiridas novas viaturas para substituir viaturas que sejam abatidas pela idade ou por qualquer acidente.

“A MISSÃO A TIMOR, EM 1999, FOI DE UMA ENORME RIQUEZA. JAMAIS A ESQUECEREI”
A Missão de Ajuda Humanitária realizada em Timor Leste, no ano de 2009. Para Juvenal Campos esta foi uma missão marcante, por variadíssimas razões; Pela experiência, única, pelo espírito e objetivo da missão, pela equipa que a constituiu, e pelos Timorenses. Uma missão difícil, mas gratificante, que jamais será esquecida. Juvenal Campos afirma que não hesitou no momento de dizer “sim” o que ajudou ao sucesso da missão, porque entendeu-a como um ato de coragem, para ajudar uma nação e um povo que tudo merecia. Juvenal Campos, passados que estão estes 16 anos ainda se emociona a contar as histórias vividas em Timor. Ficou claro, que valeu a pena.

O MOMENTO MAIS DRAMÁTICO VIVIDO DOS BVE
O acontecimento mais trágico, e por isso mais triste, vivido na corporação foi o acidente de viação, ocorrido no dia 29 de setembro de 1999, com despiste de um veículo florestal de combate a incêndios, que seguia para o combate a um incêndio e do qual resultou a morte de três bombeiros de Esposende, Paulo Alexandre Lachado; José Pedro Martins Torres e Pedro António Silva Sousa. Este acidente de má memória verificou-se em Serzedelo, Guimarães. Não mais esquecerei aquele dia nem o próprio dia do funeral, onde os esposendenses compareceram em massa para dizer adeus aos três “soldados da paz”. No funeral terão estado mais de duas mil pessoas, em solidariedade com os colegas falecidos e com a corporação. Bombeiros, familiares e amigos dos sinistrados, entidades civis e de numerosas Corporações nortenhas e de todo o país. Mais uma vez aproveito para deixar aqui um abraço de solidariedade às suas famílias.

ASSOCIADOS
Contam atualmente com cerca de 3.140 sócios que contribuem com um valor anual aproximado de 17 mil euros. Há uma campanha, em permanência, no website dos Bombeiros, para angariação de novos associados, onde são explicadas as condições de admissão. A joia de entrada é de 1 € e a quota anual é de 10€ por associado. A inscrição deve ser feita no quartel, ou junto de um dos cobradores da associação.

Bem, mas quais são afinal as regalias dos associados? Juvenal Campos diz que a principal regalia é no dia em que precisar do auxílio dos bombeiros, poder contar com uma corporação que responde com prontidão, eficácia e eficiência. Todo o valor recebido dos associados é investido na emergência. Depois há ainda um conjunto de vantagens, como, transporte para unidades hospitalares dentro do concelho, são gratuitas, para fora do concelho só paga 50%, serviço de abertura de portas têm 20% de desconto. Estas são os principais benefícios. Mas agora acrescento eu, um outro, que é o gosto e o prazer que sentimos ao saber que estamos a ajudar uma instituição de referência e que esta ajuda vai chegar não só aos bombeiros, mas à população.

SER BOMBEIRO
Convém lembrar que a idade máxima para poder entrar para bombeiro, são os 45 anos, sendo que ainda até há pouco tempo eram 35.

Estão abertas as inscrições para bombeiros estagiários e cadetes. Cadetes: Os interessados devem ter 17 anos de idade e passar pelo quartel para proceder à sua inscrição. Estagiários: Idades compreendidas entre os 17 e os 45 anos de idade e o 9º ano de escolaridade.

“TENHO UM SONHO”
Mais uma vez categórico, o comandante Juvenal Campos logo atirou: “Sonho com a criação de uma EIP – Equipa Intervenção Permanente.

E o que é isso, logo o questionei. “É uma Equipa composta por 5 assalariados, disponíveis em horário laboral, para a emergência. O Estado está disponível para custear em 50% dos custos e os restantes 50% ficariam a cargo do Município, cuja decisão aguardamos, até porque há muitos outros municípios que já o assumiram com as suas corporações”.

E mais se o Município de Esposende pretende, como afirma, e muito bem, ser um concelho virado para o turismo e com uma forte componente industrial têm mesmo que ter Bombeiros com uma EIP, caso contrário, continuaremos com uma lacuna.

Juvenal Campos lembra, a este propósito que o Município assumiu em parceria com o Ministério da Agricultura, os custos da Equipa de Sapadores [a Equipa do jipe amarelo, digo eu, para melhor o identificar], e muito bem.

Há ainda um conjunto de outras necessidades não menos importantes e que passo a enumerar: Os EPI’s URBANOS. Precisam urgente de EPI’s urbanos e industriais. No ano passado a Câmara forneceu EPI’s florestais, agora faltam os urbanos.

Obras no quartel, que alias já estão a ser equacionadas com a Câmara Municipal e para as quais conta com ajuda. O quartel já vai com 29 anos e necessita de obras, tais como; Adaptação para o “corpo feminino” e ainda bem, digo eu, porque é sinal que já temos “bombeiras”, a substituição da caixilharia exterior, a instalação de novas fontes de energia, como painéis solares ou outros, e ainda algumas, pequenas remodelações e renovação de alguns equipamentos.


BANDA DE MÚSICA DE ANTAS
BANDA DOS BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DE ESPOSENDE. Com a conversa já bem longa, ainda pedi que me esclarecesse, qual a relação que existe entre os Bombeiros e a Banda de Antas, especialmente pela utilização do seu nome. “Aquando da fundação da Banda, esta, para agilizar o processo e para ter o mínimo possível de custos acabou por utilizar os estatutos dos bombeiros, sendo daí que nasce o nome da Banda. De qualquer forma a Banda de Antas tem órgãos próprios e total independência, apenas existe uma parceria em que se complementam e trocam serviços, com mais-valias para os associados de ambas”. A este respeito envio daqui um abraço ao jovem Maestro Diogo Costa, pelo seu excelente percurso e pela superior qualidade da Banda que dirige. Um dia destes estarei à conversa com este jovem de excelência.

OBRIGADO, COMANDANTE!
A terminar, Juvenal Campos ainda referiu que “noutros tempos os bombeiros beneficiavam de um estatuto social que lhes proporcionava efetivas regalias, regalias essas que foram retiradas na sua maior parte, ao longo dos últimos anos”. Hoje, tanto o comandante como muitos outros bombeiros sentem que pagam para ser bombeiros. É triste, acrescento eu.

Portanto aqui fica a dica à atenção do Governo, que deve olhar para os bombeiros, os voluntários e os do quadro, com especial atenção, tanto pelos riscos que diariamente correm, como pela missão altruísta que desenvolvem.

Caro Amigo, Comandante Juvenal Campos, muito obrigado por tudo que tem feito pela instituição e pela comunidade esposendense. As maiores felicidades para toda a instituição; Órgãos sociais, comando, bombeiros e pessoal administrativo.

NOTA FNAL: Várias pessoas teceram elogios à conversa com o mestre Fernando Rosário, mas também me sugeriram que não deixasse as análises semanais aos temas da atualidade local e nacional. Não deixarei. Acontece que há um conjunto de personalidades esposendenses de relevo com quem pretendo conversar, para trazer a público histórias bem originais e interessantes.

Mário Fernandes;
28-03-2015


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