MESTRE FERNANDO
ROSÁRIO NA GALERIA DOS MELHORES RETRATISTAS DA ATUALIDADE
Tive o
prazer de ser recebido esta semana pelo ilustre esposendense, o retratista
Fernando Rosário, no seu atelier. Já conheço o Mestre Fernando Rosário há mais
de 30 anos, pois trabalhei durante um certo período de tempo, mesmo em frente
ao seu atelier e várias vezes fomos falando e trocando impressões, o que me
permitiu acompanhar, desde aí, o seu fantástico percurso.
Pessoa
simples e afável, de trato fino e com uma cultura singular, recebeu-me com a
sua tradicional simpatia no seu novo atelier, com uma alegria contagiante, só
possível porque se nota que é alguém que ama aquilo que faz e que sente um
enorme prazer e orgulho ao falar da arte que tão bem domina e ao mostrar uma parte
da sua coleção ali exposta.
Fernando
da Silva Rosário nasceu na freguesia de Esposende a 30 de Janeiro de 1950. É o
quarto de doze filhos, de Joaquim do Rosário e de Eva Gonçalves Ferreira da
Silva.
Desta
conversa com o mestre Fernando Rosário pretendo que resulte, não uma vulgar
entrevista, porque já muitas foram feitas e transcritas, mas uma conversa
informal, de onde sobressaem histórias e passagens da sua vida, bem originais,
algumas, talvez nunca contadas, ou pelo menos desconhecidas do domínio público.
Foram momentos memoráveis e de uma grande riqueza cultural e artística.
Pretendo
assim dar a conhecer o lado mais particular e intimista deste esposendense, que
ficará para a história, disso estou absolutamente certo, como um dos maiores
retratistas de todos os tempos.
O seu
dom leva a arte á excelência e essa é reconhecida bem para além dos limites do
nosso concelho, da nossa região e do nosso país. Fernando Rosário tem nome para
além das nossas fronteiras, tendo obras suas espalhadas pelos quatro cantos do
mundo e em locais bem importantes.
Este seu
dom, cedo se manifestou, tendo começado a dar as suas primeiras pinceladas com
tenra idade. Recorda os pincéis, já meio gastos, muito roçados e as tintas
usadas, que a D. Helena de Goios, empregada do Mestre Medina lhe trazia e com
os quais ia fazendo as suas primeiras pinturas. Fernando Rosário pintava e na
volta a D. Helena ia levando os seus desenhos e pinturas ao Mestre Henrique
Medina e ele lá lhe ia dizendo, “o rapaz tem jeito”, e acrescentava ainda, “vai
ter futuro na pintura”. Claro está que a senhora, na “pele” de intermediária,
trazia a mensagem ao Fernando Rosário que assim se sentia muito lisonjeado. E
não era para menos. Ser elogiado, por tão ilustre pintor não era para qualquer
um.
Na
escola primária logo se distinguiu, pelas suas qualidades artísticas inatas,
recordando a sua grande inspiração, que eram as imagens religiosas dos quadros
que decoravam a sua casa, passando muito tempo a memorizar e a tentar
reproduzir cada um deles até à perfeição e as inúmeras vezes em que, em vez de
fazer as cópias e as redações que os professores mandavam fazer como trabalho
para casa, substituir cada um deles por pequenos desenhos, alguns em banda
desenhada, que eram forte motivo de admiração dos colegas e amigos. Os
professores, esses, viam no Fernando um talento a perder-se, talvez pelas
dificuldades da família em mandá-lo estudar artes.
Começou
a trabalhar bem novo, numa tipografia em Esposende. Frequentou o Curso Comercial
em Viana do Castelo. Pelos 15 anos vai para Braga, onde frequenta na Escola
Carlos Amarante, o Curso Noturno de Desenho e em simultâneo trabalha numa
Litografia como desenhador. Ao longo do tempo experimentou outras profissões,
integrou o serviço militar obrigatório e cumpriu comissão de serviço em Timor,
entre 1972 e 1974. Também ai se destacou. Conviveu de muito perto com Ramos
Horta e participou em inúmeros concursos, tendo vencido vários prémios, como,
os rótulos das garrafas de cerveja, e vários cartazes turísticos de Timor, de
entre outros.
Cumprido
o serviço militar, voltou à sua terra natal, tendo contraído família. No seu já
longo percurso, houve um período em que optou por trabalhar em fotografia,
tendo esta opção a ver com uma questão de sobrevivência. Complementou a pintura
com a fotografia. Esteve em Marinhas, em frente à Igreja e depois mudou-se para
a Rua Custódio José Vilas Boas, em Esposende.
“A PINTURA É A MINHA VOCAÇÃO”
Por
volta de 1980 assume a pintura quase a tempo inteiro e a partir de 1986
dedica-se também ao estudo e ao restauro de óleos sobre tela. Desde 1992 que
abriu Atelier de pintura em Esposende e se assume como Pintor a tempo inteiro:
“quis
ser pintor e consegui, esta é a minha vocação”. Das técnicas que domina
destaque para a caricatura, a aguarela, o carvão, o pergaminho iluminado e o
óleo sobre madeira, platex ou tela.
Para o
Mestre Rosário a arte “nasce de um impulso criativo interior o que faz com que
cresça uma necessidade de investimento pessoal na formação. Sempre procurou o
realismo e a perfeição. A sua técnica é vulgarmente designada de “linha
perene”, onde sobressai um puro realismo.
Como
principais “clientes” destinatários das suas obras, salientam-se as
Universidades e as Dioceses. Só para a Faculdade de Letras e Faculdade de
Direito da Universidade de Coimbra, o pintor já realizou mais de 100 obras.
Diocese de Braga; restauro da Sé, do Museu e do Paço episcopal, e outras
dioceses. Paróquias. Igreja Matriz de Barcelos; Igreja do Sr. da Cruz, restauro
da pintura dos murais; Igreja Matriz de Esposende e Igreja da Misericórdia de
Esposende; Misericórdia de Lisboa e outras Misericórdias.
Na
Câmara Municipal de Esposende apenas tem uma aguarela do Largo da Câmara, ainda
do tempo do presidente Eng.º Losa Faria; Ofereceu 2 importantes obras à Igreja
da Misericórdia de Esposende, a “Adoração” e o “Rosto de Cristo”.
Num
concurso lançado pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, foi o vencedor, num
universo de mais de 6o retratistas a concurso.
O atual
atelier situa-se na Rua Rodrigues de Faria e tem vista para o Cávado, uma dos
seus locais de eleição e uma das principais fontes de inspiração. Os
pescadores, homens do mar e do rio, as traineiras, as redes, as lavadeiras, o
Cávado, o salva Vidas, o Farol e o Forte São João Batista.
OS MESTRES HENRIQUE MEDINA E
FERNANDO ROSÁRIO
Desde
cedo começou a admirar o mestre Henrique Medina. Lembra-se de passar
regularmente perto do monumento a Medina, em que aquele tem a palete na mão, e
pensar, só queria um dia pintar como este pintor.
Contou-me
uma pequena “história”. Num determinado momento, para sua grande surpresa,
ter-lhe-á chegado um pedido para receber no seu atelier o mestre e seu ídolo, Henrique
Medida. A sua resposta foi pronta e afirmativa, o que acabou por aconteceu por
várias vezes no seu atelier de fotografia e pintura, no lugar da Igreja em
Marinhas.
Depois
disso, nasceu um relacionamento de amizade e grande respeito, com idas do
Fernando Rosário até Goios, à casa do Mestre Medina. Aqui há uma curiosidade. Henrique
Medina, apesar dos pedidos de Fernando Rosário, nunca lhe terá mostrado o seu atelier.
A casa sim, o atelier nunca lhe terá sido mostrado. Mostrava-se muito
reservado. Chegou a interrogar Fernando Rosário, a cerca de como é que
conseguia dar brilho e outros efeitos. Segundo Fernando Rosário isto dever-se-á
ao facto de terem aparecido novos materiais, já utilizados nos trabalhos de
Fernando Rosário.
CONDECORADO PELO MUNICÍPIO DE
ESPOSENDE
No ano
de 2008 foi condecorado com a MEDALHA DE MÉRITO CULTURAL DO MUNICÍPIO DE
ESPOSENDE. A Câmara Municipal de Esposende, aquando das comemorações do centenário
do Museu de Esposende, editou um pequeno, mas importante catálogo intitulado
«Fernando Rosário – Esposende – Pintura 1970-2010», em homenagem ao mestre
Fernando Rosário. Um catálogo com algumas obras emblemáticas do pintor, com
especial dedicação às gentes de Esposende e homens do Mar.
Fernando
do Rosário já realizou várias exposições, de norte a sul do país. Em fevereiro
de 2012, deslocou-se ao Vaticano, para ser recebido por Sua Santidade o Papa
Bento XVI na Basílica de São Pedro, onde procedeu à entrega a Sua Santidade de
uma paleta com o retrato do Papa pintado a óleo aquando da sua visita a
Portugal, tendo como cenário de fundo nessa pintura o Santuário de Fátima. É
com orgulho e um brilhozinho nos olhos que mostra a inúmera correspondência
recebida por “altas” personalidades nacionais a agradecer-lhe e a louvor a
superior qualidade das suas obras, únicas e inigualáveis.
A
terminar a nossa conversa ainda me contou que gostava de ver a sua coleção
exposta e disponível para ser visitada por todos: Esposendenses, turistas e
visitantes e que para tal está totalmente disponível para fazer uma parceira
com a Câmara Municipal de Esposende.
Acho
que, olhando à disponibilidade de Fernando Rosário, a Câmara Municipal de
Esposende não pode perder uma oportunidade destas para realizar uma parceria
com um Esposendense que não é nada mais, nem nada menos, do que um dos melhores
retratistas do mundo, na atualidade.
Aproveito
para informar os leitores que a obra que o mestre Fernando está neste momento a
concluir é um retrato do Dr. Juvenal Silva. Está com um realismo que é qualquer
coisa de fantástico.
Obrigado
mestre Fernando Rosário. Obrigado por ser meu amigo e pela amabilidade,
simpatia e deferência com que sempre me trata e me recebeu no seu atelier. De
referir que já há algum tempo que andava para fazer esta visita e que a mesma
aconteceu sem sequer estar agendada. Apareci, bati à porta e foi só entrar.
Especialmente grato pelo livro que me ofereceu e pela dedicatória.
Felicito-o
acima de tudo, pela forma apaixonada como pinta e retrata, e por levar bem
longe o bom nome de Esposende. O Sr. Fernando está a fazer história e a deixar as
suas obras por todo o mundo. É de homens e mulheres com esta fibra que
Esposende se distingue e se afirma, como terra de gente com grande valor, de
artistas nas mais variadas áreas, desde a cultura, o desporto, a escrita e a
pintura.
O meu bem-haja e as maiores felicidades.
Mário
Fernandes;
21-03-2015
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