terça-feira, 24 de março de 2015

CRONICA DESTA SEMANA NO JORNAL NOTÍCIAS DE ESPOSENDE «À CONVERSA COM O MESTRE FERNANDO ROSÁRIO»





MESTRE FERNANDO ROSÁRIO NA GALERIA DOS MELHORES RETRATISTAS DA ATUALIDADE

Tive o prazer de ser recebido esta semana pelo ilustre esposendense, o retratista Fernando Rosário, no seu atelier. Já conheço o Mestre Fernando Rosário há mais de 30 anos, pois trabalhei durante um certo período de tempo, mesmo em frente ao seu atelier e várias vezes fomos falando e trocando impressões, o que me permitiu acompanhar, desde aí, o seu fantástico percurso.

Pessoa simples e afável, de trato fino e com uma cultura singular, recebeu-me com a sua tradicional simpatia no seu novo atelier, com uma alegria contagiante, só possível porque se nota que é alguém que ama aquilo que faz e que sente um enorme prazer e orgulho ao falar da arte que tão bem domina e ao mostrar uma parte da sua coleção ali exposta.

Fernando da Silva Rosário nasceu na freguesia de Esposende a 30 de Janeiro de 1950. É o quarto de doze filhos, de Joaquim do Rosário e de Eva Gonçalves Ferreira da Silva.

Desta conversa com o mestre Fernando Rosário pretendo que resulte, não uma vulgar entrevista, porque já muitas foram feitas e transcritas, mas uma conversa informal, de onde sobressaem histórias e passagens da sua vida, bem originais, algumas, talvez nunca contadas, ou pelo menos desconhecidas do domínio público. Foram momentos memoráveis e de uma grande riqueza cultural e artística.

Pretendo assim dar a conhecer o lado mais particular e intimista deste esposendense, que ficará para a história, disso estou absolutamente certo, como um dos maiores retratistas de todos os tempos.

O seu dom leva a arte á excelência e essa é reconhecida bem para além dos limites do nosso concelho, da nossa região e do nosso país. Fernando Rosário tem nome para além das nossas fronteiras, tendo obras suas espalhadas pelos quatro cantos do mundo e em locais bem importantes.

Este seu dom, cedo se manifestou, tendo começado a dar as suas primeiras pinceladas com tenra idade. Recorda os pincéis, já meio gastos, muito roçados e as tintas usadas, que a D. Helena de Goios, empregada do Mestre Medina lhe trazia e com os quais ia fazendo as suas primeiras pinturas. Fernando Rosário pintava e na volta a D. Helena ia levando os seus desenhos e pinturas ao Mestre Henrique Medina e ele lá lhe ia dizendo, “o rapaz tem jeito”, e acrescentava ainda, “vai ter futuro na pintura”. Claro está que a senhora, na “pele” de intermediária, trazia a mensagem ao Fernando Rosário que assim se sentia muito lisonjeado. E não era para menos. Ser elogiado, por tão ilustre pintor não era para qualquer um.

Na escola primária logo se distinguiu, pelas suas qualidades artísticas inatas, recordando a sua grande inspiração, que eram as imagens religiosas dos quadros que decoravam a sua casa, passando muito tempo a memorizar e a tentar reproduzir cada um deles até à perfeição e as inúmeras vezes em que, em vez de fazer as cópias e as redações que os professores mandavam fazer como trabalho para casa, substituir cada um deles por pequenos desenhos, alguns em banda desenhada, que eram forte motivo de admiração dos colegas e amigos. Os professores, esses, viam no Fernando um talento a perder-se, talvez pelas dificuldades da família em mandá-lo estudar artes.

Começou a trabalhar bem novo, numa tipografia em Esposende. Frequentou o Curso Comercial em Viana do Castelo. Pelos 15 anos vai para Braga, onde frequenta na Escola Carlos Amarante, o Curso Noturno de Desenho e em simultâneo trabalha numa Litografia como desenhador. Ao longo do tempo experimentou outras profissões, integrou o serviço militar obrigatório e cumpriu comissão de serviço em Timor, entre 1972 e 1974. Também ai se destacou. Conviveu de muito perto com Ramos Horta e participou em inúmeros concursos, tendo vencido vários prémios, como, os rótulos das garrafas de cerveja, e vários cartazes turísticos de Timor, de entre outros.

Cumprido o serviço militar, voltou à sua terra natal, tendo contraído família. No seu já longo percurso, houve um período em que optou por trabalhar em fotografia, tendo esta opção a ver com uma questão de sobrevivência. Complementou a pintura com a fotografia. Esteve em Marinhas, em frente à Igreja e depois mudou-se para a Rua Custódio José Vilas Boas, em Esposende.

“A PINTURA É A MINHA VOCAÇÃO”

Por volta de 1980 assume a pintura quase a tempo inteiro e a partir de 1986 dedica-se também ao estudo e ao restauro de óleos sobre tela. Desde 1992 que abriu Atelier de pintura em Esposende e se assume como Pintor a tempo inteiro: “quis ser pintor e consegui, esta é a minha vocação”. Das técnicas que domina destaque para a caricatura, a aguarela, o carvão, o pergaminho iluminado e o óleo sobre madeira, platex ou tela.

Para o Mestre Rosário a arte “nasce de um impulso criativo interior o que faz com que cresça uma necessidade de investimento pessoal na formação. Sempre procurou o realismo e a perfeição. A sua técnica é vulgarmente designada de “linha perene”, onde sobressai um puro realismo.

Como principais “clientes” destinatários das suas obras, salientam-se as Universidades e as Dioceses. Só para a Faculdade de Letras e Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, o pintor já realizou mais de 100 obras. Diocese de Braga; restauro da Sé, do Museu e do Paço episcopal, e outras dioceses. Paróquias. Igreja Matriz de Barcelos; Igreja do Sr. da Cruz, restauro da pintura dos murais; Igreja Matriz de Esposende e Igreja da Misericórdia de Esposende; Misericórdia de Lisboa e outras Misericórdias.

Na Câmara Municipal de Esposende apenas tem uma aguarela do Largo da Câmara, ainda do tempo do presidente Eng.º Losa Faria; Ofereceu 2 importantes obras à Igreja da Misericórdia de Esposende, a “Adoração” e o “Rosto de Cristo”.

Num concurso lançado pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, foi o vencedor, num universo de mais de 6o retratistas a concurso.

O atual atelier situa-se na Rua Rodrigues de Faria e tem vista para o Cávado, uma dos seus locais de eleição e uma das principais fontes de inspiração. Os pescadores, homens do mar e do rio, as traineiras, as redes, as lavadeiras, o Cávado, o salva Vidas, o Farol e o Forte São João Batista.

OS MESTRES HENRIQUE MEDINA E FERNANDO ROSÁRIO

Desde cedo começou a admirar o mestre Henrique Medina. Lembra-se de passar regularmente perto do monumento a Medina, em que aquele tem a palete na mão, e pensar, só queria um dia pintar como este pintor.

Contou-me uma pequena “história”. Num determinado momento, para sua grande surpresa, ter-lhe-á chegado um pedido para receber no seu atelier o mestre e seu ídolo, Henrique Medida. A sua resposta foi pronta e afirmativa, o que acabou por aconteceu por várias vezes no seu atelier de fotografia e pintura, no lugar da Igreja em Marinhas.

Depois disso, nasceu um relacionamento de amizade e grande respeito, com idas do Fernando Rosário até Goios, à casa do Mestre Medina. Aqui há uma curiosidade. Henrique Medina, apesar dos pedidos de Fernando Rosário, nunca lhe terá mostrado o seu atelier. A casa sim, o atelier nunca lhe terá sido mostrado. Mostrava-se muito reservado. Chegou a interrogar Fernando Rosário, a cerca de como é que conseguia dar brilho e outros efeitos. Segundo Fernando Rosário isto dever-se-á ao facto de terem aparecido novos materiais, já utilizados nos trabalhos de Fernando Rosário.

CONDECORADO PELO MUNICÍPIO DE ESPOSENDE

No ano de 2008 foi condecorado com a MEDALHA DE MÉRITO CULTURAL DO MUNICÍPIO DE ESPOSENDE. A Câmara Municipal de Esposende, aquando das comemorações do centenário do Museu de Esposende, editou um pequeno, mas importante catálogo intitulado «Fernando Rosário – Esposende – Pintura 1970-2010», em homenagem ao mestre Fernando Rosário. Um catálogo com algumas obras emblemáticas do pintor, com especial dedicação às gentes de Esposende e homens do Mar.

Fernando do Rosário já realizou várias exposições, de norte a sul do país. Em fevereiro de 2012, deslocou-se ao Vaticano, para ser recebido por Sua Santidade o Papa Bento XVI na Basílica de São Pedro, onde procedeu à entrega a Sua Santidade de uma paleta com o retrato do Papa pintado a óleo aquando da sua visita a Portugal, tendo como cenário de fundo nessa pintura o Santuário de Fátima. É com orgulho e um brilhozinho nos olhos que mostra a inúmera correspondência recebida por “altas” personalidades nacionais a agradecer-lhe e a louvor a superior qualidade das suas obras, únicas e inigualáveis.

A terminar a nossa conversa ainda me contou que gostava de ver a sua coleção exposta e disponível para ser visitada por todos: Esposendenses, turistas e visitantes e que para tal está totalmente disponível para fazer uma parceira com a Câmara Municipal de Esposende.

Acho que, olhando à disponibilidade de Fernando Rosário, a Câmara Municipal de Esposende não pode perder uma oportunidade destas para realizar uma parceria com um Esposendense que não é nada mais, nem nada menos, do que um dos melhores retratistas do mundo, na atualidade.

Aproveito para informar os leitores que a obra que o mestre Fernando está neste momento a concluir é um retrato do Dr. Juvenal Silva. Está com um realismo que é qualquer coisa de fantástico.

Obrigado mestre Fernando Rosário. Obrigado por ser meu amigo e pela amabilidade, simpatia e deferência com que sempre me trata e me recebeu no seu atelier. De referir que já há algum tempo que andava para fazer esta visita e que a mesma aconteceu sem sequer estar agendada. Apareci, bati à porta e foi só entrar. Especialmente grato pelo livro que me ofereceu e pela dedicatória.

Felicito-o acima de tudo, pela forma apaixonada como pinta e retrata, e por levar bem longe o bom nome de Esposende. O Sr. Fernando está a fazer história e a deixar as suas obras por todo o mundo. É de homens e mulheres com esta fibra que Esposende se distingue e se afirma, como terra de gente com grande valor, de artistas nas mais variadas áreas, desde a cultura, o desporto, a escrita e a pintura.

O meu bem-haja e as maiores felicidades.

Mário Fernandes;
21-03-2015



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