sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

MAIS UMA CRÓNICA SEMANAL NO «JORNAL NOTÍCIAS DE ESPOSENDE» DE 20-12-2014



NATAL É TEMPO DE ESPERANÇA!

Uma vez que esta é a minha última crónica antes do Natal quero aproveitar para deixar aqui um pouco daquilo que penso sobre esta quadra natalícia e estes tempos que considero de… esperança;

Quero no entanto abordar de uma forma sintética três assuntos que marcaram a presente semana. O primeiro na ordem do dia, a nível mundial, o segundo a nível nacional e o terceiro a nível local;

Os presidentes dos Estados Unidos da América e de Cuba, Obama e Castro, não o Fidel, mas o seu irmão Raúl, protagonizaram esta semana um pequeno grande milagre, apadrinhado pelo Papa Francisco [só podia, digo eu], pondo fim a um divórcio de mais de 50 anos, entre duas nações vizinhas. Espero que este restabelecimento de relações, com a reabertura de representações diplomáticas proporcione o reatar de relações, o início do fim do embargo económico e assim potencie as mudanças políticas no regime Cubano, rumo à tão desejada democracia plena.

A nível nacional, um registo para a anunciada greve dos trabalhadores da TAP, dos tais 12 sindicatos e, a requisição civil decidida pelo governo no conselho de Ministros desta quinta-feira. Esta requisição civil, decretada pela segunda vez [a primeira foi durante a governação de António Guterres] na TAP parece-me exagerada, porque estou convencido que não foram esgotadas todas as formas de diálogo e de conversação. Bem sei que os sindicatos estarão a exercer uma forma de pressão contra a privatização da companhia, quando quem o deveria fazer seriam os portugueses, todos aqueles, onde me incluo, que são contra a privatização desta empresa estratégica para o país. É pena que as posições se tenham extremado de tal forma que neste momento mais parece um diálogo de surdos. Considero ainda que a solução para este impasse deveria ter passado também por contactos com os partidos da oposição, em especial o PS, que também aqui tem enormes responsabilidades, pelo memorando assinado com os nossos credores “troikanos”. Tratando-se de um dos temas de maior importância a nível nacional, com a privatização desta companhia prometida para breve, gostava de ver os interesses nacionais acautelados e isso parece-me já uma miragem. Vamos a ver o resultado. A seguir vem a privatização da… água e com os portugueses adormecidos desta forma o governo facilmente vai alienando até nada mais restar.

A nível local a inauguração das novas instalações do Centro Social de Antas, uma mais-valia ao nível das respostas sociais daquela Freguesia a colocar ao serviço da população um espaço que confere outra dignidade e certamente uma melhor qualidade de serviço a prestar aos seus utentes. Uma palavra ainda para felicitar o Coro dos Pequenos Cantores de Esposende que este domingo, dia 21 de dezembro, pelas 21h30, na Igreja Matriz de Esposende vão realizar um concerto intitulado «É tempo de Natal», no qual vai ser apresentado o seu segundo CD. Parabéns aos jovens cantores e a todo a organização. Já agora a minha sugestão para a aquisição deste novo CD, pois para alem daquilo que representa ainda pode ser uma excelente ideia para uma prenda de Natal.

DO NATAL DE OUTROS TEMPOS AO NATAL DE HOJE

Recordo, como todos recordarão certamente, pelo menos as pessoas da minha faixa etária e as mais velhas, com saudade os Natais de outros tempos; O Presépio, a lareira, os sapatinhos [junto à lareira], os pinhões e o rapa, os jogos de cartas, o bacalhau cozido com batatas e legumes [com as melhores couves do quintal, propositadamente guardadas para este ceia] e no dia seguinte a roupa velha e tão boa que ela é. As prendinhas, em regra, roupa, meias, chinelos e mais tarde calças, camisolas e casacos, em muitos casos uns chocolatinhos da Avianense.

Nesses tempos o Natal era a melhor as oportunidades para reunir as famílias em redor de uma mesa, onde não faltavam para além do prato obrigatório do bacalhau e do peru, muitas guloseimas e onde se convivia alegremente. Era dado mais valor às tradições e aos produtos locais, confecionados em casa, com produtos da terra. Os nossos pais parecia esperarem por esta data com mais tranquilidade, sem todo este frenesim [da ida às compras e às recompras] que hoje se vive. As coisas eram programadas com antecedência para que no dia nada faltasse nem nada falhasse. Hoje, as compras fazem-se até à hora da ceia.

As crianças viviam o Natal com muita magia e uma outra emoção e os adultos com mais religiosidade e devoção. A comunicação do Cardeal-patriarca era esperada e solenemente ouvida. Hoje são os Big isto e os canta aquilo. Havia a missa do galo [hoje também ainda há em algumas paróquias, mas parece que muito pouco frequentada]. As prendas só se abriam no dia 25 de manhã, muitos de nós mal dormíamos, à espera do dia seguinte para abrir as prendas, que se encontravam no sapatinho que havíamos deixado à volta do pinheiro, trazidas pelo menino Jesus. A momento de abrir as prendas era dos mais fantásticos que uma criança [e até um adulto] podiam esperar. Os tempos que antecediam o Natal eram de promessas à miudagem: Porta-te bem senão no Natal não recebes prendas. E com esta promessa/ameaça lá nos íamos portando bem… até àquele dia, porque depois o contador voltava ao zero. Hoje há uma subalternização de Jesus e do seu nascimento e uma valorização excessiva do pai Natal. Esta parece-me uma das maiores transformações. Tem-se vindo a substituir o menino Jesus pelo Pai Natal. É o pai Natal no presépio, nas janelas, a subir aos telhados, nas decorações, nas ruas, nos comércios, em tudo quanto é local público e privado.

Hoje, afirma-se que o Natal é mais comercial, numa sociedade mais consumista, mais fechada e mais egoísta. Não concordo totalmente com esta afirmação, simplesmente porque os tempos são outros. A sociedade atual dispõe de um outro tipo de ofertas sejam tecnológicas, sociais ou culturais. Fazem-se presépios nas empresas e instituições, sejam públicas ou privadas, nas nossas casas, nas ruas, nos jardins e claro está nas igrejas;

Outra das novidades são os muitos jantares de Natal. Nos clubes, nas empresas, nas instituições, em grupos informais e de amigos, enfim, coisas boas se perderam, mas é inequívoco que muitas outras se ganharam. O Natal é esta diversidade de acontecimentos, eventos e atividades, às quais ninguém fica indiferente, encontre-se onde se encontrar.

É certo que em Portugal e em muitas outras partes do globo se vivem tempos de certa angustia, no nosso caso essencialmente porque vimos de uma década de grande euforia, consumista e materialista, onde quase todos, iam tendo um pouco mais do que o essencial e, hoje deparámo-nos com algumas dificuldades, algumas restrições, com uma sociedade mais vulnerável e mais desigual. Hoje vivesse um pouco um salve-se quem puder, não querendo isto dizer que em períodos especiais, como é o Natal, não haja solidariedade e espirito de entreajuda, bem pelo contrário, notando a existência de enormes dificuldades por que passam atualmente muitas pessoas nossas conhecidas, das nossas relações, as pessoas estão a responder com grande espirito de solidariedade, como se vê pelo sucesso das inúmeras campanhas que se vão desenvolvendo tanto a nível local como por todo o país.

Nesta quadra natalícia, vivida em tempos difíceis e algo conturbados, nada melhor do que um regresso ao PRESÉPIO e ao seu espirito de entreajuda e de solidariedade. Saibamos dar valor às coisas simples da vida, porque são essas que nos dão as maiores alegrias e felicidade. Eu acredito nos portugueses, em Portugal e num futuro promissor.

Desejo a todas e a todos um Santo Natal e um ano novo, de 2015, repleto de saúde, porque havendo saúde tudo o demais vem por acréscimo. SEJAM FELIZES!

Mário Fernandes
20-12-2014

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