terça-feira, 11 de novembro de 2014

CRÓNICA SEMANAL NO «NOTÍCIAS DE ESPOSENDE» [08-11-2014]



«GENTE DA MINHA TERRA»
A ex. Junta de Freguesia de Curvos, por mim presidida, publicou em abril de 2013 o seu quarto livro sobre a freguesia de Curvos. Na prossecução dos objetivos de âmbito cultural, social e patrimonial histórico, promovi mais uma vez a iniciativa de pôr a sua população perante a sua “rica” história e o seu património civilizacional acerca das gentes de Curvos. A escritora, Drª Inês Faria, pôs mãos à obra e quis assim brindar a gente da sua terra natal com mais uma excelente obra, intitulado “Gente da Minha Terra. Curvos. Análise demográfica e social: 1596-1998”.
Como dizia o poeta José Afonso “só se lembra dos caminhos velhos quem tem saudades da terra”. Foi destes caminhos, que a autora percorreu, sobretudo na sua meninice e na entrada da sua vida adulta, que colheu as saudades e muito do conhecimento do que agora traduz nesta obra literária.
A sua paixão à terra e às coisas, às pessoas e aos bens, aos ritos e aos movimentos demográficos e sociais, faz dela uma apaixonada pela história social local. Para tornar a sua leitura mais enfática, transforma, magistralmente, a história em histórias apetecíveis, buscando os lugares comuns que conhecemos e pondo lá os personagens que compreendemos e imaginamos, por tão familiarmente próximos.
Da tarefa de investigação resultou um aprofundado conhecimento e compreensão de factos e entendimentos que, em alguns casos romanceados, tornam a história, a Nossa História, mais fascinante e agradável ao leitor. Falar de Nós e dos Nossos, de Curvos, nunca é fácil pela paixão que, naturalmente, nós temos. Contudo, quando se retratam fielmente dados históricos, recolhidos de várias fontes documentais e orais, faz-se história.
Então, neste livro poderemos compreender, com todo o rigor histórico que as fontes proporcionaram, os dados relativos aos casamentos, nascimentos e óbitos, aliados a histórias de vida; pode-se perceber e compreender a mobilidade das pessoas, quer na nossa região, quer no que respeita à emigração para a América do Sul e para a Europa, acompanhada de algumas histórias de vida; compreendemos a evolução populacional e a sua alfabetização, em meados do séc. XX. Apresenta-os ainda um conjunto de histórias de vida que nos fazem recuar até ao séc. XVI ou, evoluindo daí para cá, trazendo até aos homens de hoje os seus ascendentes ancestrais; E um belíssimo capítulo “nomes e alcunhas” em que é feita uma explicação dos apelidos e das alcunhas de algumas das famílias radicadas em Curvos, deixando no ar ainda outras tantas alcunhas à espera de explicação.
Uma obra excelentemente organizada, a exemplo do que já nos habituou a autora, com conteúdos muito apetecíveis para uma leitura atenta e cuidada, colocando, desde já, cada um de nós na expectativa e curiosidade do que acerca de cada um dos nossos antepassados poderá explicitar. Com esta publicação, a população de Curvos ficou mais rica no seu património, mais apta a compreender e a viver o seu presente, conhecendo o seu passado.
Pelo seu amor à terra e às suas gentes e pelo amor com que sempre se dedica às nobres causas da cultura e tradição social, na altura enalteci a obra e a sua autora, a Doutora Inês Faria. Nenhuma História se faz ao acaso. Tem fontes, objetivos, intervenientes, processos e resultados, todos estes ingredientes interligados como se se tratasse de uma operação de culinária. Compete ao historiador optar pela forma a dar ao produto final. Mas, tratando-se de História das Populações, as hipóteses são infindáveis. Neste estudo, estiveram em observação, sobretudo, as variáveis demográficas – nascimentos/batismos, casamentos e óbitos – e ainda a mobilidade geográfica, em que a emigração ocupa um espaço fundamental. Tudo isto, desde que há registos, ou seja, desde cerca de 1600 e até 1998. Relativamente à emigração, os dados existentes levam-nos a alguns anos dos séculos. XIX e XX.
A apresentação geral da freguesia e da sua evolução, ao longo dos séculos, será importante para que qualquer pessoa que pegue neste livro possa relacionar todas as informações nele contidas com o ambiente socioeconómico que a caraterizava. Ao ler-se sobre Curvos, do concelho de Esposende, poderia julgar estar-se a ler sobre outra qualquer freguesia do nosso concelho [norte litoral português], salvo algumas especificidades, para além dos nomes das pessoas e dos lugares de residência.
As histórias de vida que apresentaremos, tiradas da vida real, entre o séc. XVII e o séc. XX, seguindo as trajetórias de vida de alguns indivíduos ou de algumas famílias, servem de exemplo do muito que se pode fazer com recurso às fontes utilizadas. O tratamento estatístico das variáveis demográficas teve por fim criar História-ciência de Curvos, com resultados possíveis de serem comparados aos de outras paróquias de Portugal, com estudos deste género já realizados e publicados.
Procurou-se amenizar a dureza dos números com algumas histórias que o tempo nos possa ter inspirado, aliado ao toque dos sinos da infância, puxados ainda da porta da torre da igreja e da porta da residência paroquial, por um arame, então, muito enferrujado. E os garotos, numa corrida, a pendurarem-se nele!... E outros, a tentarem acertar nos sinos com pedras, que quase sempre caíam no telhado da igreja, ou então, no cemitério!... Estardalhos de rapazes!... – Gritava logo a Rosinha, irmã do padre, que chegava à porta, toda enfurecida, ou a Edite, a filha do tio Isaac, que facilmente se chegava à janela que dá para o adro!... E logo os rapazes desatavam em correria e nem paravam para ouvir e saber de quem rir, pois o que importava era a brincadeira…
Aqui fica um pouco das muitas histórias que este livro contém, todas elas com a sua graça e importância e que no meu entender merecem ser lidas e relidas. Se ainda não leu esta publicação aproveite as noites longas de inverno para por a leitura em dia e leia «Gente da Minha Terra» que estou certo vai dar esse tempo por bem empregue.
«UM INIMIGO A ABATER»
A crónica que escrevi para este jornal, na semana passada, com o título acima mencionado mostra-nos que vale sempre a pena lutar.
Foram inúmeras as reações que recebi sobre esta minha crónica, mas houve uma que foi, sem margem para dúvidas aquela que mais me tocou. É que ir esta terça-feira ao Centro de Saúde e encontrar um casal meu conhecido que me disse: Sabe porque é que estamos aqui? A minha esposa vai fazer o rastreio ao "Cancro da Mama", porque lemos o seu artigo no «Jornal de Esposende», que nos chamou à atenção para o temas e que através dele ficamos a saber que é possível fazê-lo aqui em Esposende. Sem mais palavras… Basta que uma pessoa nos leia para que valha a pena escrever. Se forem muitas mais e se formos úteis para alguma coisa, tanto melhor.
Mário Fernandes;

08-11-2014

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