segunda-feira, 3 de novembro de 2014

CRÓNICA DE OPINIÃO NO «JORNAL NOTÍCIAS DE ESPOSENDE» DE 01 DE NOVEMBRO DE 2014



UM INIMIGO A ABATER!
“LUTA CONTRA O CANCRO DA MAMA”
O mês de outubro, que ontem terminou, foi dedicado internacionalmente à Prevenção do Cancro. Desenvolveram-se por todo o país inúmeras iniciativas, todas de louvar, em prol da luta contra o cancro, tendo o seu ponto alto ontem, dia 30, celebrado como o Dia da Prevenção do Cancro da Mama.
Em Esposende também tivemos um conjunto muito significativo de ações, de onde saliento; Rastreio em viatura da Liga Portuguesa Contra o Cancro da Mama, estacionado em frente ao Centro de Saúde de Esposende. A afluência tem sido considerável e a ação visa detetar precocemente algum sintoma da doença, para que seja possível atuar numa fase inicial, tornando a cura mais fácil e menos penosa.
Estou convencido de que não deverá haver nenhuma família que direta ou indiretamente não se veja atingida por esta terrível doença. Todos nós acabamos por ter, mais cedo ou mais tarde, algum caso entre familiares, amigos ou conhecidos, que já passaram ou estão a passar por uma doença do foro oncológico.
Felizmente que o grau de fatalidade tem vindo a diminuir e muito, graças a vários fatores: O avanço da medicina, através da aplicação de novas tecnologias, mais precisas e mais rápidas, no rastreio e no diagnóstico, novas técnicas e terapias de tratamento, investigação científica e ao aparecimento de novos fármacos. Todas estas variáveis têm contribuído e muito para o sucesso que tem vindo a ser conseguido, com a cura de muitos dos pacientes.
Não faltam campanhas de alerta, tanto do Ministério da Saúde, Centros de Saúde, Hospitais, Liga Portuguesa Contra o Cancro e outras organizações, que apelam a uma especial atenção à prevenção e ao diagnóstico, sobretudo a partir e dentro de determinada idade. O rastreio assume uma importância sem limites, uma vez que sempre que o cancro seja detetado a tempo, a sua reversão e cura são possíveis, evitando mesmo tratamentos custosos e terapias bem mais duras e sofríveis.
Tal como já referi, muitos de nós acabamos por viver de perto a experiência de alguém a quem o “cancro” tenha batido à porta. Vou deixar aqui uma pouco das muitas conversas que tenho tido com alguém que no último ano passou por uma experiência destas e com final FELIZ!
Não vou identificar a minha interlocutora, apesar de saber que as pessoas que nos conheçam a acabam por identificar.
- O dia 20 de outubro de 2013 fica na memória da Dona *.* para todo o sempre, como aquele dia em que o azar lhe bateu realmente à porta. Após realizar exames de rotina, devido á faixa etária, em boa hora receitados pela médica de família, eis que surgem os resultados: Uma autêntica bomba a cair sobre a cabeça de um qualquer ser humano. Lidos e relidos, o seu teor era inequívoco. «CANCRO EVASOR». O CANCRO DA MAMA ERA UMA MALDITA REALIDADE. Haverá pior choque do que este? Passados os momentos iniciais em que a pessoa pensa em tudo e mais alguma coisa, há que cair na realidade. Fala-se com os familiares e dá-se a terrível notícia, mas sem nunca falar em desistir e onde a palavra «morte» é proibida. A reação é de lamento, mas logo se transforma numa onda de apoio e de incentivo. É o momento de unir esforços, levantar a cabeça e olhar de frente para um problema que sendo série quanto baste, deve merecer luta e muita resistência. Este cancro vai ser vencido, foi sempre o meu próprio pensamento.
A notícia vai chegando às pessoas mais próximas e as reações vão sendo as mesmas, enquanto a visada vai questionando – Porquê a mim? A única resposta possível é – Porque sim! Porque calhou; porque tinha que ser; porque sempre aparece a alguém. Quantos mais foram sabendo, poucos ainda, maior foi sendo a onde se solidariedade e apoio. Como é que aparece uma «coisa» destas a uma pessoa tão saudável? A questão colocada pela maioria.
Ouvidos especialistas, cirurgiões, amigos e familiares logo se iniciou uma corrida contra o tempo. A ida ao IPO do Porto concretizou-se com alguma rapidez e depois de avaliada a situação, houve que começar a pensar nas formas de atacar o cancro. Da parte da paciente viu-se uma coragem sem limites, uma enorme força de viver e uma prontidão para dar luta à doença. As forças, que fisicamente podiam por vezes ir fraquejando como é normal, não o demonstrava nunca, nem eram exteriorizados. A fé ia aumentando e a confiança nos médicos e nas suas equipas sempre persistiu.
O acompanhamento no IPO do Porto começou a ser feito com regularidade e os exames, de todo o tipo, foram-se sucedendo até que chegou o momento da verdade. A paciente foi colocada perante um dilema bem cruel. Retirar parte e arriscar, ou retirar o todo, situação que teoricamente garantiria maior sucesso em termos de irradicação do tumor. Decidida, como sempre, acabou por tomar aquela que foi a melhor das decisões e que contou com todo o apoio da equipa médica, do marido e demais familiares. Registe-se o que representa para uma pessoa, o dilema de ter que optar por algo, que tanto pode dar certo como manifestar-se errado ou insuficiente. O futuro o viria a dizer.
Decisão tomada, há que ir em frente. No dia 29 de novembro deu-se a intervenção, tal como combinado, com tudo preparado, com uma paciente cheia de esperança, onde nunca vi qualquer desistência ou menor vontade de viver. Bem pelo contrário. Correu muito bem e os 4 dias de hospitalização correram lindamente, com os familiares a acompanhar em permanência e a dar todo o apoio. Força, era coisa que ali não faltava e a doente correspondeu com enorme coragem, nunca exteriorizando o seu sofrimento, que tinha, como é natural, mas que fazia questão de não deixar que transparecesse em demasia. A equipa do IPO do Porto foi fantástica, desde os cirurgiões, enfermeiros, auxiliares e demais pessoal. Os próprios vizinhos de quarto encarregavam-se de dar ânimo reciproco aos seus parceiros de luta e de fazer companhia, onde se criaram laços de amizade que ainda perduram. O Contacto ainda hoje se mantém, cada um com a sua sorte, mas todas com a mesma coragem e esperança, que essa nunca pode morrer.
O regresso a casa foi bom e a adaptação acabou por acontecer de uma forma natural, onde não faltou apoio e carinho de familiares e amigos. Depois iniciam-se os tratamentos de quimioterapia, de 9 de janeiro a 28 de abril, com periocidade quinzenal, sempre realizados no IPO do Porto. Destes tratamentos veio uma das maiores mágoas: A queda do cabelo! Bom, mas houve que substitui-lo temporariamente por originais e bonitos lenços, chapéus e toucas. A adaptação acabou por se verificar com alguma naturalidade e hoje o cabelo branco até lhe fica muito bem.
Vou deixar aqui algumas das frases e pensamentos marcantes, desta paciente a quem o “azar” bateu à porta, mas também a SORTE de acreditar numa equipa médica de excelência e porque não, na fé que professa e lhe dá força.
«Custou-me muito decidir daquela forma, mas senti que era a única que me ia manter viva; Aqueles médicos tiveram mãos de ouro; O que mais desejo a todos a quem esta doença bate à porta é que tenham a mesma sorte que eu tive. Agradeço a todos que me trataram com tanta atenção, desde a médica de família, ao médico que me operou, a todos os outros médicos, enfermeiros e auxiliares do instituto Português de Oncologia do Porto, às minhas amigas e como os últimos são sempre os primeiros, os meus familiares, pelo apoio e carinho».
Trouxe aqui este exemplo, que vivi de perto, para lembrar que a cura do cancro é possível, e para que a todos quantos tem o azar de se cruzar com um inimigo destes, nunca desistam, porque é possível dar luta ao cancro e vencê-lo.
A prevenção está na sua mão! Dê o primeiro passo e faço o rastreio. A Luta ao cancro está nas mãos de todos nós! Vamos abater este inimigo!
Mário Fernandes
01.11.2014

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