segunda-feira, 24 de novembro de 2014

CRÓNICA DE OPINIÃO AO SÁBADO NO SEMANÁRIO «NOTÍCIAS DE ESPOSENDE»





PUBLICAR É PERPETUAR MEMÓRIA E ENRIQUECER PATRIMÓNIO

«PERTO DO FIM»
A divulgação do património da Freguesia de Curvos, nomeadamente o cultural, sempre foi uma das minhas preocupações e uma das prioridades da Junta de Freguesia de Curvos a que tive o prazer e a honra de presidir.

Sempre vi na publicação de livros, como este, sobre uma determinada comunidade uma forma de divulgar para dar a conhecer, divulgar para enriquecer e divulgar para ensinar.

Esta segunda publicação da Junta de Freguesia de Curvos, da autoria da investigadora e escritora Curvense, Inês Martins de Faria, visou dar a conhecer os usos e costumes de muitas famílias de Curvos, de um período concreto, compreendido entre 1720 e 1936. Trata-se de um livro de leitura extremamente fácil e muito agradável, com base na pesquisa e estudo, sobretudo de testamentos, mas também de registos paroquiais – nascimentos, casamentos e óbitos – de passaportes e de documentos particulares.

É um livro com base científica, com um excelente “casamento” entre a história verídica e um suave toque de romance, composto por onze capítulos, com uma ou duas histórias no final de cada um deles. A historiadora consegue motivar-nos e cativar-nos, quer pela investigação, quer pelo romance, e falando-nos de lugares bem concretos, famílias bem conhecidas e de acontecimentos e histórias curiosas, que nos tocam e nos marcam.

É interessante ler histórias de casas e famílias nossas conhecidas como, a Casa do Casal, a Casa do Souto, a Casa do Rio, a Casa dos Adrianos, a Casa da Quinta da Rateira e muitas outras. Das magníficas histórias que este livro nos conta, aproveito para salientar uma das mais curiosas, intitulada ‘’Solteira e virgem a crédito’’, que se terá passado na segunda metade do séc. XVIII, em Vilar, em que ficou combinado, entre pais e filha, que esta ficasse solteira e virgem, a troco de setenta e quatro mil reis... Era natural, numa família, que os filhos acabassem por sair e os pais preparavam a velhice deles, garantindo, assim, a companhia daquela filha no fim da vida… É isto! São histórias interessantíssimas como esta, que nos fizeram, a mim e a muitas outras pessoas, ler e, um dia, reler este livro, para assim recordarmos um pouco da história e do passado das gentes de Curvos e porque não de famílias de Curvos que se encontram ramificadas por todo o concelho e até por outras paragens como é natural.

Depois do primeiro livro da Dr.ª Inês Faria, sobre Curvos – “A Igreja a Terra e os Homens – As visitas pastorais e outros achados em Curvos, Arcebispado de Braga” – editado em 2003 por esta Junta de Freguesia, foi com todo o prazer que para mim constitui a publicação de “Perto do Fim. História e romance com base em testamentos, 1720-1936”. Do terceiro e quarto livros já aqui falei. Gente da Minha Terra e Curvos Encantos e Letras Soltas. Prosa e Poesia. Em breve trarei cá o primeiro intitulado “A Igreja A Terra e os Homens – As Visitas Pastorais e Outros Achados em Curvos, Arcebispado de Braga” editado no ano de 2003.

As nossas raízes remetem-nos à terra, ao seu presente e ao seu passado, tentando infiltrar mais e mais no solo fecundo e dele extrair um pouco do que desse. Uma terra, um povo! São riquezas infindáveis, por mais que raízes busquem e se alimentem delas. Na ânsia e saber do povo, transformámos as famílias em quadros de carão, onde se podem saber todos os atos vitais praticados na paróquia pelos indivíduos que a compõem: o casamento, o nascimento e a morte.
Aprofundámos enquanto a terra deu! E isto foi até cerca de 1600, ou seja, dali em diante. Primeiro em Braga, no arquivo distrital, depois em Esposende, no arquivo do registo civil e, por fim, em curvos, no arquivo paroquial. Mas ainda havia muitos caixotes de livros com pó e teias de aranha à volta, lembrando a neblina em que se esconde o Desejado, rei D. Sebastião, cujo levantamento, na altura própria, teria feito um reino feliz. E foi à procura dessa felicidade que soprámos a poeira e vasculhámos o interior.

Procuramos neles mais histórias e muito além delas. Entre vários documentos do passado, dois livros de registo de testamentos vieram enriquecer os cartões quadrados e também a base de dados paroquial com os testamentos, que já começáramos no arquivo da Câmara Municipal de Esposende. Neles, eram as estratégias de sucessão e herança que mais nos enriqueciam; também os bens móveis, os animais e as roupas, de entre muitas outras surpresas…

Surge assim esta história da gente entre a vida e a morte, dos seus bens, das suas estratégias familiares de modo a garantir o cuidado do corpo e da alma dos que se preparavam para a última viagem. Foi com base nos testamentos, sobretudo, que a construímos. O facto de termos acesso aos restantes acontecimentos da vida de cada um, permitiu-nos ver para além dos testamentos e enriquecer os capítulos. Apresentamos também algumas histórias que, embora romanceadas, teimam sempre na veracidade dos factos que fizeram a História.

Publicar sobre Curvos dignifica as suas gentes e simultaneamente contribui para a História de Portugal, pela comparação que se torna possível com outras localidades e outros povos. É assim, com publicações como esta, que enriquecemos o nosso património: investigando, estudando e publicando! Quanto melhor conhecermos o passado de Curvos melhor preparados estaremos para construir e desenvolver a nossa terra: CURVOS!

Por tudo isto, que reafirmo aqui um apelo a todos aqueles que queiram conhecer melhor a Freguesia de Curvos, que o melhor que há a fazer é começar por conhecer o seu passado. Aqui está uma excelente oportunidade para o começar a fazer: "Perto do Fim" um livro de História e Romance com base no estudo de testamentos do período de 1720 a 1936.

A riqueza de uma terra não se faz só de investimentos em obras, mas faz-se muito da riqueza das suas gentes, da sua história e do seu património”. Este livro ajuda a perpetuar o passado de Curvos, a sua riqueza, o seu património e a tradição das suas gentes”.

Tive o prazer de na altura da apresentação do livro, no ano de 2003 lançar uma campanha de solidariedade, doando 1 euro por cada livro vendido, a favor de uma jovem Curvense há data a necessitar de uma intervenção cirúrgica. A ajuda foi preciosa a intervenção realizou-se e a jovem realizou assim aquilo que na altura era um sonho e foi tornado realizado.

Associar a solidariedade à cultura foi de uma enorme felicidade, pois só no dia da apresentação conseguimos vender mais de uma centena de livros. A cerimónia foi lindíssima, presidida pelo Presidente da Câmara Municipal de Esposende, João Cepa e contou com o Salão Nobre a abarrotar.

AI PORTUGAL, PORTUGAL! UM PAÍS LIGADO À MÁQUINA.

Ligados à máquina» podia ser o título de um qualquer livro a retratar a atualidade portuguesa. Um país ligado à máquina… financeira da troika e dos mercados; Um governo ligado à máquina… partidária e a interesses de classes; Um povo ligado à máquina... do Estado, à pobreza e à austeridade; Ligados à máquina parece estarmos todos nós. Uns a isto, outros aquilo, a verdade é que a independência parece um bem cada vez mais escasso. Ligados ao banco, ao computador, ao telemóvel, à máquina fiscal, à austeridade, às preocupações e às dificuldades, todos estamos de alguma forma ligados.

Desta semana tivemos a aprovação VERGONHOSA no Parlamento, da reposição das subvenções aos ex. titulares de cargos públicos, mais parecendo uma provocação a todos aqueles que passam dificuldades e a toda uma nação. Continuem assim, com total falta de vergonha e depois não se queixem. Numa altura destas, com o país sem dinheiro para o essencial, basta ver o que se passa na Saúde e, os nossos parlamentares a pensar em mordomias em proveito próprio, para uma classe já por si bastante beneficiada. Até dói! Ignorar os milhares de desempregados sem qualquer subsídio, as famílias em dificuldades e um povo farto da austeridade é de todo lamentável.

Mário Fernandes
22-11-2014

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