domingo, 18 de maio de 2014

MAIS UMA CRÓNICA DE OPINIÃO NO SEMANÁRIO «NOTÍCIAS DE ESPOSENDE» DE 17-05-2014

METADE DAS FAMÍLIAS PORTUGUESAS NÃO TEM FILHOS E MAIS DE 800 MIL PESSOAS VIVEM SÓS
NO 20º ANIVERSÁRIO DO «DIA INTERNACIONAL DA FAMÍLIA», CELEBRADO ESTA 5ª FEIRA, DIA 15 DE MAIO, O “INE” DIVULGOU DADOS PREOCUPANTES!

Já me tenho referido por inúmeras vezes a este problema da baixa natalidade que afeta o país e que vai ter péssimas consequências a médio e a longo prazo. Estará Portugal enquanto país em risco de desaparecer? Não está, mas se este caminho não for rapidamente invertido a sociedade portuguesa vai sofrer uma forte descaraterização social. O envelhecimento da população é já hoje uma triste realidade e está a agravar-se a uma velocidade preocupante. Com famílias pequenas torna-se mais difícil o apoio aos idosos, que se vêem votados à solidão, de entre quatro paredes, ou colocados em lares onde a massificação pode levar a uma certa perda de humanidade.
As famílias tradicionais estão a deixar de o ser e as numerosas estão em vias de extinção. O normal começa a ser ter um filho ou mesmo não ter nenhum. As pessoas até aqui evocavam a prioridade à formação, ao emprego e à criação de condições mínimas [que em muitos casos eram máximas!?] para justificar a opção por um único filho ou mesmo por não ter nenhum. Hoje justificam-no com o desemprego ou com as dificuldades financeiras.
A entrada mais tardia dos jovens no mercado do trabalho, a que a escolaridade obrigatória deu alguma ajuda e o facto de um grande número de jovens estudar até muito para além dos 20 anos, veio atrasar a idade para o casamento, para a vida conjugal e para a parentalidade.
Era comum, até há bem pouco tempo ouvirem-se os jovens a afirmar “Casar? Talvez, mas só depois de acabar o meu curso… de ter um trabalho… de ter o meu carro… e a minha casa!”.
Ou seja, não foram só as más políticas, que as houve e muitas, que contribuíram para esta alteração de paradigma na família. O chamado desenvolvimento e a modernidade também contribuíram para estas novas realidades, ajudadas pela legalização do aborto, dos casamentos homossexuais, pela penalização fiscal aos agregados numerosos, pela falta de incentivos à natalidade, pela emigração jovem, pela falta de emprego e por empregos instáveis e ainda por vários outros factores, cuja lista não mais terminaria de enumerar.
Certo, certo, é que a natalidade diminuiu drasticamente e a população está mais envelhecida que nunca, até porque felizmente a esperança de vida aumentou bastante. Outros dados existem, cujas realidades são bem visíveis, como é exemplo o forte aumento das uniões de facto que num curto período de tempo quadruplicaram. O Casamento civil sofreu uma grande queda, bem como o religioso. Parece que a juventude se tornou alérgica a compromissos, pelo menos dos mais formais, optando por se «juntar» e logo se vê no que dá.
Voltando agora ao «Dia Internacional da Família» celebrado esta quinta-feira, dia 15 de maio, importa elencar aqui as principais razões para a sinalização desta data que se vem celebrando desde o ano de 1994, por opção da Organização das Nações Unidas. Os principais objetivos que terão estado na origem desta feliz evocação centram-se no destaque a dar à importância da família na estrutura do núcleo familiar e o seu relevo na base da educação infantil; O reforço da mensagem de união, de amor, de respeito e de compreensão necessárias para o bom relacionamento de todos os elementos que compõem a família; Uma chamada de atenção da população para a importância da família como núcleo vital da sociedade e para seus direitos e responsabilidades e para sensibilizar e promover o conhecimento relacionado com as questões sociais, económicas, culturais e demográficas que afetam as famílias e as próprias sociedades.
É inequívoco que a família é o primeiro contacto social da criança, onde esta aprende a conviver com outras pessoas, a respeitar regras, comportamentos e atitudes, a respeitar os outros e a desenvolver laços de afetividade e sentimentos tão especiais como; carinho, proteção, afeto e amor de entre muitos outros.
Se fizermos uma análise sociológica da evolução da família [e não nos faltam elementos para o fazer, com recurso à história e a dados estatísticos como os que podemos observar em portais como o do “INE” e da “Pordata”, facilmente concluímos pela rápida evolução que se tem verificado, como são disso bens exemplos a independência da mulher e a sua entrada no mercado do trabalho, o surgimento de novas profissões e o abandono de certas atividades tradicionalmente dedicadas à mulher, são alguns dos fatores que levaram as famílias mudarem os seus padrões. Felizmente, nos novos casais já não existem tarefas só para a mulher ou só para o homem, também a evolução foi enorme, sendo que hoje a grande maioria dos casais [pelo menos dos jovens] compartilham tarefas e responsabilidades.
Também é verdade que a dita modernidade trouxe alguma instabilidade às famílias, devido a novos valores, ou à falta deles, ameaçando o conceito tradicional de família, composta por um pai e uma mãe.
Os pais têm hoje enormes dificuldades em continuar a garantir aos seus filhos e educandos tudo aquilo que na última, ou duas últimas décadas lhes deram e proporcionaram. A crise, não só a financeira, também a social e a crise de valores veio obrigar as famílias a priorizar muito bem as suas necessidades. Os filhos estão agora a ver os constrangimentos e as dificuldades da vida e por conseguinte um futuro «apertado» no qual já não vai ser possível ter tudo nem dar tudo a todos.
As famílias deparam-se hoje com novas realidades, cheias de dificuldades só ultrapassáveis com a união de esforços, a entreajuda e a solidariedade inter-geracional.
Em Portugal a natalidade tem vindo a reduzir drasticamente, fazendo com que, em cada hora, nasçam menos seis crianças do que seria necessário para se garantir a renovação de gerações e, em vez de se encarar este problema de frente, apoiando-se fortemente a parentalidade, continua-se a penalizá-la tanto mais quanto maior o número de filhos, o que contrasta fortemente com o que vem acontecendo na maioria dos países europeus!
O fecho de Escolas, centros de saúde, maternidades, hospitais, Juntas de Freguesia e outros serviços públicos essenciais e de proximidade, o abandono do interior do país, bem como a crise económica e o desemprego tem contribuído decisivamente para esta baixa de natalidade e para o envelhecimento da população. Valham alguns Municípios e até Juntas de Freguesia pela próatividade na tomada de medidas de incentivo à natalidade e à fixação de pessoas nos seus territórios.
Urge uma tomada de medidas que revertam esta tendência de envelhecimento da população, com o apoio à natalidade, à juventude, à criação de emprego e auto-emprego, às famílias e às empresas. Entendo que uma sã vivência familiar é indispensável à formação das pessoas e muito importante para o futuro da humanidade.
Uma nota positiva para as inúmeras atividades desenvolvidas esta semana no nosso concelho para evocar este «Dia Internacional da Família», com conferências, encontros e representações.
Uma vez que esta crónica sai a público precisamente no dia 17 de Maio de 2014, dia anunciado para a saída formal da «Troika» de Portugal, vamos a ver se com esta saída se inicia um novo ciclo de crescimento [apesar dos últimos dados que mostram uma estagnação da economia, depois do crescimento nos 3 anteriores trimestres] e de confiança, que venha restituir a esperança às portuguesas e aos portugueses!
Mário Fernandes
2014-05-17


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