terça-feira, 14 de abril de 2015

À CONVERSA COM O JOVEM POETA ESPOSENDENSE RICARDO BRAGA



RICARDO BRAGA É O MAIS JOVEM ESCRITOR A EDITAR UM LIVRO DE POESIA

JOVEM ESPOSENDENSE PUBLICOU ESTE ANO O SEU PRIMEIRO LIVRO DE POESIA «O ESPAÇO DO SER»

Mais uma conversa, com um jovem esposendense que se destaca pelo seu dom poético. Poético e não só. O dia e o local escolhido, não podiam ser melhores. O local, a Casa da Juventude, em Esposende, foi excelente, pelo que significa e pelo simbolismo que encerra e o dia foi o “Dia Nacional da Juventude”. Estando perante um jovem, esta associação foi muito feliz e permitiu-nos alargar a conversa aos jovens, à sociedade atual, aos seus objetivos e ao futuro.

Ricardo Braga, esposendense nascido em Braga, em 10 de março de 1999, é filho dos meus caros amigos, o poeta Jorge Braga e a professora Rosália Pereira e tem uma irmã com 12 anos.

Com residência em Esposende, frequentou a escola primária da cidade, transitando depois para a Escola Básica António Correia de Oliveira. Desta passou para a Escola Secundária Henrique Medina, onde se encontra atualmente a frequentar o 10º ano – curso de ciências.

«O Espaço do Ser» foi o pretexto que nos trouxe a este encontro e a esta conversa, mas o meu interesse não se esgota neste livro. Sei que o Ricardo desde bem cedo começou a dar nas vistas nesta arte nobre de juntar as letras e com isso construir palavras, que acasaladas da forma que só ele sabe, nos dão uma luz digna de registo. O meu jovem interlocutor de hoje tem-se notabilizado em inúmeros concursos de escrita – jogos florais, tanto escolares como promovidos por entidades exteriores às escolas, autarquias e associações. Os prémios esses, segundo afirma, não são a sua prioridade, porque o seu principal objetivo é dar largas à “caneta” e passar para o papel, muitas vezes para o telemóvel, aquilo que a cada momento lhe vai na alma e no pensamento.

Estamos diante de um jovem com uma postura sénior, com um pensamento muito bem estruturado e com ideias e objetivos já muito claras. Sabe avaliar o que se passa à sua volta e tem ideias, e muitas, que gostava de ver concretizadas. Tem muitos sonhos e espera muito da sociedade. Acha, e ainda bem, que a geração dele tem muito para dar a Esposende e à sociedade. Eu concordo, sou um acérrimo defensor dos nossos jovens e dos seus valores.

A conversa segue e coloco algumas questões bem concretas ao Ricardo: O primeiro poema, os seus gostos pessoais, o seu dom para a escrita, a sua forma de escrever, os seus ídolos, a família, a influência do seu pai e muitas outras questões e, as respostas, sempre prontas não se fizeram esperar.

GOSTOS PESSOAIS
Música: anos 80 e 90, rock n’rol, Bom Jovi, Guns n’Roses.
Cantor: Bon Jovi. As letras das suas canções trazem-lhe inspiração e uma mentalidade que cultiva a esperança, do tipo “não desistas, tu consegues”.
Desporto: Gosta de futebol e de parkur, que também pratica, mas a nível amador… risos!
Pintura: Gosta de pintura surrealista, porque esta obriga-o a puxar pela imaginação. Aprecia o abstrato, porque isso lhe permite dar a sua própria interpretação.
Género literário: Gosta de literatura não contemplativa, modernista e crónicas.
Ídolo: O escritor Mário de Sá Carneiro. Este é mesmo o seu principal ídolo, “devorando” toda a literatura deste escritor que admira e lhe serve de exemplo e de inspiração.

“O ESPAÇO DO SER”
As primeiras leituras que fez, bem novo, foi dos poemas do pai. Tinha-os lá por casa e começou a lê-los. Escreveu o primeiro poema quando tinha apenas seis anos de idade. Ditou-o ao pai, que lho escreveu numa folha de papel. Aos sete anos sim, escreveu, pela própria mão um poema e não mais parou.

Os poemas deste livro, que saíram de uma difícil seleção, datam de 2010 e vão até ao ano de 2014.

O título do livro foi escolhido pelo Ricardo, que se aconselhou em casa, com a família. Quanto aos poemas, primeiramente ia-os mostrando lá em casa, aos pais, mas hoje, já faz de forma diferente. Tornou-se autónomo e conforme vai escrevendo vai mostrando alguns dos seus poemas a dois amigos, o “Guilherme Silva – um amigo muito sincero e que lhe dá bons conselhos e o Diogo, que é um outro amigo que lhe dá muita força”. Lembra ainda uma das professoras que mais o marcou, positivamente, que foi a sua professora da primária, profª Eulália Pereira, que apercebendo-se do seu dom para a escrita, sempre o incentivou a escrever. Assim como a Idiema Salgueiro, a prefaciadora de “O Espaço do Ser”, que o apoiou num momento mais difícil, tornando-se assim a sua “madrinha” literária.

Confidenciou-me ainda que também vai escrevendo alguns poemas nas próprias aulas. Só o escrevo isto aqui, porque estou certo que os seus professores não vão ler esta crónica, que faço questão de dedicar ao Ricardo Braga.

Questionei o Ricardo se o nome pai o condiciona: Foi perentório na resposta, tal como em quase todas as respostas que me foi dando; No início condicionou, mas neste momento acho que já não condiciona. Agora, influenciar influencia, como é natural e influencia positivamente, até porque sempre apreciei muito os poemas e os livros do meu pai”. Mostrou-se convicto que o facto de ser filho de poeta lhe traz ainda mais responsabilidades até porque como afirma, com pai poeta, mãe professora lhe traz enormes responsabilidades, nada que o assuste, bem pelo contrário, gosta de dar sempre o seu melhor e de superar as expectativas de todos aqueles que o rodeiam. Família, amigos e conhecidos.

No futuro espera continuar a escrever e talvez editar, sabe que é difícil viver da escrita num país e num concelho como o nosso, mas espera ir satisfazendo este gosto pela escrita e pela própria leitura.
Quanto a uma profissão, aqui ainda se mostra muito indeciso, guardando para daqui por cerca de ano e meio a decisão a tomar quanto à opção a seguir, no que toca ao ensino superior.

Quanto à edição deste seu primeiro livro «O Espaço do Ser», elogia a “Editora Versbrava”, do grupo Seda Publicações que tanto o apoiou, pela aposta na sua pessoa e nos seus textos e o desejo de que o município continue a apostar seriamente na cultura e nos jovens valores.

Estive na Casa da Juventude, com “casa” cheia na apresentação deste livro e gostei de ver o “à vontade” com que o Ricardo se dirigiu à plateia. Foi uma sessão muito interessante e animada a terminar com a tradicional sessão de autógrafos. Com a conversa bem animada, pedi ao Ricardo que elegesse o poema que mais gosta neste livro e ele aqui está;

SE OS MEUS OLHOS FOSSEM MÁQUINAS FOTOGRÁFICAS
“Ai se os meus olhos fossem máquinas fotográficas;
Registava do mundo a sua beleza,
Sorrisos e emoções,
Caras e corações…
Vocês sabem o que eu quero dizer…
Se os meus olhos fossem máquinas fotográficas,
Registava vidas inteiras,
Com sentimentos e pensamentos;
O som da chuva,
E o silêncio dos ventos…
Vocês sabem o que eu quero dizer…
Se os meus olhos fossem máquinas fotográficas,
E o sol me espreitasse à janela,
Registava-te a ti, por seres a criatura mais bela…”

Perguntei ao Ricardo se também eu podia escolher um dos poemas para transcrever aqui nesta crónica. O Ricardo ficou um pouco aflito, diz ele; “Mas, não me diga que vai publicar poemas meus na entrevista a publicar no jornal? Claro, Ricardo.
Aqui fica o poema que mais gosto;

OS LIVROS
“Um livro é um amigo,
Que anda sempre contigo.
Leva-te a cantar,
A rir e a chorar,
Faz-te viajar sem sair do lugar;
Leva-te para lá do universo,
A um mundo de imaginação.
Discute política e desporto,
Física e Ciência,
Medicina e Português,
E faz-te ler outra vez.
É um companheiro de viagem;
Um na mão e outro na bagagem.
Está contigo antes de dormir,
Na hora de estudar,
E de manhã, ao levantar.
Há melhor do que um bom livro
Para acordar?
Uma aventura cheia de ação,
Ou um romance estranho
Para ler na casa de banho.
Fiel companheiro,
Ilustrado em televisão?
Prefiro-te em papel,
Mais valioso que um anel.
Amigo,
Sei que és fiel…”

E agora, um poema muito especial, um dos que o Ricardo declamou na sessão de apresentação do seu livro, na Casa da Juventude, no passado dia 7 de março.

MÃE
“Minha mãe de cabelos aos caracóis
É bonita para mim;
Reluzente como mil sóis,
Nunca vi ninguém assim!
Suas palavras doces de ternura
Caracterizam o seu ser,
E o seu passatempo predileto
É dar asas ao saber.
Ela tem olhos cor de chocolate
E seus lindos lábios
São vermelhos escarlate.
Quando está a escrever,
Suas mãos são pombas a voar
Sensação só comparada
Ao seu belo e suave andar.
Para mim é a pessoa
Sem a qual não posso viver;
É assim como ela
Que eu quero ser.
Ela é feliz,
É uma pessoa sem igual,
Ela é…
… a minha mãe de cabelo aos caracóis.”

“FILHO DE POETA, SABE… ESCREVER”
Não podia deixar de abordar um pouco a obra do pai do Ricardo, o meu caro amigo Jorge Braga, até porque ao falar do Jorge ao seu filho Ricardo verifiquei uma reação de grande respeito e admiração, como é natural, mas ao mesmo tempo de alguma independência. Curiosa a reação do Ricardo quando lhe digo: Ricardo sabes que acabas-te por roubar a vez ao teu pai? A resposta do jovem foi bem elucidativa… uma forte… gargalhada, oh. Ainda me disse que está no início, que escreve por puro prazer e que espera continuar a fazê-lo da mesma forma no futuro.
Com esta conversa com este jovem poeta, pretendo homenagear todas e todos os esposendenses que se dedicam à escrita, seja de que tipo for, porque desta forma estão a enriquecer o nosso património e a nossa cultura.

Do Jorge Braga, que tão bem conheço aproveito para deixar uma pequena referência à já sua grande obra, com vários livros editados e muitos saraus e exposições realizadas. Não me esqueço que terei sido das primeiras pessoas a convidar o Jorge a realizar uma exposição intitulada «Expoética, o Mundo em três tempos» que associou a escrita aos valores ambientais e à defesa da sustentação do meio ambiente e dos recursos naturais. Foi em curvos e contou com muita afluência e a opinião generalizada foi muito positiva. Também tenho acompanhado quase todos os lançamentos dos seus livros:

Em 1991, publicou o seu primeiro livro de poemas "Elos", abrindo assim caminho a um novo percurso pelo mundo das letras. Em 1992, lança "Paradoxia" e, dois anos mais tarde, edita um novo livro, intitulado "Galarim", onde se afirma como poeta no mundo académico, sendo a sua apresentação promovida pela Universidade Lusíada. Em 1997, publica "Excitações da Razão" e dá início a uma forma de escrever poesia, a Crónica Poética. Em 2005, edita o seu quinto livro, "Plectro Inato", uma obra poética que versa a imaterialidade e o intemporal na sua essência em contraste com os valores do mundo e, em 2014, surge com "Amenas Tempestades".

Obrigado, Ricardo. Gostei muito destes momentos passados contigo. Um jovem cheio de energia e com muitos sonhos para concretizar. Continua a fazer o que gostas e vais ter, estou certo, um futuro muito risonho. Um abraço.

NOTA FINAL: O Dr. António Costa acaba de deixar, a presidência da Câmara Municipal de Lisboa, muito antes de completar metade do mandato para o qual foi eleito. Isto significa que os lisboetas o elegeram, mas quem efetivamente vai governar e durante mais tempo é o seu número dois de então, o Dr. Fernando Medina. A isto, chamo BATOTA. Nunca gostei destes esquemas, do tipo, eu encabeço, mas logo que surja um tacho aparentemente melhor e mais apetecível, aqui vou eu.

Por isso, proponho uma alteração à LEI no sentido de clarificar situações de abuso, como esta. Sempre que um candidato abandone e ainda não esteja decorrido metade do mandato, realizar-se-ão novas eleições, para eleger novos protagonistas. Esta minha intervenção não se dirige em exclusivo a este caso, mas a todos os que se tem verificado e venham a verificar.

Uma nota muito positiva pelo programa da Semana Santa de Esposende deste ano, pela sua diversidade e riqueza.



Na próxima semana vou estar à conversa com o jovem músico e maestro Diogo Costa. A não perder.

Mário Fernandes;
11-04-2015

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