sábado, 29 de julho de 2017

CARTA ABERTA


- À ELSA FERNANDES
- E AO CENTRO SOCIAL DA PARÓQUIA DE CURVOS

Caríssimos;
Elsa Fernandes;
Centro Social da Paróquia de Curvos;
Pais e encarregados de educação;
Utentes e demais comunidade.

Cordiais saudações.

Não poderia nunca, por enorme gratidão, deixar passar em claro, um momento tão especial como o presente, deixando aqui um testemunho pessoal de agradecimento, pela forma absolutamente exemplar, como a Elsa Fernandes se entregou e dirigiu esta distinta Instituição nos últimos cerca de 20 anos.

Estávamos nos idos anos de 1997 quando a Elsa, depois de um processo natural de seleção a que foi sujeita, iniciou funções no Centro Social de Curvos. Sei que houve quem lhe desse o beneficio da dúvida e quem desconfiasse. Até a “fabriqueira” foi chamada a pronunciar-se. Tudo natural, tudo normal.

Nada melhor do que iniciar funções como… motorista. É verdade. No início apenas trabalhava a tempo parcial, fazendo os transportes na “Mitsubishi” de nove lugares. Tal como eu esperava, o seu bom desempenho logo se começou a notar e tanto os pais como os utentes, na altura apenas constituídos pelas meninas e pelos meninos, começaram a nutrir pela “motorista” uma especial simpatia e carinho. Claro que para isso contribuiu a sólida formação humana e o gosto por ajudar.

Com o passar do tempo, a direção, que na altura contava com o saudoso “Freitas”, atenta, soube aproveitar as potencialidades desta sua nova colaboradora, a quem convidou para passar a integrar o quadro de pessoal e assim dedicar-se a cem por cento ao Centro. Como se vê, não houve nem cunhas, nem amiguismo. Houve um percurso normal e natural e uma progressão serena, com base na competência e cimentada em princípios, como a humildade, o querer e o ser. Lidar com pessoas não é nada fácil. São muitas as sensibilidades e os interesses. Gerir uma equipa de cerca de três dezenas de colaboradoras e mais de trezentos utentes e seus familiares é uma tarefa difícil e monstruosa e tu conseguiste-o com grande serenidade e harmonia, mas ao mesmo tempo com muita responsabilidade e exigência e os resultados são de todos conhecidos. Arrisco-me a afirmar que melhor era impossível. Diferente sim, melhor não acredito.

A sua capacidade organizativa e o seu saber fazer cedo deram nas vistas e foi chamada a secretariar a então Diretora, a “Teresinha”, sobrinha do presidente da direção.

Entretanto, por razões do foro pessoal, a “Educadora Teresinha”, que andava a concorrer há tempos para o setor público, foi colocada num estabelecimento na Estela e de um momento para o outro apresentou a sua, compreensível, demissão.

Quem foi chamada a substitui-la?

Foi a Elsa Fernandes e logo aceitou.

Esperava-a uma missão do tamanho do mundo: Dar continuidade ao trabalho até ali desenvolvido por pessoas de excecional desempenho, como foi o caso da D. Arminda, que também se havia reformado e deixado grande saudade junto de toda a comunidade. Lembro-me como se fosse hoje, a festa de despedida que lhe foi feita, com uma missa e tudo. No final da missa, na igreja, houve lugar a algumas intervenções que visaram o reconhecimento do trabalho desenvolvido e eu fui uma das pessoas que subi ao púlpito e deixei palavras de louvor e agradecimento à Dª Armindo. Esta é também uma das razões que me permite estar hoje a dirigir-me a todos vocês. Fi-lo com a Dª Arminda e por maioria de razão não podia deixar de o fazer com a Elsa.

Bem, mas a Elsa não teve qualquer receio. Bem pelo contrário. Aceitou o lugar e logo pôs mãos à obra. Se pôs.

Pegou numa instituição pequenina, com cerca de 50 utentes, algumas, poucas valências e à volta de uma dúzia de colaboradoras. Havia uma carrinha e as instalações limitavam-se à ex. residência paroquial, na sua forma e tamanho originais.

Houve que apostar na qualidade dos recursos, alargar as respostas sociais e educacionais, remodelar e ampliar as instalações, motivar as colaboradoras, acarinhar os utentes e cativar novo público-alvo.

Os órgãos sociais, aos quais também tive, durante algum tempo, o prazer de pertencer, incluindo o Pároco, presidente por inerência do cargo, deram o seu apoio incondicional.

Hoje temos um Centro moderno, com todas as valências e mais algumas, como é o caso da Cantina Social, única das IPSS’s no concelho, quadruplicou o número de viaturas, as instalações foram intervencionadas, modernizadas e ampliadas e os utentes a passar as três centenas. Funcionários, neste momento, são cerca de trinta.

Tudo isto gerido pela Elsa e a sua fantástica equipa. Equipa que alias a Elsa sempre soube motivar e ter do “seu” lado, com o único propósito de servir com excelência em todas as valências, para o bem-estar dos utentes e da própria comunidade local e até concelhia, pois hoje, como sabemos, recebe utentes de praticamente de todas as freguesias do concelho e de concelhos vizinhos, como Barcelos.

Não foi a Elsa que fez tudo. Não. Nem ela nunca puxou para si própria os “louros” do sucesso. Mas eu que estou de fora, mas por dentro, sei que foi graças a ela, com o seu saber e humildade que conseguiu sempre da direção o que era preciso, que pôde contar com a solidariedade e o profissionalismo da sua equipa e que sendo quem é e como é, soube com grande mestria ganhar o carinho e o respeito dos seus utentes, desde os mais pequenitos, do berço, aos mais velhos, da valência do Centro de Dia.

A Elsa ganhou o respeito não só da instituição, órgãos sociais, colaboradoras, utentes e familiares, como e principalmente das instituições parceiras, com quem sempre contou, como a autarquia local (que liderei), do Município de Esposende e da Rede Social, do Instituto da Segurança Social, do Instituto do Emprego e Formação Profissional e todos os demais parceiros com quem foram protocolizados serviços e valências.

A Elsa foi, nestes últimos 20 anos a cara e o corpo do Centro. A sua imagem. Ela sabe-o, mas nunca se vangloriou disso, bem pelo contrário, sempre geriu de uma forma discreta, mas sábia e competente, deixando que as conquistas e o sucesso fossem distribuídos pelas suas colaboradores e pela própria instituição.

A Elsa implementou um sistema de gestão de grande eficácia e eficiência. Conseguiu sempre, fazer cada vez mais, sem que isso implicasse um aumento direto de custos. A sua ação não se limitou às áreas social e educacional. O Centro tem hoje uma oferta global de serviços a satisfazer as necessidades e anseios de toda a comunidade. Deixa uma Instituição renovada, moderna, de qualidade reconhecida, uma referência no distrito e com uma boa saúde financeira. É verdade! Até no panorama nacional se salientaram, vencendo, por exemplo, um prémio nacional de inovação do MIES.

Quem conhece a Elsa sabe do que é que ela é capaz e sabe, porque disso deu provas, que primeiro estão sempre os mais frágeis, os mais desprotegidos e os mais necessitados. Só depois disso, vem todos os outros. A Elsa só sabe estar de corpo e alma e nestes últimos 20 anos, deu tudo pelo Centro, pelas crianças, pelos “velhinhos”, pelas colegas, por Curvos.

Nesta hora da sua saída, por sua própria iniciativa, não poderia deixar de escrever estas simples palavras de agradecimento, de um pai que teve o privilégio de ter 4 filhos que passaram (uma ainda lá está) por uma instituição tão especial como esta.

Posso aqui afirmar que o Centro Social de Curvos contribuiu ativa e decisivamente no processo educativo dos meus filhos e certamente de muitos dos Vossos filhos ou familiares. Os meus filhos foram sempre aqui recebidos com um enorme carinho, tanto pela Elsa como por todas as colaboradoras, independentemente das suas funções ou graus de responsabilidade. Aqui muito se divertiram, brincaram, estudaram e aprenderam. Sempre recebidos com sorrisos, sabia que aqui ficavam num ambiente tranquilo e em segurança. Com uma excelente orientação pedagógica e afetiva pude ver os meus filhos crescer e assistir à sua transformação, dia após dia, ano após ano, como seres humanos pensantes, com capacidade e autonomia para desde cedo irem começando a tomar pequenas decisões e para gerirem os seus conflitos, no fundo, preparando-se para a vivência comunitária.

A Elsa é uma mulher de princípios e sempre pugnou por dar os melhores conselhos, apoio, educação e carinho. No fundo, sempre esteve ali um ombro amigo, uma pessoa a quem utentes e familiares puderam confidenciar as suas tristezas, os seus problemas e as suas alegrias. A Elsa, merecidamente, ganhou a confiança de todos.

O meu mais profundo agradecimento, pois, em geral a toda a equipa e em especial à Elsa por tudo aquilo que fez, pelo que ajudou a fazer, pela excecional pessoa que é, dotada de invulgares qualidades humanas e de uma competentíssima capacidade de gestão.

Curvo-me, enquanto pai, encarregado de educação e cidadão, perante o trabalho que desenvolves-te e espero que o Centro Social de Curvos continue a desenvolver essa obra social e educacional tão necessária, tão útil e tão notável.

Elsa sei que te vai custar deixar os teus “meninos” e os teus “velhinhos”, as tuas colegas, que vais sentir saudades, que te vão cair lágrimas, mas a vida é mesmo assim e o que te desejo são as maiores felicidades para a tua vida e eventuais projetos que venhas a abraçar. Quem te conhece sabe que a integridade, a perfeição e a exigência que colocas em tudo que fazes te vão permitir continuar, seja onde for, a ser uma grande profissional. Boa sorte.

Quem liderou uma instituição que trabalha com a coisa mais preciosa que uma família tem, que são os nossos filhos, a coisa mais preciosa que pode haver, está pronta para liderar qualquer projeto. Deixar os nossos filhos numa instituição que nos dá todas as garantias e nos permite seguir para os nossos trabalhos de uma forma tranquila, merece tudo do melhor.

Nota final:
O facto de ser marido da Elsa, em nada, assim o espero, me condicionou na escrita desta «carta aberta», bem pelo contrário, talvez me tenha impedido de ir mais longe nas referências e no elogio. Escrevi esta carta e estou a torna-la publica sem o conhecimento da Elsa, porque, quem a conhece sabe que ela jamais me “autorizaria” a fazê-lo.

Elsa desculpa o atrevimento, mas pelo que fizeste e continuarás a fazer mereces esta carta e mais umas centenas ou milhares delas, talvez tantas quantos os utentes que pelo Centro passaram.

A mais justa homenagem que o Centro Social de Curvos te pode fazer é dar continuidade ao teu louvável trabalho, continuando a ser uma instituição de vanguarda e referência, que orgulhe quem a frequenta e quem nela trabalha ou com ela colabora.
Que o Centro, superiormente presidido pelo Pároco de Curvos, Sr. Padre Armindo Patrão de Abreu, continue a contribuir decisivamente para a felicidade de todos nós.

Bem-Haja.

O meu e certamente de muitas centenas de outros encarregados de educação, dizia eu o meu MUITO MUITO, MAS MESMO MUITO OBRIGADO!

Reconhecido para sempre,😉

À Elsa Gonçalves Fernandesum abraço bem f❤️rte!

Mário Ferreira Fernandes
Curvos, aos 28 dias do mês de Julho do ano de 2017.

Sem comentários: