quinta-feira, 10 de março de 2016

À CONVERSA COM MANUEL CARVOEIRO LÍDER DO PCP NA ASSEMBLEIA MUNICIPAL DE ESPOSENDE


MANUEL CARVOEIRO É JURISTA E INSPETOR DE EDUCAÇÃO E LIDERA O PCP NA ASSEMBLEIA MUNICIPAL DE ESPOSENDE
“…Esposende tem um vereador a tempo inteiro, que se chama «PRIVILÉGIO DA NATUREZA» e que não nos trás custos...”
Manuel Fernando Morgado Carvoeiro nasceu no lugar do Monte, da freguesia de Marinhas, no dia 19 de maio do ano de 1964. É casado com uma professora de Biologia na Escola Secundária Henrique Medina em Esposende e tem duas filhas; uma está no quinto ano de medicina e outra no segundo ano de enfermagem, ambas a estudar no Porto.
Filho de José Carvoeiro, um dos históricos do PCP no nosso concelho. “O meu pai foi um dos melhores artesãos de “sapateiro”. E a deficiência que ele tinha. Eu conheci-o na portaria do Ciclo, em Esposende. E a deficiência que ele tinha era de nascença, ou de que é que se tratava? Foi consequência de uma doença “poliomielite” que contraiu aos catorze anos de idade. O meu pai iniciou essa atividade com um mestre de Rio de Moinhos que se chamava “Luciano Cochinas”, um grande mestre. O meu pai formou-se lá por volta dos 12 anos e manteve essa atividade até aos 40 anos, data em que ingressa na função pública, começando esta nova atividade na escola primária de Rio de Moinhos e só depois é que veio para Esposende, para o, então, Ciclo Preparatório. A minha mãe conjugava a atividade doméstica com o cultivo e amanho de umas “courelazinhas”, fazendo das “tripas coração” para ajudar no sustento da família.
Devido às dificuldades económicas da família, Manuel Carvoeiro começou desde muito novo a trabalhar na construção civil. Aos 11 anos de idade foi para as obras “dava massa” e depois trabalhou na construção da estrada da Abelheira, que liga S. João a Vila-Chã. “Era quem servia os paralelos aos calceteiros”. Aos 14 anos, acumulando com os estudos, conseguiu um trabalho mais limpo, no Hotel Ofir, em Fão, onde se manteve até aos 21 anos, trabalhando nas chamadas férias grandes (verão), nas férias da páscoa, nos feriados e noutros períodos do ano. Frequentou a escola primária de Marinhas, escola António Correia de Oliveira e secundária Santa Maria Maior em Viana do Castelo. Entretanto, entra na Magistério Primário em Viana do Castelo, onde se forma professor primário, tinha 21 anos de idade. Começou, como professor, a trabalhar no Alentejo, concretamente no sítio da Foz das Casinhas, na freguesia de Saboia, no interior profundo do concelho de Odemira, distrito de Beja. Esteve aqui um ano. Regresso ao norte, tendo desempenhado funções docentes na Freguesia de Atães - Vila Verde e, depois, em muitas outras zonas, quase sempre isoladas, como Ceramil - Amares, Celorico e Cabeceiras de Basto, Terras de Bouro, escolas, muitas delas, sem casa de banho. Depois vem para o concelho de Esposende, Mar, Marinhas, Apúlia e Palmeira de Faro. A última escola foi em Midões, Barcelos. Entra no Departamento de Educação Básica em Lisboa, integrando a Equipa de Missão, coordenada pelo Professor Doutor João Formosinho da Universidade do Minho, responsável pelo diagnóstico das condições de funcionamento da educação pré-escolar e primeiro ciclo do ensino básico e formulação de medidas sistémicas tendentes à implementação, no nosso país, da Educação Básica Inicial. Posteriormente é colocado no Centro da Área Educativa de Braga (CAE), onde acompanhou todo o processo de criação, no Distrito de Braga, dos primeiros agrupamentos de escolas e dos primeiros regulamentos internos dos agrupamentos de escolas e escolas não agrupadas. É na altura em que desempenhava funções no CAE de Braga que concorre para a Inspeção Geral de Educação, tendo sido admitido como Inspetor da IGE.
Em 1991 ingressa no primeiro Curso de Administração Educacional criado na Universidade do Minho, onde obteve o Diploma de Estudos Superiores Especializados em Educação Básica Inicial – Variante de Administração Educacional. Conclui, em 2001, na Universidade de Aveiro, a Pós Graduação em Ciências da Educação – Variante de Inspeção Escolar. Entretanto ingressa em direito na Universidade de Coimbra tendo, mudado para a Universidade do Minho onde concluiu a licenciatura em Direito. Conclui na Faculdade de Direito da Universidade Católica a Pós Graduação – Curso Multidisciplinar em Direito das Crianças e dos Jovens.
Nos últimos 5 anos tem desempenhado as funções de Interlocutor da Área da Provedoria na Inspeção – Geral da Educação e Ciência – EM Norte, onde, também, desempenha funções no Gabinete Jurídico.
VAMOS COMEÇAR POR FALAR DE MANUEL CARVOEIRO NA PRIMEIRA PESSOA, DOS SEUS GOSTOS E PREFERÊNCIAS
AO NÍVEL DA LEITURA E DA ESCRITA
“Tive uma fase da minha vida em que escrevi alguns poemas, mas nunca os publiquei. Participei, como cronista, na Esposende Rádio, durante cerca de 15 anos. Também tenho escrito artigos, principalmente, na área da educação.”
E LEITURA. O QUE É QUE COSTUMA LER?
“Os clássicos portugueses, que me fascinam imenso, como Eça de Queirós. Também o Fernando Namora, escritor que se iniciou na escola neorrealista me prende a atenção. Gosto, enfim, dos grandes vultos da literatura Universal.“
E JOSÉ SARAMAGO?
“É marcante. Conheci-o pessoalmente numa tertúlia entre amigos, no Alentejo, por volta do ano de 1987.”
ESCOLHA UMA OBRA?
“Os miseráveis de Victor Hugo.”
E UM ESCRITOR. QUAL FOI O ESCRITOR QUE MAIS O MARCOU?
“Foi José Saramago. Toda a obra de José Saramago. O memorial do Convento, mas o que mais me marcou foi “Levantado do Chão”.
E UM FILME?
“Ladrões de bicicletas”, que é um filme italiano de Vittorio De Sica. Do neorrealismo. E um dos mais recentes, que é uma grande obra do cinema é o Titanic.”
E MÚSICA? QUE TIPO DE MÚSCIA É QUE APRECIA?
“Gosto de toda a música. Há momentos que ouço mais a música clássica. A quinta Sinfonia de Gustav Mahler. Quando em cartaz gosto sempre de a ouvir e, na sala Guilhermina Sugia da Casa da Música é um verdadeiro fascínio. Depois gosto de toda a música de intervenção de onde destaco o Grande Zeca Afonso.”
E DESPORTOS. DE QUE É QUE GOSTA? FOI PRATICANTE PROFISSIONAL DE ALGUMA MODALIDADE?
“Fui praticante de artes marciais. Em S. Romão de Neiva e em Viana do Castelo.”
ISSO DEU-LHE JEITO? JÁ TEVE QUE USAR DA FORÇA NO SEU PARTIDO?
“Não. Sou um homem de paz e concórdia. Por isso, escolhi as artes marciais.
E FUTEBOL?
Sou Porto. Fui sempre.”
MAS VAI AO ESTÁDIO?
“Não. Não vou, nem sou doente. Gosto muito de futebol, mas já não vou a um estádio há muitos anos. Acompanho mais na televisão. Gosto da seleção.”
JÁ FOI AO ESTÁDIO DO DRAGÃO OU NÃO?
“Não, não fui.”
POIS ENTÃO TEM QUE LÁ IR QUE EU NÃO SOU PORTISTA E JÁ LÁ FUI E VISITE TAMBÉM O MUSEU QUE VALE A PENA. EU JÁ LÁ FUI, ATÉ PORQUE AS MINHAS FILHAS SÃO PORTISTAS.
“Passo lá fora quase todos os dias. Já lá entrei, mas não foi para ver futebol, fui assistir aos «Coldplay».”
O QUE TEM A DIZER À FORMA COMO ANTÓNIO COSTA CHEGOU A PRIMEIRO MINISTRO? JÁ SEI QUE CUMPRE A CONSTITUIÇÃO.
“Aqui foi a Constituição e a democracia a funcionar. As eleições não foram para Primeiro-Ministro, mas para eleger deputados. Tem toda a legitimidade.”
PORQUE É QUE O PCP NÃO ESTÁ NO GOVERNO?
“Porque para o PCP estar no governo tinha que haver um programa patriótico e de esquerda.”
FOI O PCP QUE NÃO DEIXOU O BLOCO DE ESQUERDA IR PARA O GOVERNO?
“Não. Cada um corre na sua pista.”
MAS CONDICIONOU OU NÃO?
“Não sei. As negociações de apoio ao PS foram realizadas em separado.”
COMO EXPLICA QUE APESAR DE TERMOS UM GOVERNO COM O APOIO DO PCP E DE TODA A SUA RETÓRICA, O CERTO A QUE ACABAMOS DE ASSISTIR A UM BRUTAL AUMENTO DE IMPOSTOS?
“Este não é o orçamento do PCP. Votamos a favor porque há alguns ganhos de rendimento que foram perdidos durante 4 anos.”
ACHA JUSTA A DIFERENÇA ENTRE TRABALHADORES DO PÚBLIO/PRIVADO?
“A evolução tem que ser no sentido de uma equiparação, numa perspetiva dos avanços civilizacionais. A tendência para que as pessoas tenham mais tempo para a família.”
DEFENDE A IGUALDADE, OU NÃO?
“Defendo, na perspetiva de poupança e das conquistas alcançadas. Na minha área verifico que não houve aumento produtivo com a passagem das 35 para as 40 horas. Veio foi desorganizar tudo.”
O QUE LEVOU O PCP A VOTAR A FAVOR, FOI O SALÁRIO MINIMO, AS REPOSIÇÕES E AS 35 HORAS. É ISSO?
“No essencial sim. Neste novo quadro de maioria já se fez história para Esposende. Pela primeira vez, votou-se uma proposta de resolução do PCP, para a construção da barra de Esposende. Foi votada por unanimidade.”
MAS A ASSEMBLEIA NÃO TEM PODER EXECUTIVO?
“Pois não, mas com isto foi dado um sinal ao governo.”
VAMOS FALAR AGORA DA SUA MILITÂNCIA PARTIDÁRIA. QUANDO É QUE O MANUEL CARVOEIRO SE INSCREVE NO PCP?
“Eu começo a dar os primeiros passos, quando acompanhei o meu pai. Teria eu 11 anos. Assistia às reuniões. O meu pai levava-me na sua motorizada, uma sachs minor.
ONDE ERAM ESSAS REUNIÕES?
“Naquela casa em frente ao Sr. Terra. Depois passou para o edifício em frente onde estará agora o ”Quiosque Serra”. O PCP estava mesmo em frente ao PS.”
COMO FOI A SUA ATIVIDADE ENQUANTO JOVEM?
“Estive na UEC – União de Estudantes Comunistas e depois participei, com 15 anos, no pavilhão dos desportos, na conferência nacional de junção da UEC e da então UJC – União dos Jovens Comunistas. Uma era de estudantes e outra de trabalhadores. Esta junção deu a JCP, à qual aderi com 16 anos. Participei nas lutas estudantis em Viana do Castelo para a associação de estudantes. Mesmo aqui em Esposende, acompanhei a dinamização da associação de estudantes do PCP. A lista afeta ao PCP venceu uma outra afeta ao CDS.”
COMO É QUE CONHECEU A SUA ESPOSA? FOI NESTAS LUTAS ESTUDANTIS?
“Conheço-a em Esposende nestes movimentos. Era uma jovem muito ativa na militância do partido.”
E NA LISTA DO CDS QUEM É QUE ESTAVA NA LIDERANÇA?
“Era o António Isolino e o Pilar, embora não tenha a certeza absoluta”
QUANDO APAREÇE PELA PRIMEIRA VEZ A CONCORRER’
“Aos 18 anos integro as listas. Aos 22 anos concorro à Assembleia de Freguesia de Marinhas.
MAS ENCABEÇA ESSA LISTA?
“Sim. Essa lista é encabeçada por mim.”
E É ELEITO?
“Não fui eleito.”
E DEPOIS?
“Em 1993 concorri à Câmara. No PSD era Alberto Figueiredo, no PS o Dr.  Beirão e no CDS, creio, o Dr. João Paulo.”
E EM 1997?
“A partir daí passo a concorrer à Assembleia Municipal e sou eleito em 2005 e reeleito em 2009 e 2013.”
QUAL FOI O MELHOR DESTES 3 MANDATOS?
“Foi o primeiro.”
MAS PORQUÊ?
“Porque foi o momento em que o PCP passa a ter este “palco” público, institucional de intervenção para a resolução dos problemas do concelho.”
QUAL FOI O SEU PRINCIPAL CONTRIBUTO. OU SEJA “PORQUE EU ESTIVE LÁ” FEZ-SE ISTO?
“O povo de Esposende, com a minha eleição, as três, com o PCP, conseguiu ter voz na Assembleia. Levei e levo, em nome do PCP, temas que mais ninguém leva ou levaria, por exemplo, as posições em defesa do trabalho, dos trabalhadores, a defesa do ambiente, etc.”
E OS RESULTADOS?
“Sinto que a maioria reiteradamente chumba as minhas propostas, mas à frente acaba por apresentar ela própria algumas delas. Sei que é um lançar de semente à terra.”
DOS 10 ORÇAMENTOS, JÁ VOTOU ALGUM FAVORÁVEL?
“Não. Nunca votei favoravelmente nenhum deles.”
E ABSTER-SE?
“Abstive-me num. No primeiro de Benjamim Pereira.”
PORQUÊ?
“Dei o benefício da dúvida. O conteúdo e as intenções prometiam.”
ESTÁ ARREPENDIDO?
“Estou arrependido, porque as promessas não foram concretizadas.”
E O ESTATUTO DA OPOSIÇÃO?
“Valeu a pena lutar. Pelo menos agora os partidos da oposição são ouvidos. Pelo menos já há um mínimo.”
NESTE MANDATO HÁ COMISSÃO PERMANENTE? E FUNCIONA?
“Existe, mas neste mandato não passa do nome.”
NOUTROS TEMPOS, HOUVE COMISSÕES QUE TRABALHARAM BEM E APRESENTARAM TRABALHO FEITO. REGULAMENTOS, NORMAS E OUTRAS TEMÁTICAS.
“Esta só reuniu uma ou duas vezes e já vamos a meio do mandato.”
O QUE É QUE TEM A DIZER A QUEM O CRITICA A SI, AFIRMANDO QUE O PCP APENAS INTERVÉM PARA QUE FIQUE REGISTADO EM ATA? ESTA AFIRMAÇÃO TEM ALGUMA VERDADE? A SUA INTERVENÇÃO É SÓ PARA MOSTRAR NO PARTIDO QUE ESTÁ AQUI?
“Não é verdade. Todas as intervenções são fruto de um empenhamento muito grande, tendo por base o contacto com as pessoas do concelho e os seus verdadeiros anseios. As pessoas reconhecem o nosso trabalho, o trabalho do PCP na Assembleia Municipal.
E UMA OUTRA CRITICA QUE LHE É FEITA NO SENTIDO EM QUE SE LIMITA MUITO A INTERVIR SOBRE A VILA DE FÃO, ESQUECENDO O CONCELHO COMO UM TODO?
“Bem, em Fão os problemas também são muitos. O combate à construção desordenada. Fão é uma terra com um conjunto de problemas, mas há mais. A questão dos homens do mar e da rede viária.”
O ATUAL MANDATO NA ASSEMBLEIA ESTÁ A MEIO. QUANDO É QUE VAMOS TER NOVAMENTE O MANUEL CARVOEIRO CANDIDATO À CÂMARA?
“Isso não está ainda pensado. No PCP o trabalho é pensado. Este trabalho na Assembleia pode ser transposto para a Câmara.”
MAS HÁ A POSSIBILIDADE DE EM 2017 TERMOS MANUEL CARVOEIRO CANDIDATO À CÂMARA?
“Se o partido o decidir não direi que não. É sempre uma decisão do partido.”
NÃO PODEMOS IGNORAR QUE O PCP EM ESPOSENDE, NESTE MOMENTO, É REPRESENTADO POR MANUEL CARVOEIRO?
“O responsável concelhio é Fernando Almeida.”
TER O PARTIDO CENTRADO EM SI, NÃO CONSTITUI UM RISCO PARA O PCP? COMO É QUE PODEM EMERGIR OUTROS NOMES?
“Em não nego isso. Tem a ver com a minha maneira de ser e de estar. Quando estou, estou com esta marca, com este profissionalismo.”
O PARTIDO TEM-SE RENOVANDO?
“O partido vai-se renovando.”
MAS ISSO NÃO SE NOTA MUITO. QUANTOS MILITANTES TEM NESTE MOMENTO O PCP DE ESPOSENDE?
“Temos cento e tal militantes. Já tivemos mais.
TEM HAVIDO NOVAS ENTRADAS? NOS ÚLTIMOS 5 ANOS QUANTOS MILITANTES ENTRARAM’
“Tem havido entradas e saídas. Têm entrado jovens e novos quadros.”
AINDA HÁ ALGUM RECEIO EM AFIRMAR-SE DO PCP?
“Temos histórias muito interessantes de pessoas que já foram militantes do partido comunista. O Eng.º Barros foi presidente da Assembleia Municipal de Esposende pelo PCP. E há outros.”
QUER DIZER QUE A CDU JÁ TEVE A PRESIDÊNCIA DA ASSEMBLEIA MUNICIPAL DE ESPOSENDE. ESTE FOI O CARGO MAIS IMPORTANTE DESEMPENHADO NO NOSSO CONCELHO?
“Sim. Primeiro a FEPU e depois a APU também tiveram algum protagonismo neste concelho.”
COMO É AQUELA SITUAÇÃO DOS 10% DAS SENHAS REVERTEREM PARA O PARTIDO?
“Não é bem isso. O princípio vigente tem a ver com o facto de ninguém ficar beneficiado nem prejudicado com a atividade partidária e em funções de cargos eleitos. Outra coisa são as pessoas que desempenham funções a tempo inteiro. Se alguém for eleito para um cargo e no desempenho desse cargo passar a receber menos do que na sua atividade profissional, é-lhe reposta a diferença.”
A SUA ATIVIDADE INTENSA VEM DE BEM CEDO. TEM RECORDAÇÕES DISSO?
“Eu com 11 anos já lia o Avante. O Maranhão Peixoto é testemunha disso. Íamos para Viana no mesmo autocarro, onde eu lia o Avante e espicaçava a discussão entre os meus colegas estudantes.
JÁ ESTEVE NA LISTA DE DEPUTADOS. IA EM TERCEIRO LUGAR MAS NÃO CHEGOU A ENTRAR. ACHO QUE FOI PENA. EU GOSTAVA DE TÊ-LO VISTO NO PARLAMENTO. O QUE É QUE FALHOU?
“É verdade. Eu também tive alguma esperança, mas acabou por não acontecer.”
ALGUMA VEZ SE SENTIU BENEFICIADO POR SER MILITANTE DO PARTIDO COMUNISTA?
“O que lhe digo é que a nível profissional estou no topo da carreira e o meu percurso sempre teve a ver com a avaliação de desempenho e concursos.
LEMBRA-SE ONDE ESTAVA E O QUE FAZIA NO DIA 25 DE ABRIL DE 1974?
“Lembro-me muito bem. Estava na sala de aula. Foi feita uma recomendação pela senhora professora Helena AGante” (dona da Casa das Andorinhas), para que tivéssemos cuidado ao ir para casa, porque algo importante estava a acontecer em Lisboa. Quando chego a casa encontro o meu pai com o rádio colado ao ouvido, com um misto de medo e de esperança.”
HÁ UMA PERGUNTA QUE SE IMPÕE. O QUE ACHA DO SILENCIAMENTO DA ESPOSENDE RÁDIO?
“É uma pena porque eu acho que o concelho de Esposende neste momento é capaz de ser um caso único. Eu viajo muito pelo interior e vejo concelhos, mesmo pequenos que lá têm a sua rádio. Eu tive lá uma crónica, a “Prova Oral”, como aliás o Mário também tinha. A minha fi-la durante cerca de quinze anos.”
Efetivamente a rádio era e é uma mais-valia, chegava a todo o mundo, levando notícias e atividades do nosso concelho. Eu soube há dias que a Esposende Rádio deverá reiniciar dentro de algum tempo. Tive essa informação por parte de um dos responsáveis.
UMA PERSONALIDADE?
“Marx. Uma inspiração muito grande.”
O QUE É SER COMUNISTA? SOARES METEU O SOCIALISMO NA GAVETA, PASSOS COELHO QUER RECUPERAR AGORA A SOCIAL-DEMOCRACIA. O QUE É SER COMUNISTA?
“É ter uma postura de permanente combate em defesa de um mundo mais justo e solidário, mais fraterno em que não haja o acantonamento de tanta riqueza.”
MAS NÃO ACHA QUE A CARGA FISCAL SOBRE AS PME’S É CLARAMENTE EXAGERADA?
“Acho que as PME devem ser ajudadas, são uma das bandeiras de combate do PCP.”
E O NOVO PRESIDENTE DA REPUBLICA. O CANDIDATO DO PCP TEVE UM DESAIRE TOTAL. NEM OS COMUNISTAS VOTARAM NELE. COMO ACHA QUE VAI SER O MANDATO DE MARCELO REBELO DE SOUSA?
“Eu acho que Marcelo, com outro estilo, vai ser uma cópia de Cavaco. O vinculo e a história de Marcelo não me trás confiança nenhuma.”
E A INTERVENÇÃO NO BANIF. PARECEU-LHE CORRETA? JÁ FOI COM ANTÓNIO CONSTA E O PCP.
“Mas António Costa herdou isto. O PCP votou contra.”
O PCP MOSTRA-SE CONTRA A INICIATIVA PRIVADA. ENQUANTO A SOCIAL DEMOOCRACIA GOSTA DE LIBERALIZAR, O PCP MOSTRA-SE TOTALMENTE CONTRA A INICIATIVA PRIVADA. O QUE DEFENDE AFINAL O PCP?
“O PCP defende há muito tempo um programa misto de economia, em que tem lugar um tecido empresarial do Estado forte, como a própria banca. Há outros setores importantes como as telecomunicações.”
O QUE É QUE TEM A DIZER AOS INVESTIMENTOS CHINESES, DE EMPRESAS PUBLICAS CHINESES NA COMPRA DE EMPRESAS PORTUGUESAS DE ÁREAS MUITO IMPORTANTES?
“Somos contra.”
E A TAP?
“Esta questão da TAP não agrada ao PCP.”
E AS PPP’S?
“São ruinosas para o país.”
SAÍDA DO EURO?
“Tem que ser feito um debate alargado.”
REFUGIADOS. RECEBE-LOS OU NÃO E EM QUE CONDIÇÕES?
Aceitar recebe-los e depois integrá-los.”
REGIONALIZAÇÃO. SIM OU NÃO?
“Somos a favor.”
O PCP CONTINUA A DEFENDER A SAIDA DO EURO E DA UNIÃO EUROPEIA?
“A Europa é discutível. Não é sacrossanta.”
E AS PORTAGENS NA A28? AGORA QUE O PCP ESTÁ COM ESTA SOLUÇÃO GOVERNATIVA, PARA QUANDO ESTÁ PREVISTO O FIM DAS PORTAGENS NESTA NOSSA A28?
“O PCP já apresentou na Assembleia da República um requerimento para abolir as portagens.”
E EM TERMOS DA POLITICA DE EDUCAÇÃO. QUAL É A SUA POSIÇÃO QUANTO AOS EXAMES NACIONAIS?
“Eu sou, em princípio contra os exames. Nas escolas do primeiro ciclo os exames tiram às crianças a alegria do viver de brincar e do crescer. Os exames causam-lhes grande stress. Os professores são obrigados a trabalhar para os exames.”
E NO 12º ANO? NÃO ACHO QUE É NECESSÁRIO FAZER-SE UMA AVALIAÇÃO DOS CONHECIMENTOS ADQUIRIDOS?
“No 12º sim, concordo.”
E QUANTO AO ENSINO PRIVADO. DEFENDE OU NÃO A EXISTÊNCIA DE ENSINO PRIVADO FINANCIADO PELO ESTADO?
“Defendo uma coexistência, desde que o privado não exista à custa e em prejuízo do ensino publico.”
E OS “MEGA AGRUPAMENTOS”?
“Foi uma tragédia.”
DEVEM SER ANULADOS?
“O PCP quer anular esses “Mega agrupamentos”. Desumanizaram as escolas e aumentaram a conflitualidade.”
VAMOS AGORA FALAR DAS ASSOCIAÇÕES DE PAIS. ONDE ESTÁ A FEDERAÇÃO DAS ASSOCIAÇÕES DE PAIS DO CONCELHO DE ESPOSENDE?
“É uma grande perda. Tenho orgulho ter estado na criação da associação de pais de Fão. Ainda vou acompanhando. No nosso concelho está débil. A FAP está morta.”
E UNIÃO DE FREGUESIAS. VOU RECORDAR-LHE UMA AFIRMAÇÃO SUA: “É MAIS CERTO A PONTE DE FÃO IR A BAIXO DO QUE A FREGUESIA DE FÃO ACABAR!” AFINAL QUE É QUE FALHOU. AINDA HOJE PASSEI NA PONTE E A FREGUESIA ACABOU?
“Fão pelas caraterísticas históricas devia ter feito muito mais. O poder maioritário no concelho teve uma intervenção apagadíssima, circunscrita ao institucional. À exceção de Curvos, com o Mário, Rio Tinto e Fão, mais ninguém se opôs.”
ANTÓNIO COSTA AFIRMOU HÁ DIAS QUE VAI DAR PODER ÀS ASSEMBLEIAS MUNICIPAIS PARA REVERTER ESTA SITUAÇÃO. O QUE ACHA DISTO?
“Eu discordo destas Uniões. Há quem diga que o presidente da União de Apúlia e Fão já terá mudado de opinião. Há uma acomodação e um aparato de bem-estar. No partido já estamos a apresentar propostas para a reversão de muitas uniões.”
E EM ESPOSENDE DEFENDE QUE SE REPONHAM AS 15 FREGUESIAS, OU NÃO?
“Defendo a reposição das 15 freguesias.”
VAMOS AGORA FALAR UM POUCO DE ESPOSENDE. COMO CLASSIFICA O NOSSO CONCELHO?
“Nós fomos brindados como um privilégio da natureza.”
O QUE É QUE TEMOS DE MELHOR?
“Uma localização geográfica maravilhosa, um povo bom e é uma terra que me dá orgulho viver nela. Esposende tem um vereador a tempo inteiro, que se chama «PRIVILEGIO DA NATUREZA» que não nos trás custos.”
E O QUE É QUE ESPOSENDE TEM DE PIOR?
“Esposende tem problemas muito graves no que concerne ao seu tecido empresarial. Temos concelhos vizinhos na vertente cultural muito melhor do que nós. Póvoa, Barcelos e Viana. Perdemos grandes oportunidades na vertente do saneamento básico. Perdemos fundos comunitários.”
ESCOLA DE MÚSICA, CORO DE PEQUENOS CANTORES. QUE ACHA DESTE PROJETO?
“É um projeto interessante. Tem sido uma mais-valia na formação musical das nossas crianças.”
O QUE É QUE FALTA FAZER EM ESPOSENDE?
“Cortar o sistemático recurso a serviços externos por parte da Câmara Municipal (assessorias contratos de prestação de serviços), é necessário proceder à compra de terrenos a baixos custos para os alienar a baixo custo a quem queira criar indústrias no concelho, criação de parques de estacionamento na faixa mais litoral, intervenção no ensino secundário e a construção da barra.”
E O PARQUE DA CIDADE DE ESPOSENDE?
“Não se percebe porque demora tantos anos até ser concretizado.”
QUAL FOI A MELHOR OBRA DE SEMPRE EM ESPOSENDE?
“As piscinas municipais.”
CARO AMIGO, UM SONHO?
“Acabar com os quotidianos de sofrimento das pessoas à escala nacional e mundial e com a segregação de seres humanos.”
ALGUMAS REVELAÇÕES MAIS PESSOAIS
“Há uma coisa que poucas pessoas sabem. Eu fui acólito do padre Avelino. Fui batizado, andei na catequese, fui acólito e casei pela igreja. Casei no Mosteiro do Bom Jesus em Fão. Levantava-me com gosto para ir às seis da manhã, com a minha mãe à missa.”
NOTA FINAL
Conheço Manuel Carvoeiro há muitos anos, tal como a sua irmã Zélia. Também conheci o seu pai, José Carvoeiro, um popular funcionário público que trabalhou na escola António Correia de Oliveira quando por lá passei.
Manuel Carvoeiro é uma figura conhecida dos esposendenses, especialmente pela sua atividade político partidária na militância do PCP e pelas suas candidaturas nas listas da CDU.
Trabalhei com o meu entrevistado de hoje em pelo menos três atividades diferentes. No movimento associativo de pais e encarregados de educação, quando presidi à Federação das Associações de Pais do Concelho de Esposende. Também me encontrei com Manuel Carvoeiro na Assembleia Municipal de Esposende. Com ele fiz parte da Comissão Permanente da Assembleia. Eu em representação do Grupo Independente e Manuel Carvoeiro em representação da CDU. Forem tempos de grande atividade e intervenção. Para além disso ainda fizemos parte do painel da Esposende TV, onde se discutiam temas locais e nacionais e na prova oral da Esposende Rádio. Manuel Carvoeiro à segunda e eu à sexta-feira.
Como se pode ver, temos vivências que nos proporcionaram o respeito mútuo e ao mesmo tempo, momentos de convívio.
Pelas razões expostas, esta entrevista acabou por ser um pouco “sui generis”, tendo oscilado entre momentos de um misto de entrevista e de debate. Reinou a boa disposição e o à vontade. Tal como Manuel Carvoeiro escreveu no posfácio do meu livro de crónicas, “Muitas vezes divergimos de pontos de vista… o que não nos tolhe o apreço…”.
Algumas coisas ficaram por escrever [até pela falta de espaço, mas não só], essas ficam só connosco, porque o que aqui hoje publico já é por si bem interessante e conta com inúmeras revelações. Um abraço, caro amigo Dr. Carvoeiro e obrigado por estas cerca de duas horas de animada conversa.

Mário Fernandes
2016-03-05







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