MANUEL JOSÉ TORRES GOMES JÁ EDITOU 3 LIVROS
E PREPARA-SE PARA APRESENTAR MAIS UM QUE ACABA DE ESCREVER
«CONSIDERO-ME UM
ESCRITOR EXISTÊNCIALISTA»
José Torres Gomes nasceu no dia 30 de outubro do ano de 1970, na
freguesia de Belinho, onde reside. É solteiro e tem o 12º ano de escolaridade.
Portador da doença de Stargardt, uma doença degenerativa que lhe tem afetado e
reduzido muito a visão, não desiste de lutar por aquilo que gosta e lhe dá
prazer. Tem na escrita uma forma de comunicar com o mundo e de dar a conhecer
muita da sua imaginação e da sua criatividade.
Já foi cunicultor, ou seja, criador de coelhos. Tem cinco irmãos e reside
com uma irmã mais velha. Embora sinta que podia fazer mais, dedica-se no essencial
a realizar pequenos trabalhos por casa, umas “bricolages”, mas a sua capacidade
e resistência levam-no a ler e a escrever, tendo publicado 3 livros e encontrando-se
a concluir um outro.
Considera-se um existencialista e escreve ficção, poesia e contos
infantis.
Vamos conhecer melhor o amigo José Torres Gomes.
GOSTOS PESSOAIS
“Gosto de viajar pelo mundo e fazer
caminhadas e de conviver com os amigos.”
UM CLUBE
”Sou do Futebol Clube do Porto, mas não ligo muito a
desporto”
TEMPOS LIVRES
”Passo o tempo a conversar com amigos. Leio muito e escrevo.”
MÚSICA
”Gosto de ouvir boa música.”
LEITURA
”Leio muito. Estou a ler Alexandre Dumas, José Saramago e Afonso Cruz.
Assim de momento, elejo para melhores livros que li: As velas ardem até ao fim
– Sandor Márai, e A Papisa Joana – Donna Woolfolk CrosS. Como contistas gosto
imenso de Sophia de Mello Breyner, Miguel Torga, Charles Dickens, Edgar Allen
Poe. Como poeta maior elejo Fernando Pessoa, muito embora aprecie António
Jedeão, Ary dos Santos, José Régio, Eugénio de Andrade, Florbela Espanca, entre
outros. Não aprecio poesia traduzida, acho que perde muito. Tenho mais de 12
mil livros em formato digital.”
ESCRITA
”Escrevi os 3 livros que publiquei e já tenho muito mais material para
editar.”
“OS OSSOS TAMBÉM FALAM” FOI O SEU PRIMEIRO
LIVRO
Começou a escrever por volta do ano de 2008, tendo
editado o seu primeiro livro no ano de 2010. “OS OSSOS TAMBÉM FALAM”. Trata-se
de uma história passada no Brasil. Numa edição de autor, foi lançado em Viana
do Castelo, local onde se sente sempre muitíssimo bem recebido. A crítica foi
unânime, tendo-lhe reconhecido uma excecional qualidade, sendo por muitos
referido como uma obra que pode dar uma excelente novela. O único senão, no
entender do autor, poderá ser o facto de estar um pouco “abrasileirado”, embora
isso se deva ao facto de a história se passar no Brasil.
“NUNCA MAIS TE VI” É O TÍTULO DO SEGUNDO
LIVRO
Um livro de ficção e romance que retrata uma história
passada entre o Castelo do Neiva e Fonte Boa, com prefácio de Rui Cardoso
Martins, foi apresentado no auditório municipal de Esposende por Maria José
Guerreiro, atual vereadora da cultura de Viana do Castelo. Este segundo livro
já foi editado pela editora “Atelier das Letras”. Depois da apresentação
inicial, seguiu-se outra na biblioteca municipal de Viana do Castelo. Diz José
Torres Gomes, que daquilo que mais sobressaiu da crítica foi “dá uma história
para um excelente filme”.
“GENTE SEM GOVERNO” É O TERCEIRO LIVRO
Em junho de
2013 foi lançado o terceiro livro do autor, tratando-se de uma história –
romance ficcionado, que se passa entre Portugal, a França e a Venezuela.
Prefaciado por Maranhão Peixoto, foi apresentado pelo prefaciador,
Vice-Presidente da Câmara Municipal de Esposende, no Fórum Municipal Rodrigues
Sampaio, em Esposende. Este livro tem a chancela da “Pastelaria Estúdios” e na
opinião do autor é um pouco superior aos anteriores.
Para além
destes três livros, já publicados, José Torres Gomes tem um quarto romance
concluído e escrito muita poesia, tem ainda contos suficientes para um livro, e
alguns contos infantis. Um deles, intitulado “O Elefante Branco”, foi ilustrado
pelas Escolas de Belinho e Marinhas.
No próximo
mês de outubro é a vez de lançar o primeiro livro de poesia, ainda sem título,
com edição da editora “Lua de Marfim”. Para o prefácio ainda está a decidir,
mas uma coisa é certa, se a qualidade dos anteriores livros se mantiver vai
certamente ser mais um sucesso.
PRÉ-PUBLICAÇÃO DE ALGUMAS HISTÓRIAS E POEMAS
“O PAPAGAIO DE PAPEL”
Na quinta do senhor Manel,
Brincava um menino com um papagaio de papel.
Na quinta do senhor João,
Brincava um menino com um papagaio na mão.
Na quinta da dona Maria,
Brincava um menino com um papagaio que subia, subia,
E também descia, descia.
Na quinta da dona Mariquinhas,
Brincava um menino com um papagaio que tinha uma cauda de fitinhas.
Na quinta do senhor Sarmento,
Brincava um menino com um papagaio de papel ao vento.
Na quinta da dona Rosa,
Brincava um menino com um papagaio cor-de-rosa.
Na quinta do senhor Raúl,
Brincava um menino com um papagaio azul.
Na quinta do senhor Alfredo,
Um menino fazia do seu papagaio um brinquedo.
Na quinta do senhor Elias,
Brincava um menino que lançava o papagaio todos os dias.
Na quinta da dona Carolina,
Quem brincava com o papagaio era uma menina.
Entre Junho e maio,
Muitos meninos brincavam todos os dias com o papagaio.
Quem me ensinou esta lengalenga foi minha avó,
E agora canto-a numa toada só.
“O ELEFANTE BRANCO”
Era uma vez um elefante branco que vivia numa floresta muito
verdejante. Na mesma floresta também viviam muitos outros animais de quatro patas:
vacas, cabras, ovelhas, zebras, lobos, hipopótamos, girafas, leões,
rinocerontes.
E passarinhos, muitos passarinhos: andorinhas, rouxinóis,
pintassilgos, melros, pardais, águias e muitos mais. Entre todos estes animais
havia um que era o mais triste. E sabem porquê?
Eu conto-lhes: o mais triste era o elefante branco. Pesava duas
toneladas e meia e por onde passava esmagava tudo. Tudo era um manto de coisas
esmagadas: tulipas amarelas, vermelhas, cor-de-rosa, cor-de-laranja, brancas,
azuis e de outras cores das quais me esqueci agora. Também havia cravos das
mesmas cores, e dálias e girassóis e papoilas e gladíolos e lírios, e, tantas
outras flores das quais me esqueci agora.
Na floresta também havia pinheiros grandes e pequenos. Macieiras e
pereiras, laranjeiras e nespereiras, araucárias e giestas. Todas estas plantas
tinham muitas cores e eram de vários tamanhos, mas dos quais me esqueci agora.
Ao longo da floresta havia um curso de água límpida. Os homens
chamaram rio ao curso de água. Nas águas do rio viviam muitos peixes grandes e
pequenos e de muitas cores, mas das quais me esqueci agora.
Os passarinhos e as abelhas, que, também viviam na floresta, eram os
que tinham mais sorte. Podiam voar sobre as águas do rio sem se molharem.
Era por se molhar e por não poder passar para o outro lado do rio que
o elefante era triste.
Os outros animais de vários tamanhos e de várias cores e de várias
espécies das quais me esqueci agora, não se importavam com passar ou não para o
outro lado do rio. Por isso eram felizes. Mas o nosso elefante branco, deste
lembro-me da cor, o nosso elefante importava-se, e muito! Vivia a chorar pelos
cantos.
De cada vez que chorava, duas lágrimas grossas rolavam de cada um dos
seus olhos e formava-se um fio de água que deslizava pela floresta até ir
engrossar o rio.
Um dia, já há muitos anos, tantos e tantos que já me esqueci agora, os
habitantes da floresta que eram todos os animais, e as plantas e as flores,
juntaram-se ao elefante e perguntaram:
Diz-nos lá, nosso querido elefante branco, nós sabemos que és branco
porque foi um homem quem no lo disse, porque choras assim tanto?
Porque me sinto infeliz… Pois, mas isso sabemos nós! O que queremos
saber é a razão porque és infeliz? Porque eu sou muito pesado e desajeitado,
tenho umas patas tão largas, e quando caminho, não vejo onde as poiso. E quando
as poiso faço-o em cima das flores e das plantas e das formigas e mato-as a
todas. Também sou triste porque gosto do que vejo do outro lado do rio e não
posso lá ir….
“UM POEMA”
A minha alma
levita,
Em ciclónico
furor
E,
simultaneamente, em deslizes na espuma oceânica,
Irrompe
muros de pensamentos e coros melancólicos,
Regateia a
pressa e a calma,
Constrói uma
artéria de carne,
Rasga
discípulos e crentes que não sabem de quem são e em quem crêem,
Salta o
amontoado de silvas picantes,
Robustas e
cortantes,
Deleita-se
com maços de vento e resmas de orvalho,
Canta o
lírico e o romanesco,
Enfrenta a
fúria divina e animalesca,
Sem dar a
cabeça ao leito da desigualdade,
Encanta-se e
dá encantos,
Sobre
púcaros de areias fertilizantes,
Arruma a
casa dos pés,
Enche as
suas calças com as pernas,
Entorna uma
pinga de vinho,
Como quem
tempera um naco de carne,
Suprime o
olhar lívido,
Amassa o
fermento da morte,
E constata o
azarado consorte,
Repuxa o brilho
aos sapatos,
Que enroupam
as meias dos pés,
Sabe que o
touro se pega pelos cornos,
Freia-o com
ferros aguçados,
O sangue
escorre morno,
Em
vermelhidões pastosas,
Entronca-se
o cadáver no leito da sua morte,
Esperançoso
da ressurreição,
O espírito vagueia
a rédea solta,
Vislumbra o
azul estelar,
O ar,
sombrio, arrefece os tubos,
Fendas nas
ideias trespassadas pelo fulgor,
Sublime é o
arrojado,
Aquele que
sente o nó livre e o torna arroxado,
Estouram
foguetes em torrões cintilantes e ensurdecedores,
O badalo
oferece voz ao sino,
Apela à
oração,
Crê quem
crê,
Ralha quem
não tem razão,
Tosse o
combalido,
Vive quem
existe,
Fala a
benevolência,
O gume da
faca corta a chama,
O calor
emana das trevas,
Algo sublime
e inconstante,
Opera a
elasticidade,
Um mais um é
uma contagem,
Subtrai-se
um número esdrúxulo,
Matizado
pela batuta da ilusão.
E assim
desabrochou um voo raso numa doida viagem. [22-08–2015]
“HISTÓRIA”
A minha mão
empunhou um pedaço do nada,
A morte
poeirenta e distraída,
Pegou na
indigência dos pobres e atirou-a para um longe,
Caiu no
trote de um cavalo e aquietou-se.
Os dedos da
mão fulguram a uma massa de névoas,
Estilhaçam o
claro da janela,
Multiplicaram-se
miríades de partículas cintilantes.
O frio entra
janela adentro,
Onde se
meteu a quentura do antes?
A casa já
não tem conforto.
O vento
reina a passos corridos,
As cortinas
saltitam desenfiadas,
Sombras
oblíquas pairam nas esquinas.
Na minha mão
agarro deuses que enlaçam crenças:
Zeus,
Dioniso, Hefesto, Posídon, hermes, Osíris, anit
Por entre os
dedos passa uma polegada de deuses,
Cada um com
o seu território para reinar,
Ávidos por
publicarem as suas sentenças;
Leis com
taras dissemelhantes,
O justo
morre como pecador,
O assassino
é elevado a íntegro,
Distribuída
a bondade e a dor.
No punho da
minha mão agarrei uma história:
Dei-lhe o
era uma vez,
Há muito
muito tempo,
Certo dia,
certa vez;
O começo
está na primeira palavra,
É nela que a
história se lavra.
Fui ter com
o meu irmão que partiu,
Poderia ser
a arrancada para um final feliz,
Mas ele
partiu de verdade,
Veio a
escuridão da morte e o destino infeliz.
No punho da
minha mão cabe a memória.
Nas páginas
da vida há lugar para a mais linda e a mais sarcástica história. [01-09-2015]
NOTA FINAL
Esta entrevista com o amigo José Torres Gomes, por diversas razões, foi
um pouco diferente de todas as outras. Uma conversa iniciada num café e
terminada em casa do escritor decorreu com um grande à vontade, tendo abordado
imensas temáticas e autores. Uma pessoa que apesar do infortúnio da doença, não
se redime e segue em frente vendo na escrita a sua “libertação” e o meio por
excelência de chegar às outras pessoas. Um escritor “existencialista”, um homem
muito simples, sem máscaras, que cita Emil Cioran para dizer que só tem
convicções quem nunca aprofundou nada; tratado com grande simpatia pelos seus
amigos e vizinhos, sempre pronto a responder a uma piada ou provocação, um
autodidata cheio de garra e energia. Daquilo que li, da sua escrita, sobressai
grande imaginação e histórias muito bem concebidas com um fio condutor capaz de
prender o leitor e o levar a ler com entusiasmo a sua escrita. Não posso deixar
de salientar a excelente memória do José Gomes. Forneci-lhe, verbalmente, sem
que o visse tomar qualquer nota, o meu número de telemóvel e endereço de e-mail
e dali a nada já estava a comunicar comigo. Admirável.
As minhas felicitações a este meu amigo, e os maiores sucessos para as
suas próximas publicações. Estejam atentos, porque o próximo livro, a lançar em
Esposende, no próximo mês de outubro, pelo que já li é de uma excecional
qualidade.
Um abraço, forte.
Mário Fernandes
24-09-2015
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