«GENTE DA MINHA
TERRA»
A ex.
Junta de Freguesia de Curvos, por mim presidida, publicou em abril de 2013 o
seu quarto livro sobre a freguesia de Curvos. Na prossecução dos objetivos de
âmbito cultural, social e patrimonial histórico, promovi mais uma vez a
iniciativa de pôr a sua população perante a sua “rica” história e o seu
património civilizacional acerca das gentes de Curvos. A escritora, Drª Inês
Faria, pôs mãos à obra e quis assim brindar a gente da sua terra natal com mais
uma excelente obra, intitulado “Gente da Minha Terra. Curvos. Análise
demográfica e social: 1596-1998”.
Como
dizia o poeta José Afonso “só se lembra dos caminhos velhos quem tem
saudades da terra”. Foi destes caminhos, que a autora percorreu, sobretudo
na sua meninice e na entrada da sua vida adulta, que colheu as saudades e muito
do conhecimento do que agora traduz nesta obra literária.
A sua
paixão à terra e às coisas, às pessoas e aos bens, aos ritos e aos movimentos
demográficos e sociais, faz dela uma apaixonada pela história social local.
Para tornar a sua leitura mais enfática, transforma, magistralmente, a história
em histórias apetecíveis, buscando os lugares comuns que conhecemos e pondo lá
os personagens que compreendemos e imaginamos, por tão familiarmente próximos.
Da tarefa
de investigação resultou um aprofundado conhecimento e compreensão de factos e
entendimentos que, em alguns casos romanceados, tornam a história, a Nossa
História, mais fascinante e agradável ao leitor. Falar de Nós e dos Nossos, de
Curvos, nunca é fácil pela paixão que, naturalmente, nós temos. Contudo, quando
se retratam fielmente dados históricos, recolhidos de várias fontes documentais
e orais, faz-se história.
Então,
neste livro poderemos compreender, com todo o rigor histórico que as fontes proporcionaram,
os dados relativos aos casamentos, nascimentos e óbitos, aliados a histórias de
vida; pode-se perceber e compreender a mobilidade das pessoas, quer na nossa
região, quer no que respeita à emigração para a América do Sul e para a Europa,
acompanhada de algumas histórias de vida; compreendemos a evolução populacional
e a sua alfabetização, em meados do séc. XX. Apresenta-os ainda um
conjunto de histórias de vida que nos fazem recuar até ao séc. XVI ou,
evoluindo daí para cá, trazendo até aos homens de hoje os seus ascendentes
ancestrais; E um belíssimo capítulo “nomes e alcunhas” em que é feita uma
explicação dos apelidos e das alcunhas de algumas das famílias radicadas em
Curvos, deixando no ar ainda outras tantas alcunhas à espera de explicação.
Uma obra
excelentemente organizada, a exemplo do que já nos habituou a autora, com
conteúdos muito apetecíveis para uma leitura atenta e cuidada, colocando, desde
já, cada um de nós na expectativa e curiosidade do que acerca de cada um dos
nossos antepassados poderá explicitar. Com esta publicação, a população de
Curvos ficou mais rica no seu património, mais apta a compreender e a viver o
seu presente, conhecendo o seu passado.
Pelo seu
amor à terra e às suas gentes e pelo amor com que sempre se dedica às nobres
causas da cultura e tradição social, na altura enalteci a obra e a sua autora,
a Doutora Inês Faria. Nenhuma História se faz ao acaso. Tem fontes,
objetivos, intervenientes, processos e resultados, todos estes ingredientes
interligados como se se tratasse de uma operação de culinária. Compete ao
historiador optar pela forma a dar ao produto final. Mas, tratando-se de
História das Populações, as hipóteses são infindáveis. Neste estudo,
estiveram em observação, sobretudo, as variáveis demográficas –
nascimentos/batismos, casamentos e óbitos – e ainda a mobilidade geográfica, em
que a emigração ocupa um espaço fundamental. Tudo isto, desde que há registos,
ou seja, desde cerca de 1600 e até 1998. Relativamente à emigração, os dados
existentes levam-nos a alguns anos dos séculos. XIX e XX.
A
apresentação geral da freguesia e da sua evolução, ao longo dos séculos, será
importante para que qualquer pessoa que pegue neste livro possa relacionar
todas as informações nele contidas com o ambiente socioeconómico que a
caraterizava. Ao ler-se sobre Curvos, do concelho de Esposende, poderia julgar
estar-se a ler sobre outra qualquer freguesia do nosso concelho [norte litoral
português], salvo algumas especificidades, para além dos nomes das pessoas e
dos lugares de residência.
As
histórias de vida que apresentaremos, tiradas da vida real, entre o séc. XVII e
o séc. XX, seguindo as trajetórias de vida de alguns indivíduos ou de algumas
famílias, servem de exemplo do muito que se pode fazer com recurso às fontes utilizadas.
O tratamento estatístico das variáveis demográficas teve por fim criar
História-ciência de Curvos, com resultados possíveis de serem comparados aos de
outras paróquias de Portugal, com estudos deste género já realizados e
publicados.
Procurou-se
amenizar a dureza dos números com algumas histórias que o tempo nos possa ter
inspirado, aliado ao toque dos sinos da infância, puxados ainda da porta da
torre da igreja e da porta da residência paroquial, por um arame, então, muito
enferrujado. E os garotos, numa corrida, a pendurarem-se nele!... E outros, a
tentarem acertar nos sinos com pedras, que quase sempre caíam no telhado da
igreja, ou então, no cemitério!... Estardalhos de rapazes!... – Gritava logo a
Rosinha, irmã do padre, que chegava à porta, toda enfurecida, ou a Edite, a
filha do tio Isaac, que facilmente se chegava à janela que dá para o adro!... E
logo os rapazes desatavam em correria e nem paravam para ouvir e saber de quem
rir, pois o que importava era a brincadeira…
Aqui fica
um pouco das muitas histórias que este livro contém, todas elas com a sua graça
e importância e que no meu entender merecem ser lidas e relidas. Se ainda não
leu esta publicação aproveite as noites longas de inverno para por a leitura em
dia e leia «Gente da Minha Terra» que estou certo vai dar esse tempo por bem
empregue.
«UM INIMIGO A
ABATER»
A crónica
que escrevi para este jornal, na semana passada, com o título acima mencionado
mostra-nos que vale sempre a pena lutar.
Foram
inúmeras as reações que recebi sobre esta minha crónica, mas houve uma que foi,
sem margem para dúvidas aquela que mais me tocou. É que ir esta terça-feira ao
Centro de Saúde e encontrar um casal meu conhecido que me disse: Sabe porque é
que estamos aqui? A minha esposa vai fazer o rastreio ao "Cancro da
Mama", porque lemos o seu artigo no «Jornal de Esposende», que nos chamou
à atenção para o temas e que através dele ficamos a saber que é possível
fazê-lo aqui em Esposende. Sem mais palavras… Basta que uma pessoa nos leia
para que valha a pena escrever. Se forem muitas mais e se
formos úteis para alguma coisa, tanto melhor.
Mário
Fernandes;
08-11-2014
Sem comentários:
Enviar um comentário