MANUEL LOSA EX. COORDENADOR DA PROTEÇÃO
CIVIL MUNICIPAL E ENTUSIASTA DAS FESTAS DA CIDADE DE ESPOSENDE
“…É preciso
mudar de atitudes, mentalidades e comportamentos das pessoas, logo proceder a
uma informação e formação das pessoas através da sensibilização para os riscos
e perigos…
… A prevenção faz-se por precaução, não para que
aconteçam as coisas, mas para se acontecer algum incidente o socorro seja
imediato...
… A minha satisfação aquando do conhecimento da
intenção de se investir na prevenção de cheias e inundações em Esposende. Houve
reconhecimento do Poder Central face aos acontecimentos verificados em 22 de
outubro de 2013, para o risco de inundações. É uma forma de fazer “mea culpa”
pelos erros negligenciados aquando da construção do IC1/A28 ao ignorarem as
consequências dos desvios das águas com a construção da estrada. No entanto,
fiquei algo apreensivo ao ver tantos “milhões” anunciados para a concretização
do projeto e quando “a esmola é grande o santo desconfia...
…Ainda hoje, a
noitada do dia 14 de agosto é considerada o ponto alto do programa profano, com
o despique das bandas de música e a finalizar um belo e estrondoso
piromusical.”
Manuel Neiva Losa tem 64 anos de idade é casado e tem 3 filhos. É
natural de Marinhas e residente em Esposende desde 1976. Cumpriu o serviço
militar em Moçambique, com o posto de Alferes Miliciano GE (Grupos Especiais)
na província de Tete, Mutarara e Necungas e na Beira, no Dondo, de 08 de março
de 1973 a 19 de janeiro de 1975. Licenciado em Administração Pública, Regional
e Local, Pós-Graduado em Gestão de Serviços de Saúde, em Bioética e em Gestão
de Proteção e Socorro e Mestrado em Prevenção de Riscos. Curso de Técnico
Superior de Segurança do Trabalho.
Habilitações
Profissionais
Certificado de Aptidão Profissional/Formador; Formador nas áreas de
Gestão da Qualidade em Saúde – Organização da Mudança e “Moniquor”- (qualidade
dos serviços de saúde). Mais de 400 horas de formação nas áreas da Saúde e
Proteção Civil. Exerceu a sua atividade profissional ao longo de 36 anos:
Centro de Saúde de Esposende e Barcelos – 20 anos; Centro Regional Segurança
Social do Porto e Braga – 4 anos; Sub-Região de Saúde de Braga/Administração
Regional de Saúde do Norte – 6 anos; Câmara Municipal de Esposende – Técnico Superior
- Coordenador do Serviço de Segurança e Proteção Civil – 6 anos e 4 meses (em
Mobilidade Interna). Técnico -Superior da Administração Regional de Saúde do
Norte – de 6 de janeiro a 30 de Março de 2015 (regressou ao serviço de origem
após o término da Mobilidade Interna na Câmara). Recebeu um louvor da Câmara
Municipal de Esposende-2015, Recebeu um louvor da Administração Regional de
Saúde do Norte-2015.
E atualmente o que é que faz?
Sou aposentado da função pública desde 01 de Abril de 2015. Exerço a atividade
de Técnico Superior de Segurança do Trabalho, em regime liberal, como prestador
de serviços.
Manuel
Losa foi Técnico Superior da Administração Regional de Saúde do Norte. Em
agosto de 2008 foi requisitado (mobilidade especial) para a Câmara Municipal de
Esposende para o serviço da Proteção Civil, tendo terminado o contrato em 31 de
dezembro de 2014. Descreva, sucintamente, quais as funções ou tarefas
desempenhadas durante esse período?
Durante 6 anos e 4 meses exerci a atividade como Coordenador do Serviço
Municipal de Segurança e Proteção Civil na Câmara Municipal de Esposende. A
proteção civil municipal é “a atividade” desenvolvida pela autarquia para
prevenir, proteger, socorrer e repor a normalidade face aos riscos
inventariados, garantindo a segurança de pessoas e bens em caso de acidentes
graves, catástrofes ou calamidades.
Não foi fácil chegar a um serviço, praticamente inexistente, e iniciar
o trabalho, sobretudo, quando temos de lidar com situações inopinadas e que
ninguém tinha experiência. Aliás iniciar um caminho, pegada após pegada, pois
“o caminho faz-se caminhando”, é tarefa árdua e só se consegue com muita
persistência, não só por ser necessário mudar atitudes e mentalidades, mas
sobretudo, mudar comportamentos; pois, logicamente, toda a mudança gera
resistência.
Como era natural e residente em Esposende tudo foi mais fácil, não só
por conhecer bem a área geográfica do concelho, mas também porque tinha feito a
minha dissertação de mestrado “risco de inundações no litoral de Esposende”.
Por isso, podia dizer que havia um caminho já percorrido e que facilitava o
percurso seguinte – a análise dos riscos. Pouco tempo depois iniciava-se um
projeto estruturante para a proteção civil municipal, ou seja, a elaboração do
plano municipal de emergência de proteção civil de Esposende. No serviço
municipal de proteção civil havia um plano existente um pouco embrionário e que
teria de ser revisto segundo as novas orientações da Proteção Civil Nacional.
Para além do referido plano também foi elaborada a carta de riscos. Ora, o
facto de haver um plano de emergência per
si não resolve os problemas, mas é um manual de procedimentos que ajuda o
serviço municipal a coordenar os vários agentes na prevenção e no socorro, pois
define com clareza todos os procedimentos a executar. Por outro lado este plano
municipal deve ser ajustado à realidade presente, daí ser um documento
dinâmico, prático e flexível devendo estar sempre atualizado. A lei prevê a sua
atualização periódica para estar sempre operacional em termos de consulta e
fornecimentos de dados.
As restantes tarefas eram desenvolvidas ao longo do ano conforme iam
surgindo, ora em termos de prevenção, ora em termos de socorro ou reposição da
normalidade. Nem sempre a programação anual ou o plano de atividades era
cumprido na íntegra devido a situações inopinadas, pois estas tinham sempre prioridade.
Costumava dizer muitas vezes que as cheias previnem-se no verão e os incêndios
apagam-se inverno, está claro, através da prevenção. Se no fim do verão
começarem a limpar as linhas de água, os ribeiros, aquedutos, e etc., tudo está
facilitado e provavelmente não haverá grandes cheias ou inundações, salvo se
houver condições atmosféricas muito adversas. Caso contrário, faltando a
prevenção tudo se complica. Foi uma aposta ganha durante a minha permanência no
serviço municipal e, atempadamente, começou-se a fazer a limpeza. Quem não se
lembra das inundações na EN 13 junto à rotunda da Zende? A prevenção faz-se por
antecipação para evitar que aconteça, eliminando a necessidade do socorro e a
reposição da normalidade. Dizia também que os incêndios apagam-se no inverno e
assim “ não se combatem” no verão, pois durante o inverno devemos eliminar “o
combustível” existente na floresta. Assim, sendo feita a limpeza dos montes
minimizamos a probabilidade de deflagrarem os incêndios ou minorar os seus
efeitos.
Mas para isso é preciso mudar de atitudes, mentalidades e
comportamentos das pessoas, logo proceder a uma informação e formação das
pessoas através da sensibilização para os riscos e perigos. Hoje, há mais
informação e, por vez, até exagerada, por não ser percetível por todos ou
demasiado alarmista. Muitas vezes havia “alertas” de risco e que, efetivamente,
não se verificavam, o que levava muitas pessoas no próximo alerta a descuidarem
ou minorá-lo, porque tal “alerta” de risco não aconteceu. Mas isso é o dever de
prevenção e precaução, alertar para a probabilidade de acontecer um fenómeno e
nem sempre acontece, mas ainda bem, mas a acontecer já estamos preparados.
As funções ou tarefas, genericamente, estavam relacionadas com a
prevenção e segurança de pessoas e bens em todo o concelho. Podemos dizer que
cada freguesia tinha os seus riscos ou perigos já identificados e assim era
mais fácil planear a prevenção e a hipotética resposta em caso de anormalidade.
Ao longo dos anos íamos fazendo “o trabalho de casa” para ser mais fácil e
assertivo o planeamento no ano seguinte.
É
possível fazer uma retrospetiva dos acontecimentos mais marcantes ou dignos de
registo destes seis anos e quatro meses?
Recordo-me dos primeiros golfinhos que arrojaram à costa de Esposende,
entre Belinho e Marinhas em avançado estado de decomposição em 2009. Só num ano
deram à costa entre Antas e Apúlia 22 Golfinhos com cerca de 1,50 a 2 metros de
comprimento, duas tartarugas com 1 metro, uma baleia em Cepães com 7,5 metros
de comprimento e cerca de 9 toneladas e a última em Apúlia com 18 metros de
comprimento e 28 toneladas. A baleia que deu à costa em Apúlia, ainda estava
com vida e apesar dos esforços dos veterinários da equipa de Quiaios (Animais
Selvagens) não resistiu aos ferimentos e morreu passado 5 horas. A remoção da
baleia foi muito demorada, não só devido a problemas burocráticos, mas também
porque envolveu muitos meios, terminando os trabalhos pelas 06 horas da manhã,
ou seja, um trabalho conjunto e contínuo de 12 horas. Foi uma experiência única
e totalmente desconhecida para todos os intervenientes. O único golfinho que
retiramos vivo das águas do mar em frente ao Ofir foi lançado no rio Cávado, em
frente ao Quartel dos B.V.Fão, daí que aquando da elaboração do plano de emergência
foi escolhido o golfinho para mascote.
As inundações de 9 de Outubro de 2010.
Conhecendo bem o fenómeno natural das cheias e inundações em teoria,
nada melhor do que assistir às cheias e inundações de 9 de Outubro de 2010. Uma
coisa é certa, da teoria à prática há o abismo. Passei doze horas a correr, de
lado para lado, para acorrer aos vários pedidos de socorro. Mas presenciar o
mar galgar as dunas (com mais de 500 metros) na praia de Rio de Moinhos, junto
ao ribeiro do Peralto era assustador. Em pouco mais de meia hora as dunas e o
ribeiro do Peralto desapareceram.
As inundações de 22 de outubro 2013.
Talvez por coincidência, ou talvez não, o problema mais preocupante no
dia-a-dia foram as cheias e inundações, precisamente, a minha área de estudo no
mestrado – risco de inundações no litoral de Esposende. Bem, uma coisa é o que
estudamos e os artigos ou livros que lemos na Universidade, outra coisa é
enfrentar a realidade no dia-a-dia. Podemos dizer, que são coisas muito
distintas, pois enquanto umas são situações descritivas que analisamos em
ambiente tranquilo e de partilha de opiniões, outras são as verdadeiras
situações de risco em que temos de pôr em prática os conhecimentos adquiridos,
agilizar os procedimentos e a tomada de decisão para uma atuação o mais célere
possível, de forma a fazer a prevenção do risco. Pois, geralmente, as cheias e
inundações estão associadas a outros fatores, tais como: ventos fortes com
rajadas, condições meteorológicas adversas, agitação marítima, segurança de
pessoas e bens, acidentes rodoviários, etc. Analisamos as cheias em dois tipos:
as cheias “lentas” em que haverá, provavelmente, tempo para fazer uma proteção
mais ou menos segura de pessoas e bens, de forma a minimizar o impacto das
águas, enquanto as cheias “repentinas ou rápidas” são de tal forma inopinadas
que será impossível tomar medidas atempadamente, pois acontecem quase sempre
sem “aviso” devido a algum contratempo ou fatores imprevistos. Podemos referir
aqui as cheias de 22/23 de Outubro de 2013 que causaram graves problemas na rua
Vasco da Gama e da parte norte da Cidade devido a chuva intensa e persistente,
fenómeno ocorrido num curto espaço de tempo, e que era impossível minimizar por
falta de condições, pois estávamos com condições meteorológicas adversas e em
situação de preia-mar com forte ondulação devido ao vento forte. Assim, nada
havia a fazer, a não ser esperar que a maré começasse a vazar e assim a água
espalhada pelas ruas, naturalmente, seguia para o rio. Podemos dizer, com toda
a certeza e sem preconceitos, que nestes casos temos de ter a frieza necessária
para acalmar os ânimos mais exaltados (e foram muitos os impropérios), esclarecer
e confortar as pessoas e aconselhá-las a saber esperar algum tempo para depois,
aí sim, trabalhar na reposição da normalidade. Nesse dia houve alguns momentos
de “impotência” para ajudar as pessoas e talvez de intolerância de algumas
pessoas perante a fúria das águas, mas ao amanhecer o dia já tudo caminhava
para a normalidade. As pessoas esquecem-se que nessa noite o concelho de
Esposende tinha sido fustigado com ventos fortes e persistentes e a chuva
abundante durante várias horas e não só a cidade de Esposende. Havia um inúmero
de pedidos de socorro em várias zonas do concelho e daí a necessidade de
hierarquizar as prioridades e agilizar a reposição da normalidade, mesmo que
provisória. Foi a situação mais difícil que enfrentei ao longo dos seis anos e
que para a qual não havia resposta no momento, apenas esperar calmamente para
repor a normalidade, logo que possível.
Nos
últimos anos apareceram no nosso concelho as denominadas “vespas asiáticas”
também conhecidas por “vespas assassinas”. Como foi lidar com esse problema?
Bem, começo por corrigir o nome de “vespa velutina”. Estas vespas,
inicialmente, apenas estavam localizadas no distrito de Viana do Castelo, daí
que não se falava nem imaginava que em agosto de 2012 surgisse o primeiro
ninho, com cerca de 1 metro, num eucalipto a mais de 20 metros de altura, em
Rio de Moinhos- Marinhas. Foi um apicultor local que fez a descoberta do ninho
e das vespas que lhe destruíam as suas abelhas. Era um caso novo e desconhecido
e daí contatei a proteção civil de Viana do Castelo para colher informações.
Reunimos alguns apicultores, porque estão habituados a lidar com as abelhas, e
cumprindo todo o ritual próprio para esse ato, planeamos proceder “ à queima”
do ninho. Tudo correu bem e analisamos o ninho em pormenor. Desde essa altura
foram sendo descobertos outros ninhos, porque a população já identificava um
ninho de vespas. Durante esse trabalho de eliminação de ninhos apenas tivemos
uma situação de risco em que foi necessário recorrer ao hospital com dois
intervenientes “picados” pelas vespas, apesar de protegidos com fato especial.
Houve uma variedade de situações e de casos extremamente complicados (ninhos
nos telhados e beiradas das casas, nos sótãos das casas, nas árvores, nos muros
e buracos das paredes, etc.), mas conseguimos reduzir o número de ninhos de ano
para ano. Houve também uma prevenção mais dinâmica com a colocação de
armadilhas nas colmeias e outras formas de eliminar as vespas (garrafas com
líquido açucarado). Foi um trabalho muito complicado, sempre em período
noturno, com dificuldades acrescidas e algo perigoso. Mas foi confortante ver o
número de ninhos a diminuir e os apicultores a colaborem connosco, nesta campanha
de combate à vespa velutina. Como em tudo, nem tudo corre bem, mas podemos
dizer que foi um êxito o trabalho realizado. Fomos a várias formações e
estivemos sempre em contato com as entidades oficiais para informar e receber
informações sobre a matéria. A necessidade obriga a ter engenho e arte e assim
conseguimos fazer um artefacto pirotécnico para queimar os ninhos à distância
através de um fio elétrico ligo a uma bateria. Apenas mais uma inovação!
Durante
a permanência no serviço municipal estava sempre muito ativo nas prevenções e
segurança de provas. Há necessidade de haver tanta prevenção?
A prevenção faz-se por precaução, não para que aconteçam as coisas, mas
para se acontecer algum incidente o socorro seja imediato. Porquê a prevenção
no campo de futebol, polícia, GNR e bombeiros ou CVP? Tal não significa que
haja necessidade de intervenção, mas caso seja necessário estão presentes. Daí
que no caso da prevenção a eventos é feito um plano de prevenção e são
analisados os riscos e perigos inerentes e só depois se mobilizam os meios.
Assim como num evento se contratam os artistas, também devem ser contratados os
meios de prevenção descritos no plano. Não se esqueça que está em causa “a sua”
segurança. Recordo um episódio caricato e inimaginável de referir no plano de
segurança da Galaicofolia 2014, mas aconteceu e podia ter sido uma tragédia se
acontecesse uma hora antes. Cerca da 1 hora da madrugada um cavalo galopou pela
estrada fora, desde a igreja de Vila-Chã até ao palco instalado dentro do
recinto da Galaicofolia. Felizmente nada aconteceu, mas podia ter sido uma
situação de risco elevado e quiçá de mortes ou feridos graves. Não era
previsível tal situação, mas aconteceu. O risco está sempre presente. A
prevenção é fazer as coisas por antecipação, antes que elas aconteçam “ mais
vale prevenir do que remediar”, diz o ditado popular. Devido ao atentado com um
camião, em França, já se alteraram alguns procedimentos em grandes eventos. Recentemente,
no caso da Feira Medieval em Santa Maria da Feira, que está a decorrer, a
polícia mandou colocar umas barreiras nas entradas da feira (uns blocos de
betão) por prevenção e precaução. Mais um caso recente registado na “Esposende
2000” em que uma criança passou o corrimão e caiu de uma altura considerável,
embora durante 18 anos nada aconteceu, mas chegou o dia fatídico, pois o perigo
estava lá.
Apenas mais uma curiosidade que se passou comigo aquando da aprovação
do plano de segurança do auditório Rodrigues Sampaio e que se reflete neste
caso supramencionado. Após a análise dos riscos chamei a atenção da
responsável, precisamente, para o espaçamento do corrimão nas escadas de acesso
ao primeiro andar e, de imediato, se procedeu à correção da anomalia. No melhor
pano cai a nódoa, por isso devemos estar prevenidos. Não pode haver
negligência.
Houve um
acidente, recentemente, durante o lançamento do fogo-de-artifício numa festa em
Marinhas. Qual a sua opinião sobre os riscos do fogo-de-artifício?
Bem. Não é por haver mais ou menos riscos que devemos acabar com o
lançamento do fogo-de-artifício nas festas, pois são tradições que não podemos
ignorar e devemos respeitar. Há, isso sim, muita sensibilização a fazer no
setor do fogo-de-artifício e daí responder também aos casos de incêndio causado
pelo mesmo. Não é proibindo totalmente o fogo-de-artifício, sem qualquer
critério ou mesmo invocando o princípio das tradições (como das touradas de
morte), mas encontrando um equilíbrio da decisão e analisando em que condições
se pode realizar. Costumo dizer, em tom de brincadeira, que o pirotécnico só se
engana duas vezes na vida “a primeira e a última”, porque geralmente morre após
a incidente. Como técnico de segurança “ATEX” julgo que deveríamos pensar em
simplificar os procedimentos, mas exigir mais responsabilidades aos
proprietários das pirotecnias e às comissões de festas. Consta que o indivíduo
atingido pelo fogo era “encartado”, mas isso não é bastante ou suficiente para
lançar o fogo. Teve alguma formação recente para este tipo de lançamento? Quem
deu a formação? Quais as capacidades do lançador? Há seguro de responsabilidade
civil? Não podemos continuar impunes por negligência ou omissão (formação). As
comissões de festas devem ser criteriosas na escolha e responsabilidade das pessoas
encartadas para o lançamento do fogo para evitar situações como a referida. As
empresas que procedem à emissão da carta de lançador de fogo deviam ser
obrigadas a fazer ações de formação (ou reciclagem) uma vez por ano aos
encartados. Também há situações do lançamento do fogo em locais de risco
elevado (próximo da floresta) embora cumprindo a distância em vigor, mas sem
qualquer meio de socorro no local para um eventual princípio de incêndio. Deve
haver prevenção com meios de combate a incêndios aquando da queima do fogo,
pois o risco é iminente e, por vezes,” o incendiário” espera pelo início de
queima do fogo para provocar um incêndio. Se eliminarmos os casos
negligenciados aquando do lançamento do fogo-de-artifício não haverá,
certamente, incidentes ou incêndios. Defendo que deverá haver prevenção
“máxima” para evitar os incêndios e cumprir, sempre, a legislação em vigor.
Felizmente, já se está a optar pelo fogo “de tubo”, em vez de cana.
A Câmara
Municipal de Esposende vai construir “um canal”, um intercetor das águas a
nascente de Esposende, entre a Solidal e a EN 13- em Cepães, para prevenir as
cheias e inundações em Esposende. Como técnico de prevenção de riscos dê a sua
opinião. Concorda com o projeto ou havia outras soluções?
Começo por revelar a minha satisfação aquando do conhecimento da
intenção de se investir na prevenção de cheias e inundações em Esposende. Houve
reconhecimento do Poder Central face aos acontecimentos verificados em 22 de
outubro de 2013, para o risco de inundações. É uma forma de fazer “mea culpa”
pelos erros negligenciados aquando da construção do IC1/A28 ao ignorarem as
consequências dos desvios das águas com a construção da estrada. No entanto,
fiquei algo apreensivo ao ver tantos “milhões” anunciados para a concretização
do projeto e quando “a esmola é grande o santo desconfia”.
Mas analisemos “o canal” em termos de segurança para a resolução
definitiva das cheias e inundações, em Esposende. Os riscos naturais ocorrem
sem a intervenção do Homem (cheias, inundações, tsunami, terramoto, etc.). No
entanto, é difícil considerar que estes fenómenos continuam a ocorrer de forma
independentemente da ação humana já que as causas e as consequências são
resultados dessa ação. Daí que as cheias e inundações verificadas, embora sendo
fenómenos naturais, foram causadas pela intervenção humana (anteriormente) que
não tomou as medidas preventivas necessárias para salvaguardar as consequências
futuras sobre os desvios das águas.
Antes de mais, as cheias são fenómenos naturais que podem acontecer
sempre que se verifiquem situações imponderáveis, ou haja condições
atmosféricas adversas e graves que provoquem o aumento significativo dos
caudais do rio Cávado, das linhas de água e dos ribeiros, obrigando o leito a
extravasar as suas margens. O caso de Esposende é agravado quando os períodos
de marés (sendo vivas) são coincidentes com as descargas das barragens. As
inundações verificam-se quando há saturação dos solos e devido ao deficiente
escoamento das águas acumuladas. Ora, assim podemos inferir que todas as cheias
provocam inundações, mas nem todas as inundações são provocadas pelas cheias.
A segunda questão colocada é saber se esta seria a única ou a melhor
solução para o problema. Evidentemente que haveria sempre mais opções, mais
duas ou três soluções para resolver o problema. Mas, atendendo ao Plano Diretor
Municipal (PDM) que prevê a construção da variante à EN 13, entre a Solidal e a
EN 13, em Cepães, julgo ser uma boa opção, até porque a própria construção
dessa estrada já condicionava a necessidade do “canal” para a drenagem das
águas de nascente. Esta solução é a mais sensata e integra-se no previsto no
PDM. Já quanto à largura de 5 metros parece-me ser um pouco exagerado, mas não
vi o estudo para analisar e posso estar errado.
Outra questão que se coloca é o projeto do canal, ainda em elaboração.
Aqui, segundo as informações do conhecimento público, parece que a solução
encontrada, no meu entendimento, não será a melhor em termos de segurança pelas
razões que passo a descrever: Há uma descarga para norte, para o ribeiro da
Redonda que vai fragilizar ainda mais uma frente marinha, já de si muito
ameaçada pela erosão costeira devido ao avanço do mar (previsão de 1 metro
neste século) e à destruição dunar. Mas, concordo e até porque há poucas
soluções, pois outra solução pensada seria muito dispendiosa, mas deve ser
ponderada a construção de uma “comporta” para controlar as descargas do ribeiro
e evitar a entrada do mar no ribeiro em situações de preia-mar. Certamente que
esta chamada de atenção será tida em conta pelos técnicos responsáveis pelo
projeto. Já quanto à descarga para o lado sul, a sul da rotunda da Solidal, nas
traseiras do Mira Rio e a poente da variante para Fão estou em desacordo
“parcial”. Sempre defendi, mesmo ainda quando estava no serviço municipal que
as águas que drenam para nascente da Solidal deveriam ser encaminhadas para o
rio Cávado num local o mais próximo da ponte de Fão. As razões são evidentes,
pois a rotunda da Solidal é uma área inundável e com o volume das águas que
serão desviadas no canal para sul, vão aumentar consideravelmente o risco de
inundações, pois quer o ribeiro da Vasco da Gama, quer o ribeiro junto do Merc
Atlas têm um caudal muito significativo. Ao fazer-se um canal aberto naquela
área é, à partida, facilitar as inundações nas zonas envolventes. Pretende-se
com a construção do canal eliminar as inundações e não “transferir”,
simplesmente, o local das inundações. A minha opinião, para eliminar os perigos
e os riscos nesse local, passaria por encaminhar o canal a nascente da variante
para a ponte de Fão até ao cruzamento de Gandra, e aqui recolher as águas da
rua de S. Martinho, e depois seguir para o rio Cávado. Assim, conseguimos eliminar
alguns locais perigosos (área envolvente do Mira Rio/Solidal) em picos de maré
e minimizar os riscos de inundações. Por outro lado, seria mais económico as
expropriações dos terrenos a nascente dessa variante. Mas há uma certeza: mais
do que conviver com o risco, torna-se necessário construir uma cultura do risco
que permita uma convivência não por negligência, mas ativa e empenhada. O
aforismo “Esposende privilégio da natureza” tem o reverso da medalha e daí que
Esposende terá sempre, inevitavelmente, uma “ameaça” de cheias e inundações,
ora de nascente (agora a eliminar), ora de poente devido à subida do nível do
mar (1 metro neste século) devido à sua situação geográfica. Esposende à beira
mar plantado!
Como última questão e não menos importante é a conservação do canal e
os custos que acarretará no futuro. Será a autarquia ou a União de freguesias a
suportar os custos? Mas quem é o dono da obra? Geralmente, só se pensa depois
e… depois logo se vê!
Segundo as informações do senhor Presidente da Câmara, numa reunião com
os proprietários dos terrenos, o canal seria semelhante ao existente na rotunda
de Apúlia. Por curiosidade minha, desloquei-me à referida rotunda e confirmei o
que já sabia, mas que pouca gente vê: o canal tem largura suficiente, é certo,
mas tem uns “tubos” com sensivelmente 40 centímetros de diâmetro nas
travessias. Assim não!... Será uma realidade “o canal” em 2017? Tenho muitas
dúvidas dado a escassez de tempo para as burocracias. Pois,” depressa e bem, há
pouco quem”. Tenho uma certeza que Esposende, com ou sem “canal” Esposende terá
de conviver com as cheias e inundações. Oxalá me engane!
Muito
recentemente foi feita uma intervenção na restinga de Ofir. A Agência
Portuguesa do Ambiente fez uma empreitada e colocou uns sacos de areia. Qual o
seu comentário sobre a solução encontrada para a erosão da restinga?
Bem. Não é fácil responder à sua pergunta porque não sou engenheiro nem
estou relacionado com “ a hidráulica”. Apenas vou dar a minha modesta opinião
em termos de riscos e segurança. As restingas são “partes móveis de areia” daí
que considero um “erro” tentar fixar a restinga, mas não há consensos nesta,
como noutras matérias. Por outro lado, temos a colocação de geocilindros (vulgo
saco têxtil) que já começaram a rasgar. Algumas das razões: a colocação de
sacos muito cheios o que transforma o saco “em bola” por isso qualquer fricção
provoca um rasgão; a colocação dos sacos “tipo muro” sem alicerces (na areia), o
que com a deslocação da areia e a forte ondulação provoca movimentação, fricção
e a destruição; as correntes de vazante e a forte ondulação transporta muitos
godos e lousas muito afiadas que provocam cortes dos sacos. Haverá outras
razões?! Nunca fui defensor da colocação dos geocilindros na restinga porque
não acreditava na eficácia dos mesmos, depois de ver uma construção de “um muro
de sacos BigBags de 1000 kg” com 120 metros de comprimento, em Ofir, e que
durou cerca de um mês. A força do mar é destruidora! As marés do início do ano
foram muito fortes e afetaram significativamente a restinga e,
consequentemente, a obra realizada.
A maior dificuldade em encontrar uma solução são as permanentes
mudanças de direção da ondulação que modificam a restinga, por isso já os
pescadores (mais antigos) diziam “a barra muda de cara todos os dias”. O estudo
efetuado por mim desde 2008 a 2015, de outubro a março, sobre a direção da
ondulação comprova isso mesmo.
Antes de começarem os trabalhos tinha lido vários estudos e propostas
preconizadas pelo Prof. Veloso Gomes para a restinga. Mas, no meu entendimento,
começou-se pelo fim, pois devia-se começar pelo arranjo do esporão do farolim
amentando 30/50 metros (na direção do canal das Polveiras) e aguardar algum
tempo para analisar as alterações no local e o comportamento da restinga. Deve
ser aberto um canal no molhe aderente (junto ao antigo Cais Bilhano) de forma a
permitir a saída da areia transportada pela ondulação e que fica retida a nascente
do referido molhe. Devido ao assoreamento do rio Cávado, ao reduzido caudal no
transporte de inertes para a foz a restinga ficou muito fragilizada e com a
forte ondulação do mar quase desapareceu. É urgente fazer uma dragagem do rio
Cávado desde a ponte de Fão para abrir um canal navegável e transportar a areia
para a foz. Desta forma estamos a alimentar a restinga e ao mesmo tempo estamos
a criar condições para espaço de armazenamento das águas evitando as cheias e
inundações. A solução para a restinga passa pela sua alimentação com a areia
retida a montante do molhe aderente e a existente no rio Cávado e a abertura do
canal para haver a movimentação da areia e não ficar aí depositada. Em suma,
não é fácil decidir, pois só há incertezas quanto aos resultados. Os “sacos”
podem ser, brevemente, uma ameaça para as embarcações, como aconteceu em Ofir.
Certamente
que quando deixou o serviço municipal de segurança e proteção civil não
concretizou todos os seus sonhos. O que gostava ainda de fazer?
Em primeiro lugar fazer a ativação do plano municipal de emergência de
proteção civil de Esposende, penso que ainda não foi feita, para testar todos
os setores e rever ou reajustar os procedimentos de forma a agilizar de uma
forma expedita e dinâmica o plano e aferir dos constrangimentos verificados
para a sua operacionalidade.
Em segundo lugar concretizar um sonho apresentado, aquando das eleições
em 2013, para a implementação de uma Escola de Segurança Rodoviária, no parque
da feira, destinado à formação escolar dos jovens do concelho e, em simultâneo,
para apoio e formação suplementar às pessoas mais idosas com carta de condução
e que necessitassem de uma reciclagem. A prevenção rodoviária deve começar, bem
cedo, nas Escolas.
Em terceiro lugar fazer “aquilo que ainda não foi feito” e há tanto a
fazer!
O
concelho de Esposende tem um plano municipal de emergência aprovado. Isso
significa que podemos estar mais descansados em termos de segurança?
Podemos afirmar que sim, em parte, pois temos um documento que reúne
todos os procedimentos necessários para atuação dos diferentes agentes da
proteção civil, a nível de disponibilidade de meios existentes, a
hierarquização e coordenação dos meios e as normas regulamentares previstas pela
Autoridade Nacional da Proteção Civil para a situação de ativação do referido
plano. Por outro lado, é necessária a colaboração de todos os cidadãos neste
processo em caso de acidente grave ou catástrofe, desde a prevenção ao socorro
até à reposição da normalidade. Pois, “a proteção somos nós”.
Para além do plano municipal (geral) há mais três planos especiais, a
saber: o plano da zona histórica de Esposende (Z.H.E), o plano da zona
histórica de Fâo (Z.H.F) e o plano da zona industrial de Esposende (Z.I.E.).
Pode
resumir, sinteticamente, todo o seu trabalho durante esses 6 anos e 4 meses no
serviço?
O que fica depois do trabalho feito são as obras, essas permanecem, as
palavras leva-as o vento. Tenho o sentimento do “dever cumprido” e gratidão
das pessoas que colaboraram comigo neste projeto. Os frutos dessa amizade e
colaboração estão, agora, a dar frutos. Pois quem “semeia ventos, colherá
tempestades”. Porém, eu procurei estar ao serviço das pessoas do meu concelho,
pois o meu lema era - saber ser e saber estar- para servir as pessoas do meu
concelho.
Hoje, as pessoas reconhecem o trabalho realizado durante esse tempo, o
que me enche de orgulho e fico, eternamente, grato a quem confiou em mim. Por
isso, quero aproveitar esta oportunidade para dizer um muito obrigado a todos
os que colaboraram comigo, todos fizeram falta, cada um e em cada momento,
foram indispensáveis. Obrigado.
Porque
estamos a iniciar as festividades em honra da Senhora da Saúde e Soledade
gostaria de ouvir algumas palavras sobre estas festividades. Foi entusiasta
colaborador das Festas da Senhora da Saúde e Soledade. Conte-nos algo sobre o
passado dessas festas.
Fui colaborador muitos anos das Comissões da Festa da Senhora da Saúde
e Soledade, inclusive gozava parte do período de férias a trabalhar no programa
das festas. Foram muitos anos a trabalhar com muita alegria, quer na parte
profana, quer na parte religiosa e eram as pessoas que diziam “não deixem
acabar a nossa festinha”. Recordo com saudade alguns elementos das Comissões de
Festa que já partiram para a eternidade e que trabalharam afincadamente para se
fazerem várias atividades que engrandeciam as festividades, tais como: os
vários concursos de saltos, o I festival hípico (no campo de lavradio, hoje rua
Vasco da Gama) que trouxe a Esposende os melhores cavaleiros (entre os quais
também estiveram O Sabino, o Coronel Bívar, O José Cid, o Tenente Mariz, a
Cavalaria da GNR do Porto, etc.). As regatas no rio Cávado com os nossos
pescadores, quem não se lembra? Mas o mais inovador nas nossas festas foi o
fogo-de-artifício “piromusical” que trouxe um brilho especial à noitada do dia
14 de agosto. Ainda hoje, a noitada do dia 14 é considerada o ponto alto do
programa profano, com o despique das bandas de música e a finalizar um belo e
estrondoso piromusical. Sabemos que há algumas pessoas (ainda hoje) que não
gostam do fogo-de-artifício, talvez porque sofram de “pirofobia” ou outra
razão, mas não devemos esquecer dos milhares de pessoas que adoram ver uma
sessão de fogo “piromusical”. Atualmente vem muita gente às festividades, nos
dias 14 e 19 de agosto, só para apreciar o fogo-de-artifício. Foi uma aposta
ganha em termos de cartaz das festas.
Como
eram divulgadas as festividades?
As festividades eram divulgadas através dum cartaz grande que era colocado
nas montras dos estabelecimentos. Depois eram distribuídos uns desdobráveis
(flayers) com o programa completo das festas. Mais tarde, também começamos a
fazer uma publicação (designado um livro) do programa das festividades com a
publicidade dos vários patrocinadores, eram outros tempos, é certo, mas
faziam-se as coisas com muito trabalho e muito gosto. Nesse tempo, dizia o povo
“não deixeis acabar as tradições dos nossos antepassados”, pois não se devem
deixar “acabar as tradições, nem aumentar”, mas simplesmente manter as mesmas e,
se possível, melhorá-las. Lembro-me de uma tradição muito antiga dos donos das
motoras recolherem o dinheiro do pescado para fazerem o donativo (bênção do
mar) para as festas da Senhora da Saúde. Bons tempos! Hoje, já não há motoras
como nesses longínquos anos de 70 ou 80.Quem não se lembra dos sermões na
ribeira com a bênção do mar? Recordo-me, ainda hoje com saudade, de receber
vários telefonemas de excursionistas a perguntarem-me a que hora era o sermão
na ribeira. Era um momento “alto” das festividades e que por vezes deixava
muitas pessoas emocionadas, em lágrimas, ao recordem os seus entes queridos que
perderam a vida na água salgada do mar na faina diária ao buscarem o sustento
para os seus filhos. Muitas vezes o pregador aludindo ao mar referia o poema do
poeta Fernando Pessoa “ó mar salgado, quanto do teu sal, são lágrimas de
Portugal ”. E no final do sermão as girândolas estalejavam no ar fruto do
contributo dos homens do mar, era assim a tradição nesse tempo. Hoje, por
razões de segurança, tal tradição não é possível junto ao rio, mas cumpre-se na
mesma no final da procissão, junto ao souto da Senhora da Saúde.
Ainda se
mantêm as tradições vividas na Festa da Senhora da Saúde e Soledade ou estão em
decadência?
Compreendo, perfeitamente, que havia algumas tradições que deveriam
mudar ou adaptarem-se à realidade atual, algo menos intransigente e indo de
encontro aos direitos das pessoas, recordo por exemplo a alvorada com
morteiros, logo ao amanhecer. O que os nossos antepassados tinham, algumas
festas ainda mantêm, como orgulho das comissões anunciarem as festividades com
a “alvorada” vai caindo em desuso esta tradição e, efetivamente, não se
justifica nos tempos de hoje. Pois, era uma forma de anunciar a festa ou romaria.
Da mesma forma o fogo-de-artifício “de cana pum-pum-pum” também estar a perder
adeptos e a ser substituído pelo fogo de “ tubo” que é mais seguro e mais fácil
de controlar. Assim, é possível manter as tradições mas evoluindo, agradando a
todos. Contudo, haverá sempre alguém que não goste do fogo-de-artifício, mas
paciência, não se pode agradar a todos.
Lendo a
história das festas em honra da Senhora da Saúde e Soledade (centenária) de
Esposende verificamos que havia uma certa “rivalidade” com a Senhora da Saúde, do
lugar de Outeiro - Marinhas.
No caso das festividades da Senhora da Saúde e Soledade houve, de
alguns anos a esta parte, algumas alterações ou mudanças que não foram bem
aceites e deixaram “mazelas” insanáveis em algumas famílias. Há tradições que
tinham 100 anos, basta lembrar a história da doação da imagem da Senhora da
Saúde por uma família de Marinhas, e que de repente (sem justificação aparente)
não foram cumpridas. No meu modesto entendimento julgo que deveriam, na altura
devida, ter falado com as famílias envolvidas nessas tradições para evitar
estas quezílias. As mudanças provocam sempre algumas resistências e neste caso
em concreto foi mais evidente, dado que essas famílias sempre cumpriram com as
suas tradições e estiveram sempre presentes nas festividades e, inclusive,
deslocavam-se do estrangeiro, propositadamente, para o efeito. No nosso tempo
nunca faltaram aos seus compromissos. Ainda há tempo de tentar curar as
feridas, para que ano após ano, no dia 15 de agosto, não haja mais uma recidiva
e as feridas continuem a sangrar. Pois, há mágoa entranhada e será difícil
esquecer os seus antepassados nesse dia. É compreensível!
Também
sabemos que algumas alterações às tradições não foram bem aceites pelos
moradores da parte sul da Cidade.
Efetivamente, houve outras alterações que mereceram algum repúdio ou
contestação de algumas pessoas. Refiro-me concretamente à procissão de velas no
dia 13 de agosto, às novenas da Senhora da Saúde e à procissão do dia 15 de
agosto, à parte sul da Cidade. Apenas um comentário construtivo e muito pessoal
a essas questões: Quanto à procissão de velas no dia 13 de agosto sempre esteve
no programa, pois era uma tradição nesta Vila e era a forma de levar as
pessoas, em procissão, para o adro da Senhora da Saúde e depois assistirem a
atuação de variedades constantes do programa. Juntava-se o programa religioso ao
programa profano. Sempre foi intenção das Comissões de Festa realizar as
festividades de 13 a 15 de agosto no souto da Senhora da Saúde. Até quando?
Quanto às novenas (durante 9 dias) na Capela da Senhora da Saúde também
fazia parte da tradição secular e sempre foi respeitada. As alterações feitas
não afetam ninguém, penso eu, e será apenas uma maneira diferente da habitual
de honrar a Senhora da Saúde e Soledade. O que interessa é manter bem viva a
tradição de realizar as festividades da Senhora da Saúde e Soledade honrando
Maria, nossa Mãe e Padroeira, e cumprindo os anseios dos nossos antecessores.
Da minha parte, sempre que posso e faço por isso, estarei sempre presente nas
novenas, no terço ou nas missas, durante esses dias que antecedem as
festividades.
Já quanto à procissão à parte sul da Cidade não quero fazer qualquer
comentário, pois foi precisamente no meu último ano como colaborador da
Comissão de Festas que, por motivos imperativos que desconheço, que terminou
essa tradição. Reconheço a revolta das pessoas do sul, mas… só a procissão da
Senhora da Saúde é que deixou de ser tradição? As outras tradições continuam? Sinto,
ainda hoje, alguma tristeza por não se cumprir essa tradição com 100 anos de
história. Mas… que continue a haver a festa da Senhora da Saúde e Soledade.
Hoje, as
Festas da Senhora da Saúde e Soledade são integradas nas Festas da Cidade de
Esposende? Que comentários?
Bem, não podemos dizer que é mesmo assim. Durante alguns anos a
Comissão de Festas da Senhora da Saúde e Soledade tentou negociar com a Câmara
Municipal de Esposende fazer um protocolo de forma a haver uma integração das
Festas da Cidade, tendo como exemplo, as festas de S. João em Braga, as festas
das Cruzes em Barcelos, as festas da Senhora da Agonia, em Viana, ou as festas
das Feiras Novas em Ponte de Lima, etc. Porém, nunca se chegou a esse acordo e
a fazer-se o referido protocolo. Sempre defendi a necessidade desse projeto comum,
pois as festividades ganhavam em dimensão e minimizavam os custos. Por várias
razões o problema foi, sempre, adiado. Presentemente, desconheço os acordos
feitos, mas segundo algumas informações continua a não haver um protocolo, mas
uma “miscelânea” que se mantém até próximo das festas. Isto é preocupante para
as comissões, porque os contratos não se fazem a um mês das festividades.
Geralmente, as festas são contratadas com quase um ano de antecedência e só
assim se pode escolher, quer as Bandas de Música ou conjuntos, quer o arraial
ou diversões. Para quem conhece os meandros da organização das festividades
sabe bem disso e não pode esperar até um mês da festa para decidir. Continuo
a defender a necessidade de haver um protocolo, semelhante às outras
autarquias, e que as comissões ou responsáveis sejam nomeadas para haver um
verdadeiro programa integrado e devidamente planeado de forma a criar uma
imagem das festas concelhias. Quer queiramos, quer não, as festas da Senhora da
Saúde e Soledade serão, sempre, parte integrante das Festas da Cidade. Haja
vontade de unir esforços, de ambos os lados, e teremos um projeto credível, em
que cada uma das partes terá a sua responsabilidade – a religiosa e a profana.
A continuar assim, indefinidamente, não teremos um cartaz das Festas da Cidade
de Esposende. É tempo de pensar, seriamente, sobre o assunto.
Sei que
já não faz parte dos elementos da Comissão de Festas há alguns anos. Mesmo
assim, como vê as Comissões?
Bem, tudo tem o tempo certo, quer para entrar, quer para sair, como na
vida. Por motivos profissionais e falta de tempo e de saúde abandonei as
comissões, mas continuo a colaborar com a festa e não quero que ela acabe. Ser
elemento da comissão, também designado como “festeiro” obriga a ter muita
disponibilidade de tempo e muita vontade para cumprir a sua missão. Porém há,
por vezes, pessoas que aparecem e abandonam, no ano seguinte, as comissões
porque não é fácil a tarefa. Pessoalmente defendo que as comissões de festas,
de índole religiosa, devem integrar apenas elementos que se identifiquem com
essa matriz de honrar os santos padroeiros. Aproveito a oportunidade para
louvar todas as Comissões de Festas que continuam a proporcionar aos
forasteiros momentos de convívio e lazer e ao mesmo tempo cumprem uma tradição
secular honrando a Senhora da Saúde e Soledade. Para todos, o meu bem-haja.
Agradeço ao amigo Mário Fernandes a oportunidade que me concedeu de dar
o meu testemunho sobre as festas da Senhora da Saúde e Soledade.
NOTA FINAL
Manuel Losa é um homem que conheço muito bem, desde há muitos anos.
Enquanto autarca de freguesia trabalhei com Manuel Losa em inúmeras situações,
incluindo no Conselho Municipal de Segurança. Esta foi uma entrevista mais
técnica que o habitual, com a qual pretendi trazer a público a opinião de um
especialista, sobre vários temas da atualidade local, como; As obras da barra,
o canal que pretende desviar as águas da cidade, a proteção civil, os ninhos
das vespas velutinas e as próprias festas da cidade.
Mário Fernandes
06-07-2016
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