JORGE BRAGA POETA
E ARTISTA ESPOSENDENSE ACABA DE ARRECADAR A MEDALHA DE BRONZE NUMA EXPOSIÇÃO NO
“CARROUCEL DU LOUVRE” EM PARIS
Jorge
Ferreira Pires Braga nasceu no dia 23 de Junho de 1965. É natural de Vila-Chã,
mas vive em Esposende, onde casou com Rosália Pereira. Tem dois filhos. O
Ricardo [já aqui entrevistado há cerca de 4 meses, aquando da publicação do seu
primeiro livro de poesia].
Fez a
escola básica em Vila-Chã, o ciclo em Esposende e o secundário na Escola
Henrique Medina e a formação universitária na Universidade Lusíada em
Famalicão.
Pelo meio
ainda cumpriu o serviço militar. Já se dedicou à indústria de transformação de
granito e atualmente é formador e técnico oficial de contas, com gabinete de apoio
e consultoria às empresas.
Escritor, poeta
e escultor, são algumas das formas como publicamente é reconhecido, o que lhe
tem granjeado a simpatia dos esposendenses e a atenção de galerias e ateliers de arte. Expôs em Vila Nova de
Gaia, numa das bienais mais importantes do país e aí ganhou um convite para
expor no “Louvre” em Paris, onde, segundo afirma, para sua grande surpresa
acabou premiado.
Esta
entrevista está estruturada por temas, para responder a várias questões: O
homem, as suas raízes e os seus gostos, o seu percurso escolar, o poeta, o
artista e a sua obra.
GOSTOS PESSOAIS
“Gosto de conviver com pessoas, de viajar e conhecer pessoas e locais.
Gosto muito de aprender coisas novas e estudá-las. Tenho um gosto especial por
paisagens urbanas.”
EM QUE OCUPAS OS TEMPOS LIVRES?
“O pouco que tenho dedico-o a estar presente em
eventos de amigos e a apoiá-los. A organizar eventos que promovam e divulguem a
arte, nomeadamente a poesia; estar com a família, a jogar futebol com os amigos
e a visitar e estar com a minha mãe em Vila Chã. Também gosto muito de fazer
trabalhos manuais tais como livros manuscritos, moldes em gesso etc.”
QUANDO COMEÇAS-TE A ESCREVER?
“ Comecei a escrever muito novo, lembro-me das
primeiras quadras quando tinha cerca de 10 ou 11 anos. Normalmente eram
dedicadas a elementos da natureza tais como a chuva, os pássaros, as flores e
os rios. ”
QUAL FOI O TEU PRIMEIRO LIVRO?
“O meu primeiro livro foi o Elos. Teve o
apadrinhamento de um amigo e conterrâneo, o Dr. Manuel Albino Penteado Neiva,
que foi o maior impulsionador na publicação dos meus escritos. Publiquei pela
primeira vez em 1991.”
QUAL O GÉNERO DE ESCRITA QUE MAIS TE CATIVA?
“O meu género de escrita preferido é a poesia. Embora
escreva e já tenha publicado crónica literária. Tanto num estilo como no outro,
cultivo o texto curto e a mensagem forte, e é neste registo que me quero manter”
O QUE GOSTAS DE LER?
“Leio muita poesia, naturalmente, mas também gosto
muito de ler literatura infantil e infanto-juvenil. Normalmente não leio livros
com muitas páginas. Talvez isso tenha a ver com a minha personalidade e a minha
forma de estar na vida.”
QUAIS SÃO OS TEUS HOBBYS?
”Os meus hobbys são desenvolvidos nos meus tempos livres e como tal serão
as atividades já referidas, como fazer trabalhos manuais, criar pequenos objetos
etc.”
QUANTOS LIVROS JÁ PUBLICASTE? QUAIS?
“Já publiquei seis livros.
Cinco de poesia e um de crónicas. De poesia são o Elos; Paradoxia; Galarim;
Plectro Inato e Amenas Tempestades. De crónicas publiquei o Excitações da
Razão.”
QUAL FOI O LIVRO
QUE MAIS PRAZER TE DEU ESCREVER?
”Foi o primeiro. Talvez me tenha dado mais prazer pelo facto de ninguém
saber que eu escrevia e naquela altura publicar era muito difícil e muito caro.
Também nos primeiros textos ainda não tinha as temáticas “esgotadas” e tudo era
tema novo para mim. ”
E O QUE OBTEVE MAIOR SUCESSO?
“É difícil de medir o sucesso de um livro. Se o parâmetro for as vendas,
foi o de crónicas Excitações da Razão; mas se mudarmos o parâmetro e avaliarmos
o feedback dos leitores e a quantidade de utilização dos textos em eventos e noutros
contextos, foi sem dúvida o último, o Amenas Tempestades. ”
JÁ RECEBESTE INUMEROS PRÉMIOS E
CONDECORAÇÕES. QUAIS FORAM OS MAIS IMPORTANTES?
“Todos foram importantes. Os melhores prémios que recebi foram o carinho
e a presença da família e amigos sempre que eu precisei. Quanto ao
reconhecimento público, começou na escola enquanto estudante em que concorri
aos jogos florais com três poemas e arrecadei o primeiro, segundo e terceiro
prémio. Esse foi o momento impulsionador para publicar; a partir daí foi fazer
percurso. Há momentos que eu considero como “dádiva” e não prémio. Por exemplo
o facto de ter sido selecionado para expor na I Bienal de Gaia, ao lado de
grandes vultos das artes plásticas, foi fantástico. Depois ser convidado para
expor no Carroussel du Louvre em Paris foi outro acontecimento muito bom; e aí
ganhar a medalha de bronze na categoria de escultura foi maravilhoso. É muito
bom saber que as pessoas gostam dos trabalhos que fazemos, independentemente
dos prémios que ganhamos. ”
SE TIVESSES QUE DIZER O QUE É PARA TI
UM LIVRO, O QUE É QUE DIRIAS?
”Pergunta difícil. Para mim um livro é aquilo que ele é capaz de produzir
em mim, tanto ao nível do conhecimento, como das sensações.”
E TU COMO É QUE TE DEFINES A TI PRÓPRIO?
ESCCRITOR, POETA OU ESCULTOR?
”Um cidadão do mundo. Tudo isso e mais aquilo que me
possa tornar útil na comunidade, numa visão mais restrita, e na sociedade numa
visão mais abrangente.”
ESPOSENDE TEM ASSISTIDO A UMA GRANDE
ATIVIDADE LITERÁRIA. NÃO FALTAM AUTORES A PUBLICAR E TEM HAVIDO APRESENTAÇÃO DE
LIVROS COM GRANDE REGULARIDADE. A QUE ACHAS QUE SE DEVE ISSO?
”Deve-se a vários fatores. Uns de ordem social, outros de ordem política
e outros de ordem tecnológica.
A nível social, é já bem aceite a exposição pública de opiniões, de
emoções e pensamentos.
A nível político, o concelho tem vindo a apostar mais neste tipo de
cultura. E muitas vezes esse investimento passa por pequenos/grandes “gestos”,
tais como facilitar o uso dos espaços e equipamentos públicos para os eventos e
para as apresentações, e/ou a presença das entidades nas cerimónias.
A nível tecnológico, é indiscutível que hoje é muito mais fácil e mais
barato publicar do que há vinte e cinco anos. O livro pode ser todo preparado
pelo autor no seu computador pessoal e enviado para a editora ou tipografia que
o terá pronto para apresentação ao fim de meia dúzia de dias.
Todos esses fatores aliados à entreajuda entre os autores facilitam a
publicação. ”
ACHAS QUE O APOIO DO MUNICIPIO DE ESPOSENDE À
CULTURA TEM SIDO SUFICIENTE?
”É o que é. Nunca será suficiente, mas já foi muito menor. Depende do
tipo de cultura que falamos ou do tipo de apoio.
Prefiro pensar que o apoio nunca irá chegar, porque as necessidades vão
aumentando, os criadores e produtores de cultura vão trabalhando cada vez mais;
mas que o apoio vá sendo cada vez maior a todos os níveis.”
E O APOIO AOS JOVENS AUTORES?
”O apoio aos jovens autores deve ser muito bem pensado. Estamos a falar
de autores de tenra idade, em que a sua formação como pessoa e ser humano está
a ser construída a par do desenvolvimento dos seus talentos e da sua formação
artística. A sua dependência de apoio é muito maior do que num adulto. No meu
ponto de vista, não se deve criar no jovem autor a sensação de dependência, mas
de conquista.
Muitas vezes estar presente, criar um gabinete de apoio aos
jovens criadores,
aconselha-los ajudando-os a tratarem dos seus trabalhos e das suas publicações
é o melhor apoio. ”
HÁ MUITO QUE VENHO A SUGERIR A CRIAÇÃO DE UM
“PRÉMIO LITERÁRIO MUNICIPAL”. JÁ FOI PROMETIDO MAS PARECE TARDAR EM SER
APLICADO. ACHAS QUE É IMPORTANTE CRIAR ESTA DISTINÇÃO PARA AUTTORES CONCELHIOS?
”Tudo o que motivar é importante. De certeza que há autores que se sentirão
motivados para produzir sendo premiados. Mas há muitos que podem avaliar mal os
seus trabalhos, ou serem mal avaliados e ao não serem contemplados com um
prémio ficam desmotivados e deixam de produzir. Muitas vezes perdem-se assim
grandes talentos.
Os prémios são sempre muito bons quando se ganha. Eu iria mais para a publicação
de uma antologia em que se
pudesse abranger um universo maior de autores. Até porque é uma forma de
publicar quem muitas vezes não tem possibilidade de o fazer. Nem financeira,
nem editoriamentel.”
COM A POVALÊNCIA QUE TE É RECONHECIDA, TANTO
NO MUNDO DAS LETRAS COMO DAS ARTES, COMO TE SENTISTE NA APRESENTAÇÃO DO 1º
LIVRO DE POESIA DO TEU FILHO RICARDO?
”Primeiro como pai, e depois como autor, é naturalmente um orgulho.
O Ricardo é muito talentoso e
revelou-se muito cedo. Fez o percurso dele, afirmando-se, no meio escolar
destacando-se com os seus trabalhos, sem qualquer “colagem” ao pai.
Eu já tinha passado pelo processo de publicação, e naturalmente, mostrei os
seus trabalhos ao editor, que depois de os ler, e ao saber a idade do Ricardo
(15 anos), disse logo que o queria publicar. Espero que haja continuidade, mas
o caminho é ele que tem de o percorrer. ”
ACHAS QUE TENS SIDO INSPIRADOR E QUE O
RICARDO É TEU FÂ?
”Ele diz que sim. Ainda bem. Mas ninguém deve beber só de uma fonte, e o
Ricardo tem outras fontes que na minha opinião são de bom gosto. Claro que uma
das coisas que o influência, assim como a mim, é frequentar tertúlias e
eventos, ter livros de bons autores à disposição para ler. Mas a desculpa de
não ter não serve, porque temos muito boas bibliotecas no concelho, onde
podemos recorrer. Às vezes falta o bom aconselhamento e muitas vezes esse
aconselhamento não é dado porque não é solicitado. ”
COMO VÊS O APARECIMENTO
DE NOVOS VALORES NO NOSSO CONCELHO? ESTOU A LEMBRAR-ME DA SUSANA INÊS, DO ILDA
DANIELA E DE VÁRIOS OUTROS.
”É ótimo. Sou amigo de ambas e incentivei a Susana Inês na publicação do
seu primeiro livro. Foi ela que teve a humildade de me pedir ajuda e que lhe
fizesse o prefácio. Ajudei com todo o gosto. Também eu ainda hoje peço ajuda a
pessoas mais experientes; refiro-me por exemplo área da escultura.
É sempre bom que apareçam novos valores. Depois é como a semente que se
lança à terra, nem toda dá fruto. ”
BEM, VAMOS AGORA FALAR UM POUCO DA NOSSA
TERRA. O QUE PENSAS DA CIDADE E DO CONCELHO DE ESPOSENDE?
”É a melhor terra que conheço para morar. Por isso é que sempre vivi
aqui. É muito bom viajar e depois regressar a Esposende. Como eu escrevi no verão
passado e se fez uma faixa “Esposende é lindo de viver”.
E DO ATUAL MOMENTO POLITICO EM PORTUGAL?
”Esta é a pergunta mais difícil. Politica não é mesmo
a minha praia. As pessoas vão ter o bom senso de olhar pelo nosso país, e o
povo sabe muito bem diferenciar o que é bom do que é mau. Cada um pensa que
está a fazer o melhor que sabe; muitas vezes não sabem mais...“
E O TRABALHO DO MINISTÉRIO DA CULTURA?
“O ministério da cultura ainda é recém-nascido, mas
toda a anterior política da cultura, nunca se conseguiu descolar do ministério
das finanças, e quando assim é, não se pode fazer muito. Mesmo assim, a cultura
está cada vez mais acessível para quem a procurar. Há muito boas coisas de
“borla”, as pessoas também não as procuram.”
E DESTA VAGA DE REFUGIADOS?
“É um drama global, mas tenho a certeza que é muito
mais complexo do que parece à primeira vista. Drama ou estratégia? As pessoas
que estão nos cargos competentes devem tentar resolver da melhor forma e sem
prejudicar os residentes, criando-lhe o sentimento de injustiça.”
UM SONHO?
“Voar. OK! Pode ser em sonho! E que o mundo seja mais
justo. Ups...já são dois! ”
COM UM PERCURSO LITTERÁRIO SÓLIDO E RECHEADO
DE PRÉMIOS E CONDECORAÇÕES, ONDE ESPERAS CHEGAR?
“Onde a imaginação me levar. Sinceramente, gostaria de
ter liberdade e despreocupação para poder criar. Ideias não faltam, mas a
prioridade de garantir o sustento e a segurança da família, é um fator
limitador.”
O QUE É QUE SENTES QUE AINDA TE FALTA FAZER?
“Quase tudo. Escrever mais livros, plantar mais
árvores, e... filhos já chega; a vida não está fácil.
Quero evoluir, sustentadamente em cada área que estou.
Tanto na literatura como na escultura. Trabalhando…!”
A TERMINAR QUERIA QUE DEIXASSES AQUI AQUILO
QUE SENTIS-TE HÁ DIAS EM PARIS QUANDO OUVISTO CHAMAR O TEU NOME PARA RECEBERES
A MEDALHA DE BRONZE NUMA MOSTRA TÃO IMPORTANTE E NUM DOS MAIS CONSAGRADOS
MUSEUS DO MUNDO?
“Eu não sabia que estava a ser avaliado e
sinceramente, pensei que seria uma medalha de presença. Estava muita gente, mas
como pararam de entregar e o galerista que me representou veio dar-me os
parabéns e mais pessoas cumprimentavam-me e davam os parabéns é que eu comecei
a ter noção da importância do que me tinha acontecido. Depois foi um crescer de
emoções à medida que ia tomando consciência da importância que aquela medalha
tinha. Foi ótimo não só pela distinção, mas por ser no evento que foi. Comigo
carreguei uma obra, uma terra (Esposende) e um país. ”
NOTA FINAL
Conheço o
meu caro e bom amigo, Jorge Braga, desde longa data, porque ambos nascemos em
Vila-Chã e aí brincamos, estudamos e crescemos. No ano de 2007, portanto há 8
anos, no âmbito das comemorações do Dia Mundial da Árvore e da Poesia, convidei
o Jorge a fazer uma exposição na Freguesia de Curvos. Intitulou-se EXPOÉTICA,
realizou-se no dia 21 de março de 2007 e terá sido a primeira de muitas outras
a que o Jorge entretanto foi dando sequência e que ainda hoje vai mantendo. São
uns eventos interessantíssimos que contemplam a apresentação de um filme. O
primeiro intitulado "à conquista do Mundo - verso in verso", projeto
que visa a valorização do homem enquanto ser interativo com o próprio homem e
outros poderes e valores. Depois de ler cada poema o leitor é desafiado a
recriá-lo através da ilustração que lhe está associada e a alargar os
horizontes da sua imaginação, criando o seu próprio imaginário. Estes eventos,
compostos por exposições e poesia, ultimamente tem sido realizados na Casa da
Juventude em Esposende, onde sempre tenho feito questão de estar presente. Também
tenho acompanhado algumas sessões de Fado e Poesia que o meu amigo Jorge tem
levado a várias localidades e que tem sido um sucesso.
Estamos
portante diante de um homem que se tem destacado em várias áreas, desde a
poesia à escultura e às artes na sua globalidade.
Foi um
prazer, tal como sempre, conversar com este amigo e poder trazer aqui os seus
mais recentes feitos. Um abraço, bem forte e o desejo de que continues a
alcançar os maiores sucessos.
Mário
Fernandes
13-11-2015MF
Sem comentários:
Enviar um comentário